Ator, roteirista, produtor e diretor, o capixaba Leandro Soares é um dos responsáveis pelo fenômeno da série “Vai Que Cola“, do canal a cabo Multishow, que chegou ano passado aos cinemas e já soma mais de 3 milhões de espectadores. Formado em Artes Cênicas pela UniRio e em direito pela UERJ, o roteirista que despontou na mídia ao dar vida ao protagonista da série “Morando Sozinho”, da mesma emissora, é, sobretudo, um realizador.
Partindo da premissa de que “tudo rende um bom roteiro”, Soares revela em entrevista ao Almanaque da Cultura estar sempre atento aos fatos que o cercam, os detalhes que tornaram o “Vai Que Cola” um sucesso e ainda antecipa três novos projetos: “Há uma adaptação de um romance do Balzac (meu escritor preferido) para cinema (…) uma adaptação de “O Inspetor Geral” com minha companhia de teatro e um projeto de longa metragem da minha websérie do YouTube, ‘Longe do Reino'”.
Gênio, gênio, gênio!! E o privilégio que é ter esse cara na vida. Já tava com saudade. ????
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Almanaque da Cultura: Qual o segredo de um bom roteiro?
Leandro Soares: Olha, qualquer resposta assertiva que eu desse aqui, poderia parecer um bocado cretina. Então respondendo de forma não tão estrita, acho que o segredo do bom roteiro está em explorar seu próprio segredo, seja ele qual for. Tem roteiro que se conecta na hora com quem assiste de uma forma afetiva, tem roteiro que é gostoso de ler/ouvir, tem roteiro que tem algo que a gente quer descobrir, e não consegue desgrudar os olhos; tem roteiro que é estranho e mesmo assim a gente se sente atraído por ele, e tem roteiro que a gente não consegue entender por que é que gosta, mas gosta! Acho que não tem um segredo pra escrever roteiro, tem vários. Inteligente é o roteirista que conhece muitos desses segredos. E às vezes é tão bom a ponto de inventar os próprios. Por exemplo – sem nem entrar no mérito da direção – olha os roteiros do Kubrick. Cada um é um. E são todos incríveis.
Almanaque da Cultura: Em um mundo moderno e instantâneo, quais os desafios de se criar um bom roteiro hoje?
Leandro Soares: O desafio é ser capaz de capturar um espectador que é naturalmente mais disperso, dada a quantidade de informação a que ele é submetido hoje em dia. No “Vai Que Cola” a gente trabalha com a ideia de que o espectador pode deixar a TV ligada e fazer outras coisas enquanto assiste: ir lá dentro pegar um copo d’água, mexer no Instagram ou até preparar uma comida enquanto só escuta, que ele não perde o que está acontecendo. Porque a narrativa é bem simplinha (no bom sentido!), ele pode pegar de qualquer ponto e se divertir com as piadas, os improvisos, os números de Ferdinando, os erros etc.
Almanaque da Cultura: Para ser um bom roteirista é necessário ser um bom observador?
Leandro Soares: Com certeza. E também é importantíssimo ser um leitor. Ler sempre. E falo de literatura, especificamente. Ver muitas séries e filmes é excelente, mas as grandes narrativas e os personagens mais profundos estão na literatura, sem dúvida.
Almanaque da Cultura: Como foi sua entrada na equipe do “Vai que Cola”?
Leandro Soares: O canal me encomendou um programa naquele formato: diário, quarenta minutos, com palco giratório e plateia aparente, para o Paulo Gustavo protagonizar. A história e os personagens nela envolvidos ficaram por minha conta.
Almanaque da Cultura: Como foi desenvolvido o argumento para o “Vai Que Cola – O Filme”?
Leandro Soares: Eu pensei que no filme precisávamos ter tudo aquilo que na série não aparece, mas o público é doido pra ver: externas, praia, confusão na rua, o bairro do Méier, o bairro do Leblon etc. Ao mesmo tempo era preciso mostrar a pensão que o público aprendeu a amar. Daí veio a ideia de começar no Méier e ir com os personagens para o Leblon. Pra ver o pessoal do subúrbio “causando” na Zona Sul.
De todos os personagens que eu escrevi na vida, o que mais amo foi pra ele. Meu ídolo!
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Almanaque da Cultura: Você esperava que o programa virasse este fenômeno que gerou um filme?
Leandro Soares: A gente pensou o projeto pra ser um sucesso, claro. Houve várias estratégias envolvidas nisso, no lançamento, na divulgação. Mas claro que um sucesso desse tamanho todo nos surpreendeu e nos deixou muito felizes.
Almanaque da Cultura: Você acredita que a realidade do dia a dia presente nas personagens de Vai que Cola, é o que aproxima elas do público?
Leandro Soares: Com certeza! Acho que essa é a chave: os personagens do Vai Que Cola são arquétipos. Todo mundo conhece “uma Jéssica”, “uma Terezinha”, e por aí vai. Esse tipo de identificação é fundamental num projeto popular.
Almanaque da Cultura: Os personagens de Vai que Cola evoluíram a cada temporada, como foi para você pensar essa evolução?
Leandro Soares: É um paradoxo, porque a gente precisa mudar “sem mudar”. Eles precisam caminhar, evoluir de certa forma. Mas sem perder as características que fizeram o público se apaixonar por eles.
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Almanaque da Cultura: Como você faz para dar conta de tantas funções: ator, roteirista e produtor?
Leandro Soares: É difícil mesmo, às vezes é preciso acelerar muito, às vezes é preciso dormir pouco. Mas quando a gente é jovem a gente faz esse tipo de coisa mesmo. Quando eu for mais velho e tiver filhos, com certeza eu vou querer baixar esse ritmo.
Almanaque da Cultura: Você sente mais facilidade em escrever comédia?
Leandro Soares: É um gênero que eu adoro. Mas não é “o” meu preferido. Costumo brincar que comecei escrevendo comédia porque era a vaga que tinha, o emprego que me ofereceram (risos). Mas sem dúvida o meu gênero preferido é o suspense, ou o thriller. Mas esses dois gêneros têm uma característica muito semelhante à comédia: é preciso surpreender o tempo todo, puxar o tapete e desestabilizar o espectador. E são gêneros que exigem uma precisão matemática muito grande, uma “engenharia” narrativa complexa. Eu não era bom em matemática no colégio… Mas adoro matemática nos roteiros. O que não significa que a escrita seja uma ciência exata. Longe disso! Mas há muita matemática em escrever.
Almanaque da Cultura: Já tem argumentos prontos na gaveta? Quais os novos projetos?
Leandro Soares: Tenho muitos! É difícil dizer quais são os próximos porque realizar no Brasil é sempre uma odisséia, a gente nunca sabe o que vai sair primeiro e se vai mesmo sair. Mas posso dizer que há uma adaptação de um romance do Balzac (meu escritor preferido) para cinema, todo ambientado no Brasil atual. Há também uma adaptação de “O Inspetor Geral” com minha companhia de teatro e um projeto de longa metragem da minha web série do YouTube, “Longe do Reino”.