Selton Mello será protagonista da série “Ligações Perigosas“, baseada no livro homônimo do escritor francês Pierre Choderlos de Laclos, que tem estreia prevista para janeiro de 2016 na TV Globo. Em uma conversa com o Almanaque da Cultura, o ator e diretor falou de sua volta à telinha e confessou que esse projeto o motivou muito. “Desde ‘O Auto da Compadecida’ e ‘Os Maias’ que eu não ficava tão entusiasmado com um trabalho como essa aqui. Acho que isso diz muito”, relatou o artista.
Almanaque da Cultura: Como está sendo retornar à televisão e por que aceitou participar de “Ligações Perigosas”?
Selton Mello: Fazia tempo que eu não atuava. Meu último trabalho na Globo foi a série “A Mulher Invisível”, que foi exibida em 2011. Fiquei dedicado três anos ao seriado “Sessão de Terapia”, que foi exibido no GNT, projeto que eu tive o prazer de dirigir. Quando me convidaram para participar da série “Ligações Perigosas” fiquei louco, porque a minha geração viu o filme homônimo, que passou na televisão na minha época. A versão mais famosa, de 1988, foi dirigido por Stephen Frears e baseado no clássico da literatura francesa “Les liaisons dangereuses”, de Pierre Choderlos de Laclos. Os personagens dessa série são incríveis. São personagens clássicos, extraordinários e maravilhosos. De cara eu gostei da ideia. Nunca trabalhei com a Patrícia Pillar, nunca trabalhei com a Marjorie Estiano. Esse é o triangulo principal. Tenho total admiração pelas duas. Fiquei com muita vontade de trabalhar com elas. Então acho que foi uma combinação de coisas. Um grande personagem, perfeito para a minha idade e a maturidade que eu estou agora. Tudo se encaixou, foi uma boa junção.
Almanaque da Cultura: O que podemos esperar de “Ligações Perigosas”?
Selton Mello: O público pode esperar um projeto lindo. Desde “O Auto da Compadecida” e “Os Maias” que eu não ficava tão entusiasmado com um trabalho como essa aqui. Acho que isso diz muito.
Almanaque da Cultura: Como foi a composição desse personagem tão sedutor?
Selton Mello: O ator é observador e não para de ler. Aliás, se não ler, está perdido. De ler, de se preparar, estudar, ficar de olho na vida e tudo. Então, não foi exatamente uma preparação. Eu li o roteiro e acabei entendendo o personagem. Entendi a lógica dele. Anos 20, outros conceitos, outra época da sociedade, outra maneira de se comportar, outro raciocínio, outro tudo. O elenco inteiro, ao lado da Manoela Dias, que é adaptadora e escritora da série, leu o roteiro junto. Ela fez um excelente trabalho, porque o livro original é só de carta. Então, pegar um livro que é só de carta e transformar em dramaturgia e diálogo não é fácil e tem um mérito dela. A direção do Vinicius Coimbra e da Denise Saraceni está linda. Está muito requintado, muito caprichada a fotografia, figurino, direção de arte.
Almanaque da Cultura: E, essa troca com a Patrícia Pillar?
Selton Mello: Está sendo maravilhoso! Uma companheira maravilhosa, descobri que ela é capricorniana que nem eu. Não sabia! Então, são dois obsessivos. Os personagens, são uma dupla de ex-amantes ou atual – o relacionamento deles é meio louco, que acabam seduzindo a sociedade toda. Por prazer, para testar as pessoas ou para si testar e ver que todos são vulneráveis, menos eles. Então, é uma trama muito boa, muito rica de sedução, de traição, de amor – ai entra o personagem da Marjorie Estiano. No meio disso, ele vai seduzir o personagem da Marjorie Estiano e, ele acaba se encantando. Ai, perde as estribeiras do jogo, que estava sendo traçado com a personagem da Patrícia Pillar. Costumo dizer, que é sempre bom revisitar um clássico. Um livro de 1782, que continua atual. A série se passa nos anos 20, no Brasil, numa adaptação pra gente. Entretanto, as tramas e a humanidade do personagem permanece ali.
Almanaque da Cultura: Qual foi a principal dificuldade em criar esse personagem?
