Boni discorda de algumas sátiras do ‘Tá no Ar: A TV na TV’

Em entrevista no rádio, diretor também fez críticas ao Jornal Nacional e falou sobre "Os Dez Mandamentos", da Rede Record

Boni, um dos maiores nomes da televisão brasileira esteve nesta sexta-feira, 18 de março, no programa “Morning Show”, da Jovem Pan. Durante a entrevista, ele falou sobre o papel dos veículos de comunicação à frente de grandes acontecimentos políticos, como os que estamos vivenciando atualmente.

Para Boni, as emissoras de TV e rádio devem sim manifestar sua opinião claramente e deixa claro que manifestar não é manipular. “As emissoras nos EUA tomam partido, no Brasil ainda não existe isso, mas acredito que é um direito que a emissora tem de manifestar sua opinião (não manipular) mas expressar sua opinião. As emissoras não tiveram ainda a coragem de manifestar o que pensa de forma explícita. Isenção não existe!”

Caso Collor x Lula em 1989

O Diretor comentou também sobre a exibição do debate entre Fernando Collor e Lula em 1989 e afirmou que houve uma edição tendenciosa, mas, que na sua opinião não influenciou no resultado das eleições naquele ano. “O Collor foi preparado para o último debate na TV Bandeirantes com o Lula e eu fui o responsável pela preparação dele. O Dr. Roberto Marinho me pediu para ajudar nesse sentido, pois ele acreditava no Collor, não por ideologia, mas como todos nós acreditávamos, tínhamos esperança nele naquela época. A orientação, obviamente, era para que não houvesse nenhum tipo de edição favorecendo nenhum dos candidatos, mas, de repente alguém da redação mais ‘Lulista’ fez uma edição favorecendo mais o Lula e isso foi exibido na primeira edição. O Dr. Roberto evidentemente ficou furioso e mandou reeditar e eu vejo que na primeira edição o Collor ganhou de 2×1 e na segunda edição de 7×1. Eu estava em Angra e tomei um susto! Não acredito que isso influenciou, pois a audiência mostrou que a maioria viu ao vivo, mais do que as edições, mas claro que não é algo correto. Depois disso teve a regra na Globo de nunca mais mexer em nenhum debate”, explicou o convidado.

Voltando para os dias atuais, Boni acredita que nenhuma emissora está sendo tendenciosa… “Todos os veículos estão cumprindo o sagrado dever de informar. Não vejo em nenhum, nenhuma tendência contra o Lula, pois o que as emissoras estão fazendo é defender o país.”

Mudanças no Jornal Nacional

O principal telejornal da Rede Globo sofreu nos últimos tempos modificações e Boni disse já algumas vezes ser contra. No Morning Show ele explicou o motivo de ser mais conservador com esse tipo de produto. “Quando você se torna muito informal, você deixa de ser institucional. Um jornal naquele horário não é igual o jornal de meio dia, é jornal de horário oficial. Tudo o que tinha que ser dito já foi, ao invés de trazer novidade ele traz coisas mais sérias, aprofundadas, como se falando assim ‘isso aqui é verdade’. Em outros países esse tipo de jornal é lido por um apresentador só, sem cacoetes, sem gracinhas, porque as pessoas querem saber se tudo o que foi falado no dia foi realmente verdade, o que é a verdade.”

Foi levantada a questão do Jornal Nacional ser um pouco elitista e Boni opinou que quem faz o Jornal Nacional não pode ter a preocupação de quem vai ou não entender a notícia. “A única preocupação que tem que ter é informar. Se a pessoa entende ou não entende, não é preocupação sua. Você tem que ter sim notícias para todos os tipos de pessoas. A preocupação é que seja acessível mas não traduzir notícia (…) Quanto mais o público crescer e evoluir, vamos ter melhoria no público, audiência, e também nos clientes, aí consequentemente no faturamento.”

Boni discorda de algumas sátiras do “Tá no Ar: A TV na TV”

“O humor na TV brasileira foi para o espaço! Perdemos o Chico, o Jô que não faz mais, o Casseta & Planeta. Eles (Casseta) não tinham estrutura (…) O Adnet tem um talento muito grande, mas um programa se faz com muitos escritores… Tem que ficar atento, quando ele brinca com a televisão, a televisão é pobre. Quando se faz uma paródia com o João Kleber, está fazendo paródia sobre nada, pois ninguém assiste o programa dele (João Kleber). Vira uma piada interna! 90% das piadas do programa ninguém entende, pois ninguém sabe do que se trata!”, opinou Boni sobre os programas de humor na TV brasileira.

