Flávia Alessandra retorna a parceria com Walcyr Carrasco em “Êta Mundo Bom!“, onde dará vida a vilã Sandra, que fará de tudo para impedir o encontro de Candinho e sua mãe biológica. Em uma entrevista ao Almanaque da Cultura, a artista revelou em quais artistas de época ela se inspirou para fazer a personagem e confessou que Sandra não é uma alpinista social.
Com estreia no dia 18 de janeiro, “Êta Mundo Bom!” é escrita por Walcyr Carrasco, com a colaboração de Maria Elisa Berredo, Daniel Berlinsky, Marcio Haiduk e Claudia Tajes. A direção geral e de núcleo é de Jorge Fernando, que comanda a novela com os diretores Marcelo Zambelli, Ana Paula Guimarães e Diego Morais.
Almanaque da Cultura: Como será esta nova personagem? Ela é perecida com a Cristina de “Alma Gêmea”?
Flávia Alessandra: Ela é uma vilã diferente da Cristina. Não é totalmente, eu estou tentando trazer muita coisa da Cristina para ela. As coisas que encantaram a galera, que as pessoas gostavam, eu estou tentando resgatar de algum jeito e colocar na forma da Sandra. Os impulsos são outros, a Cristina era movida por um amor de um único homem, que não via e não reconhecia, não aceitava esse amor. Ela era uma mulher mal resolvida com tudo isso. A Sandra, o objetivo dela é grana, é se dar bem. Ela é ambiciosa. Então, ela é uma mulher bem pragmática. Para ela, não existe o amor, o gostar, não há empecilhos para ela. As motivações são bem diferentes e ela é uma mulher muito bem resolvida com a sensualidade, com a sedução com os homens. Então, são caminhos diferentes.
Almanaque da Cultura: Sandra chega ser uma alpinista social?
Flávia Alessandra: Não! Ela é sobrinha da personagem da Eliane Giardini. Está tudo perfeitinho na vida dela. O tio, que falece logo no primeiro capítulo, era quem tinha o dinheiro. Então, eles cuidaram de mim e do meu irmão muito bem. A minha vida estava garantida, estava tudo certo. De repente, a tia revela que tem um filho. Ela perde o chão. Ela é uma mulher que não programou se casar, que pretendia seguir a vida, tocar e ter dinheiro. Quando ela vê isso em perigo, tudo muda para ela.
Almanaque da Cultura: Tem alguma coisa nela que se aproxima de você?
Flávia Alessandra: Ah sim, várias. Ela tem muito humor, ela é irônica, ácida. E eu sou uma pessoa assim às vezes: à flor da pele de vez em quando, porque todas nós temos TPM. Enfim, tem vários pontos. Tirando a vilania dela. Esse lado realmente eu não tenho. E me divirto com ele.
Almanaque da Cultura: Existe a possibilidade dela se apaixonar pelo personagem do Sergio Guizé?
Flávia Alessandra: Ela chega a dizer que ele pode ser um capeta que, se necessário for, se casa com ele. Não por amor, mas para ela ter dinheiro. Na minha cabeça, poderia ter alguma relação de amor com o personagem do Eriberto Leão. São os dois vilões que se encontram, que são os que almejam se dar bem. Quando a gente teve um encontro lá atrás com o Walcyr Carrasco, me lembro que o Eriberto brincou: ‘é o encontro dos dois, uma paixão, tem um fogo’. E o Walcyr disse que não tinha nada disso. Que a Sandra não se apaixona, não tem amor. O que ela quer é se dar bem. Enfim.
Almanaque da Cultura: Nem fogo ela tem?
Flávia Alessandra: Fogo é o que ela mais tem (risos). Ela usa a arma da sedução direto, com todos os homens e se dá muito bem. Ela sabe bem como usar isso e é muito bem resolvida com isso. Mas, uma fingida, né? Porque, para a tia, ela é pura.
Almanaque da Cultura: Mais uma vez ao lado de Walcyr Carrasco, né?
Flávia Alessandra: É uma delícia. É muito bom de novo, a vida estar coincidindo para eu trabalhar de novo com o Walcyr e com o Jorginho, né? A dupla que eu peguei em “Alma Gêmea”. Então, é um encontro de almas novamente. É muito bom.
Almanaque da Cultura: O Walcyr disse que usa muitas referências do cinema. Você também se inspira atrizes daquela época?
Flávia Alessandra: A gente se inspirou em várias. É claro que eu revi todo o universo de Bette Davis com aquela secura, aquela ironia e aquela vilania sempre dela, impressionantes. Revi vários filmes de época, assisti outros novos. Tem sido um trabalho de casa direto, até incorporar e se tornar automático tudo o que era da época. E a Sandra, a gente construiu em cima de um mix da Marilyn (Monroe) com a Grace Kelly. Porque ela tem o seu lado princesa, chique e classuda, com a sensualidade, o fogo, aquela coisa à flor da pele da Marilyn. A gente conseguiu unir as duas ali.
Almanaque da Cultura: Cabelo platinado também faz parte da estética da época?
