O autor Bruno Godói, natural de Divinópolis, Minas Gerais, membro da Academia Divinopolitana de Letras e autor dos livros “O Grito Vermelho” e “Sete Cabeças” acaba de lançar sua nova obra “Solteiro Sofre Demais: o primeiro barba-lit nerd da galáxia“.

Na esteira do gênero chick lit, gênero de ficção voltado ao público feminino através de romances leves, divertidos e charmosos, esse é o primeiro lumber lit (ou barba lit) do mundo, ou seja um livro para o homem moderno, maduro, barbado e também antenado. A obra conta com bom humor conta o dia-a-dia de três solteirões que vivem em uma republica e as peripécia que são obrigados a fazer para sobreviver ao mundo moderno.

Em entrevista ao Almanaque da Cultura, autor afirma que não tem medo de ser considerado sexista. “Para ter uma ideia, minha mãe foi minha leitora beta. Passava os rascunhos à ela e perguntava se ela se tinha se sentido constrangida em algum ponto”. Ele também destacou a importância de sua obra: “Estamos caminhando para um futuro solitário”.

Almanaque da Cultura: O que o livro “Solteiro Sofre Demais: o primeiro barba-lit nerd da galáxia”, tem de você, de histórias do próprio autor? 
Bruno Godói: Bom, a única parte minha colocada na obra foram os gostos pelos elementos de nossa cultura pop. Exemplo: os filmes, as bandas musicais, os super-heróis, os Thundercats, tem o local da história (Rio de Janeiro) e, por fim,  minha cachorrinha pinscher (a grande estrela do livro). Tirando esses elementos, tudo no “Solteiro Sofre Demais” é ficção. Coisas criadas com a intenção de satirizar estereótipos e ou comportamentos que vemos pipocando por aí.

Almanaque da Cultura: Você se considera um solteirão convicto?
Bruno Godói: Não. Eu, na verdade, estou solteiro; não sou solteiro. São fases pelas quais passamos até nos apaixonarmos pra entrar a fundo num relacionamento. Então, como não estou apaixonado, estou solteiro. A paixão é o mais importante em tudo que você for fazer, sem ela, as coisas não se incendeiam; e sem fogo não dá, né?

Almanaque da Cultura: Fale sobre o gênero Barba Lit. De onde teve essa ideia?
Bruno Godói: Barba lit é o derivado masculino pra chick lit. O chick lit é um gênero consagrado mundialmente, em que é abordado elementos femininos; temos uma heroína no seu dia a dia lidando com coisas femininas. Pensando sobre isso, me veio o insight de criar um chick lit masculino. Então, nasceu daí o barba lit. O marido do chick lit. Apresentar um produto que faz piada com um possível comportamento masculino e que seja destinado para ambos os gêneros. Barba lit é pra homem e mulher.

Almanaque da Cultura: Para você o brasileiro é um povo machista ainda? 
Bruno Godói: Não só o brasileiro, mas o mundo. Não sei em qua grau está o machismo em países desenvolvidos, mas existe, sem dúvida. Viemos de uma massiva expressão da europa medieval. A Igreja dominou os padrões originários de nossa cultura por muito tempo. O que foi construído na idade média serviu pra alterar nossa sociedade em direção ao lado masculino. Vivemos, literalmente, num mundo mutante masculino. Está no DNA. Essa mutação é genética. Nossa sorte é o mundo estar despertando pra eliminar esse gene recessivo que insiste em vangloriar o homem em detrimento da mulher. Nós passamos nove meses dentro de uma mulher, conectados, literalmente, física e emocionalmente, e aí a pessoa cresce e vira um “inimigo” das mulheres? Não dá pra entender o porquê de surgir tal pensamento. Só pode ser mutação, né? Eu tenho mãe, irmã, sobrinha, tias, primas, amigas e quero muito uma filha, espero que o machismo acabe de vez pra que as mulheres que amo (e todas as outras) sejam inseridas (na plenitude) no “nosso mundo macho”.

Almanaque da Cultura: Que publico espera alcançar com seu livro?
Bruno Godói: Qualquer pessoa de 18 a 100 anos que saiba ler. O humor do SOLTEIRO não tem limites de público. É pra mim e pra você. É uma espécie de “Porta dos Fundos” com “Se Beber, Não Case”; dessa combinação veio o humor do Solteiro.

Almanaque da Cultura: Como tem sido a repercussão de seu livro?
Bruno Godói: Bacana. Ainda bem. Estou muito empenhado e dedicado. Num país como o nosso, com mais de 200 milhões de pessoas e com a literatura tão pouco explorada, é difícil apresentar livros pras pessoas. Mas, com muita paixão e empenho, devagarinho as coisas vão virando. Como diria em Minas: “mineiro come quieto”.

Almanaque da Cultura: Você não tem medo de ser considerado sexista, por defender temas do universo masculino?
Bruno Godói: Não. Imagina. Muito pelo contrário. O sentimento da obra é o oposto de ser sexista. Primeiro porque os personagens “sofrem”. Só se dão mal. O Leo, o mais louco, só se dá mal. Larry, o protagonista, é um pobre coitado em busca de terapia. Então, o “Solteiro Sofre Demais” mostra que se tendo pensamentos sexistas, machistas e outros istas, não se leva a nada. Diferente de muitos canais em que mostram o personagem tendo comportamentos “inadequados” e se dando bem, sendo o pegador, o fodão. No Solteiro é o oposto, os caras são todos derrotados por ter comportamentos inadequados. No livro os temas masculinos são abordados de forma exagerada para se criar a crítica que apresento. Então o Solteiro não é sexista, não defende comportamentos machistas. Pelo menos tentei ao máximo não ser. Se pequei em alguns pontos, quero saber a opinião das leitoras para poder remediar na segunda edição e eliminar possíveis resquícios de qualquer atitude “ista”. Pra você ter uma ideia, minha mãe foi minha leitora beta. Eu passava os rascunhos pra ela e perguntava se ela se sentiu constrangida em algum ponto. Minha mãe tem 62 anos.

Almanaque da Cultura: Como o mundo virtual de redes sociais, youtubers, e whatsapp influencia seu trabalho?
Bruno Godói: O título “Solteiro Sofre Demais” foi criado justamente pro nosso atual estado social. Estamos caminhando para um futuro solitário. Uma existência singular. Solteiros. O solteiro não se detém no gênero masculino, um homem sem ninguém; mas ao gênero humano. Homem e mulher. Nós, enquanto elementos sociais. E hoje, com internet, avião e satélite, podemos estar em qualquer parte do mundo em poucas horas, falamos com qualquer pessoa instantaneamente, visitamos qualquer endereço no mundo pelo google maps. Isso criou um mundo conjugal. Um mundo unido. Mas criou humanos solteiros, pessoas solitárias. O quanto mais se evolui em tecnologia e facilidade, mais se perde em aconchego humano. E é isso o grande segredo do Solteiro Sofre Demais. Estamos caminhando para um futuro on line, onde teremos solteiros pra todo lado, casados ou namorados, e ainda assim “solteiros”. Os casais estão se fechando na singularidade. É essa a minha crítica exposta na obra. Estamos nos unindo fisicamente, mas nos separando em termos humanos. A física quântica mostra que estamos todos conectados, isso no mundo quântico, o mundo micro. E no mundo macro? Nós? O aqui e agora? Estamos nos isolando em nós. Nos divorciando do carinho e toque e nos prendendo à tecnologia. Isso tudo tem no Solteiro Sofre Demais, mas claro que de forma cômica, né? Por isso os personagens usam dessas tecnologias, como se fosse um dia a dia comum pra um grupo de amigos de hoje, com celular e WiFi.

Almanaque da Cultura: Como funciona vender livros pelo Tinder, dá para conciliar trabalho e lazer?
Bruno Godói: Esse foi um detalhe interessante. O Tinder é um aplicativo para solteiros, então não há lugar melhor pra apresentar o Solteiro. Assim apresentei o livro lá, junto ao meu perfil, claro. E quem se interessa e gosta da ideia, acaba querendo saber mais e tal. E dá pra conciliar sim, até porque quanto ao lazer, isso ainda não provei, porque você sabe, né? Solteiro Sofre Demais! Só sobra o Tinder pra dar aquela forcinha na solidão.