Novela “Os Dez Mandamentos”

Para Boni, uma novela como “Os Dez Mandamentos” não pode preocupar a Globo e ele explicou o motivo no Morning Show. “De vez em quando a concorrência trabalha e produz. Não tem um elenco tão grande e nem um staff como o da Rede Globo. A Globo não tem que se preocupar com isso, pois é difícil que a concorrência consiga produzir um outro “Dez Mandamentos” e não só um, tem que ter uma para às 18h, outro para às 19h, outro para às 21h. ”Os Dez Mandamentos” foi uma boa novela, Moisés é um bom personagem. Eu achava que tinha umas coisas até ridículas, aquelas pessoas de saia me incomodavam (risos). Foi uma boa novela, incomodou, mas passa, assim como Pantanal também incomodou, mas passa!”.

Extinção da programação infantil

Boni afirmou na Jovem Pan que é contra a extinção da programação infantil na Rede Globo e em outras emissoras da TV aberta. Para ele, é preciso dar uma atenção maior a quem será o telespectador do futuro. “Sempre procurei atender todos os públicos. Sempre fiz coisas para as crianças e não nos limitamos de trazer produções importadas, trabalhamos para fazer produções brasileiras para crianças. E isso acho que é essencial, porque ele é o seu telespectador do futuro. Hoje não há mercado comercial, não tem cliente interessado, porque no canal a cabo, no SBT, ele consegue com muito menos verba, a preço de banana, anunciar em produtos infantis. A televisão deveria, mesmo sem ter verba, fazer produção para criança com investimento dela, pois como falei é o telespectador do futuro”.

Queda de audiência

É evidente que nos últimos anos a TV aberta sofreu uma queda de audiência e Boni contou no Morning Show qual seria a saída para competir melhor com a TV a cabo e internet. “Quando se trabalha com eventos você compete com vantagem. O futebol, por exemplo, compete com qualquer coisa. Um acontecimento político compete, um especial para crianças compete. Então a TV tem que aproveitar oportunidades de fazer coisas que vai competir com o cabo, que cada vez mais tem uma grade engessada”.

Troca de apresentadores no Vídeo Show

Boni foi questionado pela galera do Morning Show sobre a troca de apresentadora do Vídeo Show, se ele achou que Monica Iozzi se mostrou ser mesmo uma apresentadora que faz a diferença. E ele opinou: “Se olhar para a audiência do programa, antes da entrada dela, depois, e depois da saída, não teve alteração na audiência. É muito relativo. Pode influir, mas é preciso primeiro saber quem está assistindo o programa nesse horário. Talvez a Globo não soube ainda identificar. A Mônica é muito boa apresentadora, o Vídeo Show é um bom produtor, mas não sei se é adequado para aquele horário. Não é um apresentador que faz um programa ser bom, é se o programa é adequado para o horário em que está sendo transmitido”.

Será que para ter credibilidade é preciso ser mais velho ou podemos ter apresentador mais jovens? O que Boni pensa sobre isso? No Morning Show, o Diretor afirmou que não é nada envolvendo o financeiro, é algo estético, e que foi mudando com o tempo. Mas ele vê que ainda há espaço para apresentadores, repórteres com mais idade por serem muito bons. “William Waack é um senhor, e nem é bonito. É uma corujinha velhinha. E é um grande apresentador”, exemplificou Boni.

Falando ainda de elenco da TV, Boni respondeu uma pergunta de um ouvinte sobre o teste do sofá, se existe ou não. “Se isso existisse a televisão seria muito melhor que ela é, com gente muito mais bonita!”

Futebol sairá da TV aberta

Na Jovem Pan Boni disse também os jogos de futebol na Rede Globo exibidos como são, prejudicam o principal produto da casa, que é a novela. “Acho ruim transmitir jogos de pouca importância, pois prejudica a principal atração da emissora, que é a novela. Você quebra a coisa mais importante que tem na televisão, que é o hábito. Acho que o correto e que acontecerá, é que o futebol vai parar no cabo. As pessoas pagando para assistir. A televisão vai sair da rotina de transmitir futebol, só as finais, jogos principais. Isso é algo que acontecerá com o tempo.”

Boninho

O convidado se emocionou ao falar do filho, Boninho…. “Boninho é o melhor Diretor de entretenimento que a Globo tem hoje. Muito carinhoso com as pessoas, detalhista, mas pai quer que o filho seja o melhor, e por isso dou uns puxões de orelha nele. Mas não dou conselhos para ele não, ele sabe o que faz, está extremamente atualizado de tudo. Ele faz direitinho!”