Rodrigo Lombardi é o capitão Ernesto Rosa em “Velho Chico“, nova trama da TV Globo. Em conversa com o Almanaque da Cultura, o ator falou um pouco do novo projeto e do inesquecível Alex, de “Verdades Secretas“.

Como surgiu o convite? Você titubeou para aceitar?
Com o Luiz Fernando Carvalho a gente não titubeia nunca. A gente reza para ser chamado. Quando fui chamado fiquei muito feliz! Essa dobradinha de Luiz Fernando Carvalho e Benedito Ruy Barbosa não dá para falar não.

Pode falar um pouco do personagem?
Ele é um capitão de formação. Ele chega à cidade dominada pelos coronéis e entra em conflito com Jacinto, personagem de Tarcísio Meira. Isso é o que da inicio a história da novela. Essa briga de famílias e de poder. Que depois vai virar um romance. Que depois virará um folhetim clássico que a gente conhece. É uma jornada bem épica. Descobri um Brasil que eu não conhecia. As pessoas vão amar a trama. É isso que a gente estava precisando.

Rodrigo Lombardi é o Capitão Ernesto Rosa em “Velho Chico” (Foto: Globo/ Caiuá Franco)

A trama mexe bastante com o Lúdico. Você acha que estava faltando isso na trama das 21h?
Eu acho que estava faltando uma mistura e essa novela tem isso, que é um universo lúdico com a realidade. E, eu acho que isso vem na forma de esperança. A gente perdeu a nossa identidade no passar dos anos. A gente está correndo atrás do prejuízo. A gente esquece o que a gente é. Essa novela vem para resgatar isso. Para mostrar uma brasilidade que a gente deixa de lado. O Brasil é um Brasil da agricultura. Sem foi e sempre vai ser. E, é disso que a gente está falando aqui.

Como é o figurino do seu personagem?
É algo bem leve. Graças a Deus. O meu personagem só tem o necessário. Uso muito linho e muito algodão. Ele é um cara simples, um cara braçal. Ele precisa ter mobilidade. Ele é bem simples e bem cuidado.

Em “Verdades Secretas” você interpretou um personagem bem denso. Agora zero vaidade. Como foi compor o capitão Ernesto Rosa?
A vaidade é uma coisa pesquisada pelo ator. O ator não pode ter ela. Então, tem muita gente que fala que o Rodrigo vem construindo vários galãs. Falam que com o Rodrigo sai na urina. Não é assim. É muito mais difícil. Poucas pessoas sabem, mas meu trabalho na tevê vem de 12 anos para cá. Entretanto, eu vim da comédia. Eu vim de teatro de composição de personagens. Quando me colocaram nesse lugar de galã, comentaram que eu só faço galã. E, não é assim. As palavras vão tomando uma proporção equivoca ao longo do processo. O grande trabalho de um personagem e outro é o trabalho de se desconstruir. Depois que esse personagem acaba, o trabalho de desintoxicação dele é as vezes prazeroso, as vezes difícil, as vezes é doloroso. No caso de Alex de “Verdades Secretas”, foi um trabalho prazeroso. Porque mexia com uma energia que eu não gostava. Mas, que a gente precisa acessar. Se não, a gente perde a função. No dia seguinte, após o termino de “Verdades”, comecei participar do espetáculo Urinal – O musical. Um projeto de composição. Um trabalho de minha raiz. Algo que eu adoro. Nesse espetáculo eu ainda estava me desintoxicando de “Verdades”. Nesse meio tempo, junto com tudo isso, começaram os trabalhos aqui. E, ai o trabalho para essa novela foi bem rápido. Então foi nascendo outra coisa. As vezes você para construir um personagem. Mas as vezes ele vem para você, sem você perceber. Você não sabe olhar para trás e não sabe como ele nasceu. É o caso o capitão Ernesto Rosa. Eu não sei como eu parei a minha vida para começar olhar para ele. Quando eu vi, ele já estava construído.

Rodrigo Lombardi em ‘Verdades secretas’ (Foto: TV Globo)

Esse rótulo de galã incomoda você?
Já incomodou. Hoje não incomoda mais não. As coisas que as pessoas falam são delas, né? Não é o rótulo que eu vou chegar e usar no meu trabalho. Né? Luiz Fernando Carvalho sempre fala que não podemos pensar no Ibope. Não dá para pensar no Ibope e não dá para pensar nesse rótulo. Dá para eu pensar no meu trabalho.

Como foi reencontrar o Luiz Fernando Carvalho?
Ele me deu a oportunidade de voltar para a minha raiz que é o trabalho de composição. O trabalho de corpo, que é o trabalho de voz, etc. Estamos aqui a serviço de um todo.