Flávia Alessandra: Totalmente. Uma das questões da gente ter colocado o platinado é que o Walcyr disse que a Sandra era a personagem mais “prafrentex” do seu tempo e a que mais recebia influências dos anos 50. E quem ditava moda, naquela época, eram as divas de cinema e o platinado é quem veio nessa época bombando.
Almanaque da Cultura: Dá muito trabalho manter a cor?
Flávia Alessandra: Não dá trabalho. É uma delícia. O que dá trabalho é época, a gente não poder ter uma raizinha. Como essas mulheres conseguiam? Tudo bem que elas não apareciam o tempo inteiro, a gente não tinha essa mídia massificada de hoje.
Almanaque da Cultura: Como foi essa transformação toda?
Flávia Alessandra: Eu não tive que descolorir o cabelo. E nem estou, porque meu cabelo já responde nesse tom por ser louro escuro. Então, não estou descolorindo, é só uma tinta. Mas, a manutenção é grande por ser época. Nasceu uma raiz, eu já estou lá de novo, retocando. Não tem tempo certo, mas pelo menos uma vez por mês, a cada 15 ou 20 dias.
Almanaque da Cultura: E os cuidados?
Flávia Alessandra: Ele não está desgastado, porque não chegou a passar pelo processo de descoloração, que é o que traz sofrimento. E agora, só retoque de raiz. Cuido como cuidei a vida toda, para toda pessoas que inventa moda no cabelo: com hidratações semanais, mas eu faço em casa. Tenho o meu kit e faço em casa.
Almanaque da Cultura: Você dá dicas à Giulia sobre outras coisas da profissão, como postura?
Flávia Alessandra: Eu continuo passando para ela a visão que eu sempre tive da nossa carreira, que é difícil, uma loucura. Digo para ela continuar com o foco nos estudos, que é o que você ama, mas a gente tem que ter um plano B até a coisa dar certo e decolar. A gente começou na mesma época, com a mesma idade. Isso é muito louco. É quase que a mesma história se repetindo. Mas, eu acho que a maior diferença e que ela vai ter que saber lidar com isso melhor do que eu – é claro que ela já nasceu de uma forma muito exposta, sendo filha de duas pessoas públicas. Mas, quando eu comecei, com 15 anos, não havia essa rede social inteira, não havia esses paparazzos, não havia sites, não era assim. E ela já vive isso.
Almanaque da Cultura: Ela sempre lidou com isso?
Flávia Alessandra: Sim, mas sendo filha, não estando como agora, ali exposta. Como atriz, e, não só como a minha filha. Eu não sei como ela vai reagir a isso. Por exemplo, para ela conseguir tomar um porre vai ser difícil, para ela conseguir fugir com as amigas vai ser difícil. Coisas que a gente fazia e que todo mundo fez. Eu digo que ela vai ter que saber conviver com essa nossa realidade que eu não vivi, graças a Deus.
Almanaque da Cultura: Você falou sobre Plano B. Você teve um à vida quase inteira focada na dramaturgia?
Flávia Alessandra: Eu sou advogada e demorei um tempo para acreditar que poderia viver da minha profissão. Passei uns dez anos pagando a OAB, até que minha ficha caiu e eu vi que deu certo.
Almanaque da Cultura: A sua mãe fez para você, o papel que você está fazendo com a Giulia?
Flávia Alessandra: Meus pais sempre foram dedicados a mim, meu pai, principalmente, porque era militar. Ele me apoiava, mas era muito rigoroso com isso. Ele era quem levantava a bandeira de que mulher tinha que ser independente, de que eu tinha que ter o meu trabalho e o meu sustento. É o que eu passo para ela também. Quero que ela continue com o foco nos estudos. Ela quer fazer cinema e nós damos o maior apoio.
Almanaque da Cultura: Você ficou fora da televisão desde “Além do Horizonte”. O que fez nesse período?
Flávia Alessandra: Eu consegui ficar fora um ano e pouco, graças a Deus. Fiz um filme no ano passado, que deve ser lançado este ano. Eu consegui colocar ordem na casa, à gente acabou de construir uma casa. Coloquei ordem na vida, nas filhas, meus exames. Quando a gente está em novela, a vida realmente para. E eu estava emendando. Em cinco anos, tinha feito seis novelas. E eu não estava conseguindo cuidar de mim, administrar a casa. Então, eu precisava de um tempo e vocês também precisavam de férias de mim (risos).
Almanaque da Cultura: E conseguiu?
Flávia Alessandra: Foi bom porque eu consegui colocar ordem em tudo, respirar, viajar com a minha família, coisa que eu não fazia há muito tempo. Papai, mamãe, irmão e irmã, foi uma delícia. Não sei se vou conseguir fazer isso de novo na vida, porque estamos todos crescidos, casados e com filho e fica cada vez mais difícil.
Almanaque da Cultura: Projetos além da novela?
Flávia Alessandra: Eu gravei o filme “Doidas e Santas”, que a previsão era lançar agora neste segundo semestre.