Faixa que batiza o álbum de estreia de IZA, editado no primeiro semestre, “Dona de Mim” ganhou um videoclipe à altura de sua grandeza, aliado a uma ação interativa que espalha bons exemplos pela rede. O lançamento reforça o ótimo momento vivido pela cantora do bairro de Olaria, no Rio de Janeiro, especialmente após arrebatar o Prêmio Multishow de Melhor Música (“Pesadão”). Mas, diferentemente do hit com Marcelo Falcão e de “Ginga”, a sacudida parceria com Rincon Sapiência, “Dona de Mim” apresenta uma faceta mais cadenciada e reflexiva de IZA.

Espécie de neo-soul bastante climático, com piano e sampler executados por DJ Gorky (Bonde do Rolê/Pabllo Vittar), “Dona de Mim” versa sobre reconhecer suas potencialidades e superar adversidades da vida, sempre com “jeitim”. Por isso mesmo, o clipe dirigido por Felipe Sassi exibe histórias de três mulheres guerreiras, que representam as batalhas cotidianas: uma professora que cuida de seus alunos como se fossem filhos, uma jovem mãe solteira que se vira nos trinta para criar bem seu rebento, e uma advogada trans que encara o ambiente opressor dos tribunais na busca por justiça.

IZA contracena com essas mulheres poderosas tal qual uma narradora onisciente, e também como alguém que entende o que as personagens da vida real precisam enfrentar para obter êxito. A sonoridade entre elas salta aos olhos e sublinha que este século feminino está só começando, com muito a ser alcançado ainda. No caso da professora, IZA tem uma identificação extra, já que sua mãe sempre lecionou e teve de lidar com casos de violência como o retratado no clipe.

Durante o esquenta para o lançamento, a cantora entrevistou as três atrizes em suas redes sociais. Assim, quem segue IZA pôde conhecer mais sobre o enredo de “Dona de Mim” e ainda se inspirar para partilhar episódios reais que dialogam com o que foi trazido para a tela, usando a hashtag #DonaDeMim. Portanto, mais do que uma peça promocional, esse clipe acaba sendo o propulsor de uma onda de relatos sobre a força feminina, a liberdade de traçar os seus caminhos e, por que não, seus descaminhos.

O roteiro de “Dona de Mim” chega ao seu final com as três personagens se encontrando num templo e assistindo a uma performance de IZA escudada por um coral gospel. Até por ela ter começado a cantar em igreja, e também por se declarar uma católica apostólica romana, que reza antes dos shows e agradece a todas as conquistas, esse desfecho é bastante simbólico e reforça o “deixo a minha fé guiar” presente nos versos.

A letra, aliás, menciona algumas vezes que a vida é louca. Trata-se de uma referência à “Vida Loka”, dos Racionais MC’s, formação que fez a cabeça da juventude negra e periférica, e IZA está nesta estatística. A grande recompensa é que hoje Mano Brown se declara um profundo admirador do trabalho da cantora. Humildemente, ela já o chama de parceiro.

Por mais que já tenha conquistado o grande público, já tenha erguido seus troféus reais e virtuais, já tenha estampado inúmeras capas de revistas e estrelado duetos com alguns dos maiores nomes da música, IZA ainda é uma estrela ascendente. Seu desempenho em “Dona de Mim” parece o de uma veterana, mas não faz tanto tempo desde que ela postou seus primeiros vídeos entoando versões de outros artistas na internet. Foi um crescimento avassalador e embasbacante, conforme seu talento bruto já indicava que seria. Mas nós ainda estamos descobrindo todas as faces de IZA – inclusive pelos seus looks, ora elegantes, ora ousados, o que o clipe de “Dona de Mim” evidencia.

Essa é a IZA dona de si, que milita pelas suas causas, retribui as graças recebidas e ainda canta “não me limite que eu quero ir além”. Vai, mulher! O futuro é todo seu.