Como foram esses ensaios no galpão onde vocês foram preparados?
A gente transpira muito aqui. A gente faz desde trabalho de corpo, de musculação, abdominal, a gente faz leituras, faz exercícios, a gente propõem cenas. A gente dialoga. A gente pega aquelas máscaras, que é um trabalho que dura de 4 a 6 horas. Fazendo um exercício. Um trabalho de corpo, a gente acaba conhecendo todas as articulações. Você vai se pesquisando. É um trabalho de você para você mesmo. É um trabalho de autorreflexão. É bonito. No meio do exercício, que não tem nada a ver, você começa a chorar. Você começa conhecer lugares dentro de você, que você não fazia ideia. É um trabalho muito bonito.

Rodrigo Lombardi interpreta o capitão Rosa, que leva tiro (Foto: Globo/ Caiuá Franco)

Esse trabalho ajuda você não levar a carga do personagem para casa?
Não sei. Você acaba levando sim. Não tem jeito. Você não pode ser o personagem dentro de casa. Mas essa sensação fica. A gente se torna um ator que a gente se torna ao longo dos anos, porque a gente é impregnando dessas sensações. Algumas a gente abandona por causa de novos trabalhos. Outras a gente revisita. Elas precisam ser estimuladas a todo tempo. Elas precisam ficar a flor da pele, para usarmos quando quiser.

Você vai participar somente da primeira fase?
Não migro para a segunda fase. Já terminei de gravar as minhas cenas. Eu adoraria continuar.

Sua primeira trama em emissora de tevê foi “O Meu Pé de Laranja Lima”, que foi exibida na Band. Quando você entrou nesse personagem você lembrou da trama de 1998?
A gente sempre lembra. “O Meu Pé de Laranja Lima” é um clássico. Antes de fazer eu já tinha lido a obra, que é algo que eu sempre gostei. E, fazer parte dessa trama foi muito importante para mim. Fazer cena Gianfrancesco Guarnieri ser dirigido Henríque Martins. Aprendi bastante com eles. Henríque Martins foi um grande galã no passado. O tempo vai passando e você vai juntando esses momentos, e, é isso que faz você virar história.

Rodrigo Lombardi posa para a entrevista (Foto: Alexandre Sant’Anna/Revista Contigo!)

O que você guarda do Rodrigo do início de carreira?
A infância. Eu tenho uma criança dentro de mim. Ela tenta crescer e, eu tento não deixar. E, essa criança continua aqui. Quando ela tentou crescer, eu tive um filho que alimentou essa criança dentro de mim.

Falando dessa criança interior. É verdade que você é nerd?
Sou! Eu assisti recentemente Star Wars: O Despertar da Força. Jogo videogame. Amo jogar! Meu sonho é ser um X-Men. Ser um dos vingadores. Esse universo muito me agrada em si.

Entre o Wolverine e o Capitão América, qual o herói você gostaria de interpretar?
Entre esses dois eu gostaria de ser o Wolverine. Entrar nesse universo, que é o universo onde eu nasci, que é o da construção, que eu volto a falar. É onde resulta tudo isso que a gente gosta. É aonde eu vou pesquisar. Seja até para o Alex de “Verdades”. É o meu material de pesquisa. Como eu vou transformar isso em uma coisa mais visceral. Já é um outro trabalho que entra em uma outra seara. O meu trabalho de construção vem todo por ai. Eu tenho que ir para o mundo dos sonhos mesmo que seja para fazer algo que não é nada. Eu tenho que beber ali. Se não, eu não consigo fazer.

“Caminho das Índias” está reprisando. Como está sendo o assedio nas ruas?
A aceitação está sendo muito boa. As pessoas gostam muito. É um pouco deprimente eu me ver na tela tão novinho. Mas é gostoso rever momentos. Eu vejo a novela e sinto cheiros. Tudo continua muito vivo em minha memoria. É algo impressionante.

Rodrigo Lombardi e Juliana Paes em “Caminho das Índias” (Foto: Rafael França / TV Globo)

Tem um ator e músico guatemalteco-americano que se parece muito com você. As pessoas já falaram isso para ti?
É o Oscar Isaac. As pessoas sempre falam disso. Ele é um baita ator. Adoro ele. Tem alguns filmes dele vindo por ai que são incríveis.

A Rede Globo comemorou 50 anos no ano passado. Qual o papel na dramaturgia que você queria ter feito?
Eu fiz! O Herculano Quintanilha de “O Astro”. Eu queria ter feito. E, ele caiu na minha mão.

Quando você leu a sinopse de “Verdades”, você imaginava que o Alex seria esse sucesso todo?
Eu sabia que eu tinha um bom personagem na mão. Sucesso a gente nunca sabe que vai ser. Eu fiz alguns personagens aqui na casa, que foram incríveis, e, que não fez um grande sucesso. Um exemplo, o Ciro Feijó de “Desejo Proibido”, eu tenho um carinho imenso por ele. Muita gente cita.

Para um projeto dar certo, o bastidor deve estar em harmonia?
Tem que estar em harmonia sim. O sucesso não tem receita. Se tivesse, todo mundo copiava. Eu acho o teatro é convivência. Se você está mal no bastidor, isso se imprime na cena. Aqui na novela, um é apaixonado pelo outro. A gente constrói isso.