As duas principais personagens dos romances escritos pelo francês Marquês de Sade acordam de um estranho sono de 230 anos em uma Paris muito diferente da que viviam. Entre elas, um padre confuso sobre sua vocação e ciente de que precisa ajudá-las. Este é o enredo de “Juliette castigada (e Justine recompensada)”, comédia escrita por Roberto Athayde que está em cartaz no Teatro Maison de France, no Centro do Rio, até 17 de dezembro. No elenco, Alexandre Slaviero, Rosanne Mulholland e Betina Pons, que idealizou o projeto.

Rosanne Mulholland interpreta a ingênua e bondosa Justine, que desperta sentimentos no padre Hendrik (Foto: Divulgação)

Roberto Athayde redigiu o texto em 2001 e trouxe para a modernidade de 2015 as ideias filosóficas sobre a natureza humana, pensadas pelo Marquês de Sade nos anos de 1790. Para o escritor francês, as duas senhoras que dão nome à peça eram as personificações dos questionamentos que ele queria causar em quem o lesse. Julliete protagoniza o livro “As Prosperidades do Vício” e Justine, a obra “Os Infortúnios da Virtude”, ambos com as primeiras publicações lançadas há mais de 225 anos. Mais ou menos o tempo em que as duas senhoras dormiram na história do Athayde.

Betina Pons dá a vida a Julliete, o mal encarnado. A personagem acha que seus feitos de maldade funcionarão nos tempos modernos (Foto:

Após despertarem nos dias atuais, Julliete e Justine, vividas respectivamente pelas atrizes Betina Pons e Rosanne Mulholland, ficam desesperadas e perdidas com tantas mudanças e se veem obrigadas a aprender tudo com rapidez. Quem as auxilia é o padre Hendrik, vivido por Alexandre Slaviero, atormentado pelas duas e por suas convicções abaladas. Julliete é debochada, sexual e nem aí para sentimentalismos. Justine é religiosa, pura e acredita que há bondade em todas as pessoas. O problema (e a graça) está justamente no fato de que essas características delas de nada funcionam em 2015. As lições aprendidas pelas duas vão de informática a palavrões (esta última parte não é muito do agrado de Justine).

“No início do ano que vem, eu vou migrar para a Record, vou fazer a próxima novela, “A Terra Prometida e há outros trabalhos no teatro”, adianta Alexandre sobre novos planos (Foto: Divulgação)

Atrizes falam das mulheres da peça e suas personalidades

“Nossas guerras, nossa guilhotina, até a nossa libertinagem do século 18, tudo isso foi café pequeno comparado aos horrores atuais”, filosofa Julliete, durante a peça. Betina Pons conta que após o término da companhia de teatro que tinha, queria produzir algo no qual escolhesse um papel em que tivesse prazer de atuar. “Em dezembro de 2008, o Roberto Athayde me mandou o texto por e-mail. Eu vi a Julliete e me apaixonei na hora. Ela não tem nuances de ser boa. Ela é unicamente má e perversa. Gostei do texto, pensei que era o tipo de coisa que valeria a pena eu correr atrás para montar”, explicou.

Para Rosanne Mulholland, Justine é o auge do bem, o extremo da bondade. “Como ela não tem maldade nela, ela não vê isso em nada e acaba sofrendo bastante”. A atriz vê proximidade entre a bondade dela e de outra personagem que interpretou na versão brasileira da novela infantil “Carrossel”, exibida pelo SBT em 2012. “A professora Helena também é muito boa, apesar de estar no mundo real, enquanto Justine está em um universo paralelo. Gosto de sempre ter uma diferença entre os personagens, por mais parecidos que eles sejam, nunca são a mesma pessoa”.

Sem trabalhos na TV por enquanto, Rosane fala de seus futuros planos. “Tenho filmes para sair, estou esperando”, vibra ela, esperançosa. Ela também está montando um site chamado Like Spray com a atriz Marisol Ribeiro. “Eu nem estou falando muito nisso ainda, porque estamos trabalhando ainda em cima, mas é um site que estamos desenvolvendo para meninas. Queremos colocar conteúdo que a gente gosta, trocar experiências. Acho que mês que vem, a gente coloca no ar”, revela.

As duas atrizes da peça no Teatro Maison de France (Foto: Divulgação)

Ator destaca importância da arte como elemento de reflexão

Alexandre Slaviero faz o padre Hendrik, um religioso com o “pé” fora da batina, tanto que até calça um All-Star preto, um signo desta mudança. Em dúvidas quanto a sua crença em Deus e com conflitos internos entre o bem e o mal, é a representação da consciência do personagem que norteia a peça em si e tenta equilibrar o mal de Julliete e o bem de Justine. O espetáculo é atual e faz certas críticas a questões modernas e clássicas, como religião e até crise financeira e o ator ressalta a necessidade desta observação.

“Todo trabalho que a gente faz e possa ter alguma mensagem, seja ela qual for, é interessante, pois não é um espetáculo vazio”, comenta Alexandre, que destaca a questão deste tipo de entretenimento fazer a pessoa se divertir e, ao mesmo tempo, refletir. “A cultura está aí para as pessoas evoluírem, pensarem, para não serem só de um jeito, porque hoje eu posso ter uma opinião e amanhã outra. Acho que no Brasil de hoje, a gente precisa refletir sobre tudo”, ele defende.

“Juliette castigada (e Justine recompensada)” tem direção e trilha musical de Paula Sandroni e oferece ao público um humor inteligente, despretensioso, um tanto quanto escrachado com boas atuações do elenco, que demonstram expressividade e entrega ao tema. Betina Pons acertou em cheio ao produzir e montar o texto de Roberto Athayde. As ideias deste autor, unidas aos pensamentos de Marquês de Sade nunca estiveram tão modernas e atuais.

“Juliette Castigada (e Justine recompensada)” no Maison de France

Temporada: até 17 de dezembro de 2015
Dias e Horários: quartas-feiras, às 16h30 e 19h e quintas e sextas-feiras, às 16h30
Local: Teatro Maison de France – Avenida Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2544-2533
Valor do Ingresso: R$ 40,00 (inteira) e R$20,00 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 12 anos