‘O Mês Que Não Terminou’ é selecionado para Mostra Première Brasil do 21º Festival do Rio

Documentário utiliza vídeos de artistas contemporâneos para refletir sobre os acontecimentos de junho de 2013 no país

“O Mês Que Não Terminou”, primeiro longa-metragem de Francisco Bosco e Raul Mourão, foi selecionado para a Mostra Première Brasil: Fronteiras. A sessão para convidados será na sexta, 13 de dezembro, às 19h, na Cinemateca do MAM. E no sábado, às 20h, será realizada uma sessão com debate, no Estação Net Rio. O longa já participou da 43ª Mostra de Cinema de São Paulo e na mostra competitiva do 52º Festival de Cinema de Brasília.

O documentário é uma coprodução da Kromaki e do Canal Curta!, e investiga o emblemático mês de junho de 2013 no Brasil, seus acontecimentos marcantes e seus desdobramentos, a partir da análise de ativistas, cientistas políticos, filósofos, psicanalistas e economistas. Com narração de Fernanda Torres, o longa é permeado por vídeos de artistas plásticos que complementam a reflexão sobre os fatos.

Os protestos de junho de 2013 foram o primeiro questionamento ao processo de consolidação da democracia liberal brasileira, rumo que o país tomava desde a redemocratização. A partir deste momento, o Brasil passou por uma transformação não só política, mas cultural, deixando de ser o “país do futebol” para ser o “país da política”. O documentário resgata este percurso.

“É impossível compreender o que aconteceu com o país nos últimos seis anos sem remontar àquele período de junho de 2013. Da perspectiva política, o filme revisita os marcos principais. Na verdade, o filme começa procurando entender as causas de junho: os sinais ainda latentes de crise econômica, o esgotamento da representação institucional no país, o contexto de crise global das democracias liberais, o grande colapso econômico de 2008. Daí em diante, o filme aborda os atos, propriamente, de junho; a cultura social do engajamento que eles produziram; a formação da polarização; os sentidos da Lava-jato; o impeachment de Dilma Roussef; a emergência das novas direitas e o triunfo final da direita reacionária, com a eleição de Bolsonaro. Sem pretensões ilusórias de neutralidade, procuramos fazer uma investigação sobre o recente processo político, social e cultural do Brasil sendo os mais fiéis possíveis à complexidade que o define”, explica o codiretor Francisco Bosco.

Para entender os capítulos dessa história recente, o documentário entrevistou intelectuais públicos de diversas áreas, tais como o professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, a socióloga e deputada federal Áurea Carolina, a professora de economia da USP, Laura Carvalho, o economista Samuel Pessoa, o filósofo Pablo Ortellado, o ativista político e produtor cultural Pablo Capilé, a psicanalista Maria Rita Kehl, entre outros.

Imagens de arquivo e vídeos de artistas contemporâneos, como Nuno Ramos, Cao Guimarães, Lenora de Barros e Raul Mourão, juntam-se à narração em off de Fernanda Torres e aos depoimentos de especialistas. Inseridas na reflexão política, ao lado de cenas dos acontecimentos reais, as imagens artísticas ganham novos significados.

“Desde o início, tive total liberdade para pensar um filme experimental, do ponto de vista da imagem. Francisco me convidou para codirigir já com a ideia de usar alguns de meus vídeos. E eu pesquisei a filmografia de outros artistas contemporâneos, busquei esses ‘não filmes’ que circulam em museus e galerias, que não são habitualmente inseridos no cinema tradicional. Eu já acompanhava essa produção ao longo dos anos, mas iniciei uma pesquisa como se fosse a curadoria de uma exposição. A ideia foi ressignificar esses trabalhos, tirá-los de contexto e dar outro sentido completamente diferente do que seus criadores haviam imaginado”, conta o codiretor Raul Mourão.

O documentário surgiu de um ensaio publicado por Francisco Bosco, na Folha de S. Paulo, cinco anos após os fatos de junho de 2013. Julio Worcman, diretor do Canal Curta! convidou o autor, que topou o desafio de transformar o texto em filme, assinando a direção junto com Raul Mourão. A produção ficou a cargo de Rodrigo Letier, da Kromaki, e conta com trilha sonora de Plínio Profeta, sobre música original de João Bosco. Com a coprodução do canal Curta!, o filme tem exibição garantida na TV no início de 2020.

Sinopse

O documentário “O Mês Que Não Terminou” analisa o processo institucional e social do país desde junho de 2013 até a eleição de Bolsonaro, investigando a crise do Lulismo, a Lava-jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão das direitas liberal e conservadora. Vídeos de artistas plásticos colaboram para compor a narrativa.

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