Atriz por vocação, Bel Kutner optou por seguir os passos de seus pais. Filha dos atores Dina Sfat e Paulo José, a moça começou cedo no teatro e naturalmente aos 15 anos já tinha certeza do que ia fazer para toda a vida. Irmã da também atriz Ana Kutner e da diretora Clara Kutner, Bel já soma mais de 20 trabalhos entre novelas, seriados e participações no cinema.
Atualmente, a atriz se divide entre as aulas que está ministrando junto de sua irmã Ana no Workshop de interpretação Mergulho na cena – do Espaço Telezoom, e se prepara para voltar aos palcos junto de Antônio Quinet para a temporada da peça “Hilda e Freud”, que retrata as relações da escritora Hilda Doolittle com o psicanalista Sigmund Freud, e re-estreia no Rio após grande sucesso para depois percorrer o Brasil.
Em entrevista ao Almanaque da Cultura, Bel Kutner afirma que “Freud salvou a vida dela”, ao comentar sobre Hilda e se revela otimista com a possibilidade de transmitir seu aprendizado através de um workshop “é uma coisa que eu adoro fazer, é uma troca imensa”.
Almanaque da Cultura: Como foi sua entrada na peça Hilda e Freud?
Bel Kutner: Eu conheci o Quinet através da Rosi Gonçalves que é fonoaudióloga, uma professora de voz incrível, ela é preparadora de voz de vários espetáculos teatrais e me apresentou o Quinet e me indicou para fazer uma leitura dos trabalhos dele, que escreve muitos textos, e quando a gente se conheceu ele na hora pensou em mim para o papel de Hilda. Eu aceitei na hora! Ficamos um ano namorando esse projeto até conseguir realizar.
Almanaque da Cultura: Como foi o processo de reconstituição histórica da peça para você?
Bel Kutner: Durante o processo, como a peça se passa nos anos 30, e primeiro conta a história da infância da Hilda e depois da chegada da guerra – a peça se passa em alguns tempos, e é claro que eu voltei a estudar a segunda guerra mundial, a primeira guerra, o que estava acontecendo na época na Europa, nos Estados Unidos, onde a ação da peça se passa. Estudar um pouco mais além do que o texto traz.
Almanaque da Cultura: E os seus estudos para compor a Hilda?
Bel Kutner: Me aprofundei mais nos estudos relacionados a Hilda, que é uma mulher que deixou uma obra extensa, deixou muitos livros, inclusive traduzidos para o português. Inclusive ela fez um livro baseado nos estudos que ela fez com Freud que se chama “Por amor a Freud”. Foi baseado nisso que eu estudei a época, os acontecimentos.
Almanaque da Cultura: O figurino, a indumentária, os maneirismos de época são aspectos que ajudam a compor o personagem?
Bel Kutner: Nossa diretora a Regina Miranda é uma grande coreografa, é também diretora do Laban Institute em Nova York e é uma pessoa que trabalha com o corpo. Eu já tinha tido a oportunidade de trabalhar com ela outras vezes então toda a questão de postura, de comportamento foi uma pesquisa que junto a ela foi maravilhoso. A gente sempre descobre novos aspectos do corpo, que as vezes diz algumas coisas, as vezes nega. É um trabalho de direção.
Almanaque da Cultura: No palco, você vive uma mulher muito intensa, muito entregue, como é se separar disso depois que a peça termina, dessa carga emocional?
Bel Kutner: Durante o processo de pesquisa e de ensaio é claro que não tem isso… não dá para separar, a gente está em casa. A minha casa é meu corpo, sou eu, então quando eu estou pesquisando um personagem, eu estou olhando para as dores que eu conheço e que eu identifico para o personagem. Agora durante a temporada, é claro que existe uma preparação técnica para você não ficar maluco. Eu me aqueço, eu me concentro mas também tem uma construção técnica para estar ali, viver aquele momento, ter aquela emoção, depois respirar fundo e guardar aquilo para o dia seguinte.
Almanaque da Cultura: O que você aprendeu de mais importante com essa personagem tão forte?
Bel Kutner: A Hilda foi levada não só por essa intensidade, mas ela realmente teve problemas, crises, depressões, era uma buscadora. Então eu penso que Freud salvou a vida dela.
Almanaque da Cultura: E a temporada de Hilda e Freud como será?
Bel Kutner: Estou numa correria. Estamos re-ensaiando Hilda e Freud para estrear no Teatro Maison de France agora em março. Mas a gente pretende levar a peça para o Brasil todo. Primeiro estreamos no Rio e seguimos em turnê.
Almanaque da Cultura: Fale um pouco sobre os workshops que você está promovendo.
Bel Kutner: Estamos fazendo um trabalho de improvisação, exercícios teatrais, leituras. Muito concentrado porque são poucos dias, mas é uma coisa que eu adoro fazer, é uma troca imensa. A partir de março vamos fazer outros.