Curso em São Paulo investe na formação técnica de Drag Queen

Ator Zecarlos Gomes é o criador do Drag Queen Curso e pretende expandir a arte pelo Brasil

Atrás do brilho e das cores de uma Drag Queen existe um artista que precisa de técnicas específicas para que sua performance seja aplaudida. Foi pensando nisso, e com o intuito de quebrar preconceitos, que nasceu em São Paulo um curso que trata da cultura Drag com exercícios práticos e que oferecem subsídios para a construção da personagem em técnicas de maquiagem, dublagem, passarela e coreografia. 

Sobretudo vale destacar o caráter social do projeto que no dia a dia com salto ou sem salto, tem a principal função de permitir que meninos e meninas se apropriem de sua identidade de gênero e se enxerguem enquanto artistas, e que essas vivências sejam repassadas para as vidas pessoais dos alunos.

O Almanaque da Cultura conversou com Zecarlos Gomes, coordenador e criador do Drag Queen Curso que afirma: “É necessário mais ações para promover esses artistas”, destacando: “É necessário educarmos os ignorantes para o entendimento deste artista, essa é nossa função”.

Almanaque da Cultura: Como você identificou a necessidade de oferecer este tipo de formação?
Zecarlos Gomes: 
Começamos como um curso que surgiu em 2010 após frequentar alguns concursos voltados para este segmento. Além da possibilidade de passar embasamento técnico e artístico para os iniciantes, notei a importância social e política que viria com a iniciativa. Desde então, a cada turma que passamos se reforça ainda mais esse pensamento.

Almanaque da Cultura: Atualmente quem é o público que busca o curso de vocês? Existe um perfil?
Zecarlos Gomes: 
O público em geral é frequentado por homens em sua maioria gays e mulheres cisgêneras. A faixa de idade predominante varia dos 18 aos 30 anos. Na realidade, não buscamos segmentar nenhum tipo de perfil, trabalhamos justamente para que o contrário aconteça e que possamos ser uma grande ferramenta para a conscientização da igualdade.

O público em geral é frequentado por homens em sua maioria gays e mulheres cisgêneras (Foto: Divulgação)

Almanaque da Cultura: Como está o mercado de Drag Queen atualmente no Brasil?
Zecarlos Gomes: 
A drag cada vez mais vem conquistando seu espaço e popularizando-se quanto artista. Mas, ainda sim existem poucos espaços para a drag exercer sua arte performática. É necessário mais ações para promover esses artistas; as casas noturnas precisam acreditar e saber investir nesse segmento.

Almanaque da Cultura: Para participar é necessária alguma formação artística, ou na área de eventos e/ou entretenimento?
Zecarlos Gomes: 
Não. O curso acredita no aluno/criador. Trabalhamos com questões muito mais profundas em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Sabemos da importância social que carregamos junto com nossas aulas e nossa função é fazer com que eles, nossos alunos, sejam militantes e artistas provocadores para um novo pensamento.

Almanaque da Cultura: Quais as disciplinas envolvidas?
Zecarlos Gomes: 
Dinâmicas teatrais para construção da personagem, improvisação e exercícios de autoconhecimento. Na dança a partir das técnicas de coreografia, entramos com o movimento autoral de cada aluno. Já na maquiagem, ensinamos as técnicas e em cima delas, eles criam o desenho de sua personagem. Além disso, passamos noção de passarela.

Almanaque da Cultura: Você já sentiu alguma forma de preconceito por oferecer este tipo de formação?
Zecarlos Gomes: 
Sim! O mais comum é: “pra quê um curso de drag queen?”. O triste é ouvir isso de gays também. É necessária educarmos os ignorantes para o entendimento deste artista. Essa é nossa função, também.

Almanaque da Cultura: Em cinco anos vocês ganharam grande repercussão. Pretendem expandir o curso?
Zecarlos Gomes: 
Em 2015 o Drag Queen Curso deu um grande passo ao realizar o curso nas Unidades dos SESC Santana e Consolação em São Paulo. Lutamos para que nossa ação não caia na banalidade e definitivamente estar no SESC reforça a seriedade de nosso projeto. Já para 2016 estamos com novas regiões programadas em nossa itinerância e o objetivo é expandir para todo o país!