Sergio Santoian é um artista multimídia. O fotógrafo, e também ator, deu início há cerca de dois anos ao projeto “Ophelia Project“, trabalho baseado na morte da personagem Ofélia, do livro “Hamlet”, de Shakespeare. O trabalho virou calendário, ganhou uma exposição, virou livro, e em breve vai estrear como uma peça de teatro.
Em conversa com o Almanaque da Cultura, Santoian explicou que começou a carreira como fotógrafo por acaso. Estudou para ser ator e até se formou em artes dramáticas. Logo após a faculdade trabalhou em uma peça como ator, que também ajudou a produzir, e, em seguida, fez assistência de direção em um espetáculo para homenagear a coreógrafa Pina Bausch. Com o ultimato do pai, de que ele precisasse fazer arte ou entrasse para uma nova faculdade escolhida por ele, acabou, por um impulso, escolhendo a fotografia. “Achei que poderia fazer fotos para os atores mandarem aos produtores e agências. Comecei com uma Cyber-shot Sony, fui amadurecendo, trocando de equipamento e ganhei meu espaço”, relata. Sobre “Ophelia Project”, Sergio brinca: “Não esperava nem que fosse passar daquelas primeiras 12 fotos”.
Sergio Santoian (Foto: Reprodução/Facebook)Almanaque da Cultura: Como surgiu o “Ophelia Project”?
Sergio Santoian: Comecei a fazer muitas capas de revista, ensaios com atores, artistas, empresários, personalidades em geral, sempre algo mais comercial. Isso nos primeiros dois anos é incrível, mas depois já passa a ser mais comum, normal. Claro que acho incrível fazer revistas e fotografar personalidades que eu admiro. Apenas não queria fazer somente isso. E foi pensando nisso, que resolvi juntar a profissão de ator com a de fotógrafo e achar minha assinatura na fotografia. Um olhar mais teatral na fotografia. Um fotógrafo/ator que clica atores quase como que numa cena. A partir dessa vontade, criei o Ophelia project. Inspirado na morte da personagem Shakesperiana, tendo como base minha monografia de faculdade que falava sobre Hamlet – amor e Ophelia, passando ainda por Pina Bausch.
Almanaque da Cultura: No momento você está montando uma peça baseada em seu tema Ophélia?
Sergio Santoian: Ainda estamos no processo de montagem. Sobre ela não posso falar muito, porque ainda estamos em fase de captar apoios, patrocínios. Mas estamos na luta, ensaiando, fazendo leituras abertas. Queremos estrear no primeiro trimestre de 2016. O texto da peça acabou de ser lançado em livro (“Ofélia em Mim”, escrito por Franz Keppler) e o ator escolhido para o monólogo) é o Daniel Tavares. O Franz cita algumas composições das fotos, mas de maneira descritiva no texto, na fala do personagem. Ele usou a essência das fotos para ajudar a compor a história, inclusive no que diz respeito a termos um protagonista masculino, já que a maioria das fotos do projeto, são compostas por homens.
Almanaque da Cultura: Você imaginava que sua ideia fosse ganhar tantas linguagens?
Sergio Santoian: Não imaginava nem que ele passaria das 12 primeiras fotos do projeto.
Quando o criei, foi mesmo para que as pessoas, acostumadas a ver meu trabalho nas revistas num formato mais comercial, o enxergassem com um olhar mais conceitual, mais artístico. Talvez a verdade desse projeto, o amor com que crio cada imagem e a despretensão inicial, sejam a razão de ele ter ganho tanta vida, tantos desdobramentos.
Almanaque da Cultura: Você trabalhou com grandes nomes dentro das fotos de seu projeto como Reynaldo Gianecchini e Ney Matogrosso. Como foi lidar com tantos ídolos?
Sergio Santoian: Fotografo uma pessoa famosa como fotografo um anônimo, porque preciso que ambos me deem o melhor para meu trabalho. Lógico que sou humano e tenho meus ídolos. Fotografar Miguel Falabella e Ney Matogrosso para um projeto seu, sem precisar pagar nada aos caras que de boa toparam fazer, não tem dinheiro no mundo que pague isso. Mas penso em meus projetos como um todo, não consigo individualizar uma foto ou outra. Isso faz com que famoso ou não o tratamento e a forma de dirigir a cena seja a mesma para todos.
Almanaque da Cultura: O que espera de seu projeto para daqui para a frente?
Sergio Santoian: Eu gosto de viver um dia após o outro. Mas quero manter sempre meus pés no chão, minha cabeça no lugar e minha mente criando o novo sempre. Quero estudar e me aperfeiçoar a cada dia. Quanto ao Ophelia, não esperava nem que fosse passar daquelas primeiras 12 fotos, muito menos que dirigiria uma peça inspirada no projeto. Mas já que tudo isso aconteceu e vem acontecendo, o que custa sonhar? Quero transformar “Ofélia em Mim”, em um longa.