O documentário “Betinho – A esperança Equilibrista“, produzido pela GloboNews e dirigido por Victor Lopes, mostra de forma franca e muito sensível a visão do homem, sociólogo por formação e humanista por opção, Hebert José de Souza. O primeiro brasileiro a pensar política e estruturalmente uma forma de combater a fome e a extrema pobreza com um programa social.
Hemofílico, sua vida foi feita de provações. A primeira delas quando ele ainda tinha 15 anos e foi acometido por uma tuberculose. Muito engajado, o adolescente foi estudar para descobrir um tratamento para sua doença, pois não desistiria sem lutar. “Eu achava que ainda tinha muita coisa para realizar”, relata em entrevista da época.
Focado em Betinho, mas também traçando um paralelo do período histórico da década, o diretor optou por mostrar o início do ativista na militância política, quando o sociólogo, ainda jovem, foi presidente do diretório estudantil de seu colégio. Assumir suas opções fez com que ele fosse perseguido pela ditadura que se instaurava no Brasil de 1964.
Após ser exilado no Canadá, Betinho foi homenageado na música composta por João Bosco e imortalizado nos versos “Meu Brasil! / Que sonha com a volta / Do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu”, cantados por Elis Regina em “O Bêbado e a Equilibrista”. Seu irmão Henfil, à época, iniciara uma campanha para que Betinho e outros exilados voltassem para o país. A campanha surtiu efeito e foi então que o brasileiro iniciou nos anos 80 campanhas em massa contra a AIDS e a fome, além de fundar o Ibase, um instituto para pesquisas de ações governamentais, desenvolvendo assim as bases pioneiras que se instalaram no Brasil no combate à fome e à miséria.
O documentário com relatos de amigos e parentes traz fotos fotos e vídeos e é pródigo em revelar a fragilidade do homem por trás do mito. “Não quero ser santificado, apenas lutar pela igualdade”, afirmava. O que fica é o exato relato daquele que virou um dos maiores ativistas dos direitos humanos brasileiro e que via o problema da fome como algo maior do que o ser humano. “Afinal, a fome não pode ser vista como algo natural”, discursava, mas que, assim como retrata o título: “vivia a se equilibrar no fio da vida”, que veio a consumi-lo em 1997, mas não seu legado.