“À Sombra de Duas Mulheres” (L’Ombre des Femmes) será narrado pelo ator Louis Garrel (Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci). O drama francês tem direção de Philippe Garrel e tem previsão de estreia em 26 de abril nos cinemas do Brasil. O longa-metragem participou dos Festivais em Cannes (2015), Toronto (2015) e Vancouver (2015).

Sinopse

Pierre e Manon produzem documentários de baixo orçamento e vivem de pequenos bicos. Quando Pierre conhece uma jovem estagiária, Elisabeth, ela se torna sua amante. Mas Pierre não quer deixar Manon – ele quer continuar com as duas mulheres. Elisabeth descobre que Manon tem um amante e conta a Pierre. Pierre volta para Manon, a mulher que ele ama de verdade. Sentindo-se traído, ele implora por seu amor, deixando Elisabeth de lado.

Confira uma entrevista com Philippe Garrel, por Jean-Michel Frodon

Jean-Michel Frodon: “À Sombra de duas Mulheres” é um filme mais roteirizado do que seus filmes anteriores?
Philippe Garrel: Sim. Após um período – já faz algum tempo – fazendo filmes improvisados, descobri que poderia ser bom ter um roteiro, principalmente por questões de organização e para conseguir captar recursos. Esta é a primeira vez em que estou contente de ter um roteiro e que, ao meu ver, em termos de eficiência, está sendo tão bom quanto na época da improvisação. Não é prático apenas sob o ponto de vista econômico ou como uma solução menos pior, mas também como uma verdadeira contribuição para o filme. Foi um pouco o caso de Liberté, la Nuit, mas, desta vez, consegui algo novo, para mim, pelo menos. A criação de um suspense psicológico foi mais eficiente graças à escrita.

Jean-Michel Frodon: Este processo de escrita foi diferente dos seus roteiros anteriores?
Philippe Garrel: Sim, muito provavelmente por conta da chegada de Jean-Claude Carrière. Ele trouxe uma concepção de roteiro focada na narrativa, o que não acontecia antes. Conheci Carrière através de seu trabalho em “Salve-se Quem Puder” (A Vida), e perguntei a ele o que Godard lhe proporcionou na época, e como ele trabalhava. Ele me disse que Godard lhe deu o lugar e os personagens, este enfoque me convenceu bastante, e fizemos da mesma maneira. Com Arlette Langmann e Caroline Deruas, que já eram corroteiristas em “O Ciúme”, definimos um tema e passamos para Carrière, que sugeriu os primeiros desenvolvimentos. Em seguida, trabalhamos nele juntos, cada um dos quatro trazendo diferentes elementos.

Jean-Michel Frodon: Como você definiria o tema?
Philippe Garrel: O tema é: a libido feminina é tão poderosa quanto a libido masculina. Para mim, À Sombra de duas Mulheres é um filme sobre a igualdade do homem e da mulher até onde o cinema consegue chegar. O que significou dar um enorme suporte à personagem feminina e ir contra o personagem masculino: o cinema foi criado por homens, e são sempre eles que determinam nossas representações, nossas formas de ver e contar as coisas, ainda que, felizmente, exista cada vez mais mulheres fazendo filmes. Na maior parte do tempo, quando uma mulher se expressa na tela do cinema, ela está dizendo as palavras escritas por um homem, o que tentei resolver trabalhando com uma equipe de quatro pessoas, duas mulheres e dois homens. Mas acho que o cinema funciona de um jeito que até quando colocamos personagens masculinos e femininos à mesma altura, isso acaba reforçando a posição do homem. Para contrabalancear isso, queria que o filme estivesse em defesa da mulher e estivesse contra o homem. E, no final, Pierre não parece tão ruim, ele e Manon têm de fato um equilíbrio de forças. De qualquer maneira, o filme foi feito provavelmente sob o ponto de vista de um homem, mas um homem que tenta entender o que está acontecendo sob o ponto de vista de uma mulher.

Jean-Michel Frodon: O roteiro teve um papel central durante as filmagens?
Philippe Garrel: Não central: para mim, o cinema é sempre fundamentalmente o que acontece durante as filmagens, é o lugar onde tudo é realmente decisivo. Mas o roteiro cumpre um papel importante, principalmente por conta das condições nas quais esses filmes são feitos, ou seja, muito depressa e com muito pouco dinheiro. Um trabalho extensivo e preciso do roteiro nos permite trabalhar mais rápido, sem perder tempo ou dinheiro. Filmar em 21 dias, em Paris ou em localidades próximas, em ordem cronológica, como fizemos em “O Ciúme” e “À Sombra de duas Mulheres”, faz com que o roteiro tenha que ser sólido. Isso também define como será a montagem: para trabalhar sob estas condições, não se pode dispensar nada, tudo o que filmamos é necessário e aparece no filme. A montagem propriamente dita é uma série de ajustes baseados no que foi previsto no roteiro e produzido durante as filmagens de uma maneira bem próxima do resultado final. Mas o roteiro não pode e não deve prever tudo: há coisas que só podem ser escritas pela câmera – talvez as mais importantes. Corremos os verdadeiros riscos durantes as filmagens.