Com mais de 30 anos de carreira, cerca de 30 peças, cinco filmes e oito novelas, sem contar as participações em minisséries da Rede Globo, Ernesto Picolo, 53 anos, acumula as funções de diretor e ator com muita competência em seu currículo. A favor do resgate social, o diretor é conhecido por revelar nomes como o de Carla Cristina, atualmente como Dinorah na novela “A Regra do Jogo”, que foi aluna dele na ONG Palco Social.

O Almanaque da Cultura conversou com Piccolo sobre o espetáculo “Andança – Beth Carvalho, o Musical”, dirigido por ele e que conta a história da sambista Beth Carvalho. Em meio a estreia do infantil “A Galinha Pintadinha – O Ovo de Novo”, no shopping da Gávea, na Zona Sul do Rio, o diretor aproveitou a ocasião para divulgar as seletivas novo espetáculo “Cinderella”.

Almanaque da Cultura: Atualmente você está na direção de “Andança – Beth Carvalho, o Musical”, espetáculo que revive a biografia de Beth Carvalho. Como surgiu essa iniciativa?
Ernesto Piccolo: O Rômulo Rodrigues, que é o autor do texto, foi aluno das minhas oficinas há 22 anos. Ele escreveu este texto há uns 15 anos e chegou a mim com essa ideia de montar e me chamou para dirigir. Rômulo já havia falado com a Beth, já tinha conseguido a autorização dela e me propôs assinar a direção. Confesso que eu adorei o convite, porque eu sou fã da Beth.

Almanaque da Cultura: E como se deu a pesquisa para a montagem? A Beth Carvalho participou deste processo? 
Ernesto Piccolo: A Beth foi a fonte de toda a pesquisa do Rômulo. Todas as nossas dúvidas nós tirávamos com ela. Então, quando montei a peça, levei para ela ver, para ver se ela aprovava. Ela apontou algumas correções, mas ficou bem feliz. Valeu a pena fazer uma homenagem digna à rainha.

Almanaque da Cultura: São revividas várias fases da vida da cantora como infância, juventude e maturidade. Vocês procuraram uma atriz parecida com ela para compor? Como foi a escolha do elenco?
Ernesto Piccolo:
Não pedi semelhança. A gente ficou muito mais preocupado com os timbres das vozes. Tive a honra de ter o maestro Rildo Hora junto com o Pedro Lima me ajudando a escolher o elenco e conseguimos formar uma equipe de 23 atores sensacionais. A Beth me falou qual foram as inspirações dela e a gente foi atrás. Tem vários outros atores fazendo vários personagens: o Milton Nascimento, o Nelson Cavaquinho, o Cartola, o Sílvio Caldas. No palco são várias fases da vida da Beth: as músicas que os pais dela ouviam, tem as cantoras do rádio, os bailes de carnaval, o canto do Uirapuru quando ela cantou no colégio, quando ela ouve o jamelão cantando “mangueira teu cenário é uma beleza” e virou mangueirense desde pequena. Então, é a trajetória da vida dela, quais são as fontes de que ela bebeu, quando ela começou a participar dos Festivais. É muito rico, é a história da música popular brasileira.

Almanaque da Cultura: Em “Andanças” você abriu uma seleção para atores, oferecendo assim oportunidades para quem está fora da mídia. Fale sobre esse caráter de inclusão social do seu trabalho. 
Ernesto Piccolo: Desde os 15 anos estou envolvido nisto de pesquisar, integrar, de querer agregar. Eu dava aula na Cândido Mendes e quis ter um autor para poder começar um trabalho de linguagem. E a gente teve a ideia de fazer o “Funk-se”. Lá eu tinha 20 alunos pagantes, e quando os office boys, os flanelinhas, viram que ia rolar um espetáculo sobre Funk, começaram a se interessar. Todos quiseram participar. Um sabia dançar, outro era charmeiro e o povo em volta começou a participar ativamente. Quando eu vi já eram 60 alunos. Nessa época a Tereza Miranda estava assumindo o Centro de Artes Calouste Gulbenkian e a Dadá Maia a parte cultural e nos convidou para desenvolver oficinas. Fizemos muitos espetáculos. Acho que já são 22 espetáculos ao todo. Depois eu fui para o Crescer e Viver, o Circo social do Júnior Perim, fizemos a história de “Gonzagão” lá.

Almanaque da Cultura: Do mesmo jeito que fez em “Andança”, agora você abriu testes para atores em um novo musical. Como será feito este processo?
Ernesto Piccolo: Começaremos as audições para “Cinderela”, um musical de Rodgers & Hammerstein que eu vou estrear em fevereiro em São Paulo, mas vou ensaiar e selecionar os atores no Rio. As audições serão nos dias 26, 27, 28 de outubro em São Paulo e 29 e 30 do mesmo mês no Rio. Podem participar aqueles que saibam cantar e dançar.