Espetáculo leva orixás do Candomblé para o palco no Rio

Xirê Orixá – Divindades da Criação” faz as duas últimas apresentações da temporada nos dias 25 e 26 de junho, na Praça Onze

Em tempos complicados de intolerância religiosa, com casos de pessoas sendo agredidas por expressar sua fé nas crenças afro-brasileiras, uma peça de teatro aborda a passagem dos principais orixás do Candomblé pela terra. Em cartaz desde o dia 12 de junho, “Xirê Orixá – Divindades da Criação” tem mais duas apresentações, dias 25 e 26 de junho, às 20h, no Teatro Municipal Gonzaguinha, localizado na Praça Onze.

No palco está a Companhia Ore, especializada em linguagem corporal. Esta é a primeira montagem solo do coreógrafo e diretor Márcio Moura com esta equipe. Durante 50 minutos, o público assiste a um xirê, como é chamada a cerimônia na qual são entoadas as cantigas para todos os orixás, convidado-os a virem à terra para dançar e celebrar junto aos seus devotos, os filhos de santo.

A proposta é fazer os espectadores refletirem sobre diversas questões atuais e propícias, tal qual o racismo. Para isso, o grupo faz uso do encanto e mágica que as danças e os movimentos dos orixás proporcionam para quem as assiste. A trilha sonora, escolhida especialmente para o espetáculo, traz toques ritualísticos com os principais intérpretes da MPB que versaram sobre a história dos orixás.

No palco e em cena, eles, os orixás

Na África, eram cultuados cerca de 300 orixás, mas a devoção de apenas 16 se fortaleceu no Brasil. Para “Xirê Orixá”, foram escolhidas sete divindades a serem personificadas por oito atores/bailarinos. Enquanto Oxum, Iansã, Xangô, Oxossi, Iemanjá, Ogum e Oxalá dançam e relembram suas vidas terrenas, com seus trajes ritualísticos, é possível notar também as semelhanças deles com seus filhos humanos, característica chamada de arquétipo.

Márcio explica que se decidiu por sete orixás mais conhecidos do público leigo em geral. “Quando falo de “conhecidos”, tenho que ter um olhar fora da comunidade afro-religiosa”. Segundo Márcio, o orixá Obaluiaê (divindade da cura sobre as doenças, que se veste de palhas), por exemplo, tem uma representação muito conhecida, “mas os “leigos” poucos sabem sobre ele. Então ele possivelmente será estudo de um outro trabalho”, esclareceu.

“O culto aos orixás faz parte da influência afro-religiosa em nossa sociedade. Falar deles num espetáculo é, antes de tudo, referenciar a importância dessa cultura nas raízes de nossa identidade artística. A ideia é trabalhar com os orixás mais conhecidos e não os mais cultuados. Com isso, aproximamos o entendimento e abrimos um canal para projetos futuros”, comenta Márcio Moura.

A cultura afro-brasileira é parte de um todo maior, que é o cenário nacional. E falar dela, mesmo que seja artisticamente, no Brasil atual, pode não ser tão fácil. Ao ser perguntado sobre como é esse processo, Márcio desabafa: “Sinceramente? Desanimadora. Existe uma pseudo-aceitação, mas os espaços na mídia só abrem para a cultura negra quando falamos de festivais ou no período que se “comemora” o dia da Consciência negra”. Fora isso ainda estamos à margem”, explicou.

O espetáculo conta com figurinos  de Fernanda Sabino, ambientação cênica de Raquel Theo, desenho de Luz de Álvaro Assad e fotografias de Carlos Freixo.

“Xirê Orixá – Divindades da Criação”

Últimas apresentações: 25 a 26 de junho (quintas e sextas-feira)
Horário: 20h
Duração: 50 minutos
Local: Rua Benedito Hipólito, 125 – Praça Onze (O teatro fica dentro do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em frente ao Terreirão do Samba)
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada)