Atual campeã do Carnaval Carioca, a Acadêmicos do Grande Rio apresentou nesta quarta-feira, 6 de julho, o enredo que levará para a Marquês de Sapucaí em 2023. A homenagem ao cantor e compositor Zeca Pagodinho recebeu o título de “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!” A proposta será desenvolvida pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que comentaram as escolhas temáticas.
CRONISTA DAS RUAS
De acordo com Leonardo Bora, trata-se de uma festa, de um ritual de celebração: “Entendemos que a dimensão festiva dos desfiles das Escolas de Samba, algo que curiosamente às vezes é colocado em segundo plano, é um componente fundante e profundamente político. Iremos celebrar a vitória de 2022, um feito inédito na história da Grande Rio, exaltando o “modo de vida” de Zeca. Não se trata, evidentemente, de uma biografia linear, algo que nunca fizemos. Cantaremos o universo simbólico dele e exaltaremos a sua personalidade de cronista. Entendemos Zeca como um cronista da vida dos subúrbios cariocas, um artista que se comunica de maneira extraordinária com a sua legião de fãs. Justamente por ser muito popular, às vezes é considerado “pouco denso”, o que, para nós, não faz sentido. A crônica é profundamente transgressora. Estamos mergulhados na poesia”, declara.
ESPÍRITO CARIOCA
Para Gabriel Haddad, o “espírito do enredo” já está condensado no cartaz de apresentação, criado, pelo terceiro ano consecutivo, pelo artista Antônio Gonzaga: “Podem esperar um desfile alegre, vibrante, com o espírito das ruas cariocas. Um desfile solar, jocoso, bem-humorado, que irá celebrar a vida cotidiana. O pôster do enredo, criado por Toín Gonzaga, sintetiza esse espírito: é uma espécie de colagem de anúncios, faixas, cartazes de rua. Caquinhos, pipas, engradados, cobogós. Fugimos das visões monumentalizadoras e sóbrias, que não combinam com o “Zeca way of life”. A pintura de Guilherme Kid, reinterpretada e inserida na arte de Antônio, é a essência disso. Estamos muito felizes com essa troca e com a permanência da experimentação”.
CELEBRAÇÃO DO SAMBA
Pelo quarto ano, o enredo é assinado pelos carnavalescos em parceria com o historiador e antropólogo Vinícius Natal, que destaca a importância da proposta para a compreensão da importância do movimento do pagode: “Falar de Zeca é falar do samba e do pagode em suas múltiplas dimensões. É direcionar as lentes para essas expressões musicais que no mais das vezes são consideradas menores. Além disso, é uma reflexão potente sobre centro e periferia: a partir dos diálogos que estabelecemos com diferentes interlocutores, algo que sempre fazemos, entendemos que os subúrbios têm posição de centralidade. Olhamos o subúrbio como centro, pensando outras geografias e outras formas de se encarar o espaço urbano e as vivências cotidianas. Trata-se de uma celebração do samba, do pagode, das coisas que mais amamos em uma agremiação sambista: as ruas, as barraquinhas, a sociabilidade, o dia a dia.”