Selton Mello: Acho que quando você está apaixonado por uma coisa que você está fazendo, e eu estou, não se tem dificuldade nenhuma. É um prazer enorme estar aqui, não estou aqui fazendo mais um trabalho. Estou aqui, porque eu quero muito estar aqui. Estou adorando as pessoas, a equipe. Estou meio apaixonado pela Aracy Balabanian. A gente está quase tento um caso (risos). A classe toda fala muito bem dela. Nunca tinha trabalhado com ela. A gente tem uma relação gostosa, do outro lado do personagem. De tia com o sobrinho. E ela é muito gente boa, muito divertida. A gente morre de rir de suas piadas. Eu tenho um carinho enorme pela Aracy. Estou adorando trabalhar com ela também.
Almanaque da Cultura: A cenografia ajuda a compor o personagem?
Selton Mello: Ajuda muito! Interessante essa pergunta. Muitas vezes a gente ler, estuda, se prepara e tal. Mas, quando você coloca a roupa do personagem e chega ao lugar para gravar, já muda a sua postura. Então, o trabalho da equipe é muito bom. Ajuda muito na composição.
Almanaque da Cultura: Você está falando que está muito apaixonado pelo projeto. O que você ainda pensa em viver na TV?
Selton Mello: Eu não sei! Eu nunca pensei nisso.
Almanaque da Cultura: Qual é a sua maior inspiração?
Selton Mello: Minha maior inspiração é continuar fazendo trabalhos que me motivem. Que entregarei para o público algo do coração, como é esse aqui.
Almanaque da Cultura: Como diretor hoje, você vê o trabalho de ator de uma forma diferente?
Selton Mello: É tudo diferente! Pois, eu sei o que acontece por trás. Agora que eu vivi o outro lado, eu sei o trabalho que dá. Tem trilha, edição, etc. Mas, é ótimo quando eu atuo, que eu me sinto mais leve. Porque entre aspas, é mais fácil. Assim, eu só tenho que pensar no meu. Sabe? Quando eu dirijo, eu tenho que pensar em tudo. O que é muito prazeroso também. Mas, o fato de ter dirigido me deu a dimensão daquela coisa inteira. Isso é bom, é legal assim. Hoje, eu fico em cena sabendo de todos os pepinos que tem por trás.
Almanaque da Cultura: Você sente falta em fazer novela?
Selton Mello: Não faço novela há 15 anos e continuo vivendo a minha vida, fazendo cinema, dirigindo cinema e televisão. Na série “A Mulher Invisível”, eu era um dos diretores. Eu estou bem realizado, fazendo as coisas que gosto. Acho que essas coisas de dirigir e atuar me dá uma mobilidade boa. Se quero dirigir, vou lá e dirijo e, se quero atuar, vou lá e atuo. Então, isso nunca me deixa ficar entediado ou ficar fazendo um trabalho burocrático. Estou sempre inteiro onde eu estou.
Almanaque da Cultura: Muita gente cobrava para você voltar para a televisão?
Selton Mello: Não! A cobrança tem sido de um ou outro, que me para e pergunta sobre a minha volta: “que saudade de ver você na televisão”. Acho legal, essa galera que me acompanha desde criança. Pra mim, tem um sabor especial. Eu comecei na TV Globo em 84, na novela “Corpo a Corpo”, de Gilberto Braga. Isso em 84, ou seja, 31 anos de carreira. Entrei com 11 anos de idade. Então, tem muita gente que trabalha aqui, que me conheceu criança. Muita gente comenta que nos intervalos eu ficava mexendo na câmera. Já era o diretor que viraria a ser no futuro. Ou seja, eu já me interessava pelo que tinha por trás. Como eu cresci aqui dentro, isso era o meu parque de diversões. Aqui foi o meu mundo, a minha imaginação, foi aqui que eu aprendi e exercitei.
Almanaque da Cultura: Você começou muito cedo na profissão. Como você vê essa galera que não querem ser ator/atriz, e, sim, celebridade?
Selton Mello: É escolha de cada um. Uma coisa geracional também. Não sei. Na verdade, sempre teve bons e maus atores. Sempre teve. Mas, tem muita gente boa. Olha a Grazi Massafera. Arrasou em “Verdades Secretas”. A gente trabalhou juntos no filme Billi Pig (2011). Ela é muito dedicada. Eu sacava que ela estava querendo ir além. E, agora você vê o sucesso que ela está fazendo. Merecidíssimo! E, tantas outras pessoas.