Especialistas apontam escassez de recursos naturais para um futuro próximo. Enquanto isso, a população do planeta Terra aumenta. Como iremos alimentar dez bilhões de pessoas na década de 2050 com igualdade, qualidade e sustentabilidade? Com base nesse questionamento, o Museu do Amanhã apresenta “Futuro Comestível: Protótipos para uma nova alimentação”, a partir deste domingo (9/12). A mostra é resultado da residência artística de Chloé Rutzerveld, futurista de alimentação holandesa, no Laboratório de Atividades do Museu do Amanhã (LAA), com apoio do Consulado Geral dos Países Baixos.
A exposição explora novas formas de criar alimentos, com tecnologia de fabricação digital em que as comidas seriam montadas na ordem que são digeridas, usando menos recursos naturais (como terra, água e energia) e com menos desperdício, já que atualmente nem todos os nutrientes são absorvidos pelo corpo humano. O protótipo desse novo sistema alimentar utilizaria micronutrientes criados a partir de fungos e algas.
Com uma abordagem interdisciplinar, “Futuro Comestível” combina ainda aspectos de design e ciência. A partir do uso criativo de tecnologias como impressão 3D e encapsulamento, no futuro seria possível alimentar uma população cada vez maior e ainda oferecer formas altamente funcionais e customizáveis para necessidades ou objetivos nutricionais de cada um – como atletas, pessoas vulneráveis, astronautas, entre outros – mas claro, com um toque brasileiro.
De acordo com Marcela Sabino, diretora do LAA do Museu do Amanhã, um novo sistema alimentar abrirá portas para novas experimentações e para deixarmos de lado a percepção do que identificamos como comida. “O surgimento desses novos modelos influenciará diretamente na forma como os alimentos são fabricados, processados e chegam às nossas casas. Além disso, influenciará em nossa cultura alimentar, e até nos talheres e ferramentas que usaremos”, afirma.
Cápsulas funcionais
Neste protótipo apresentado na exposição temporária, a comida seria montada em camadas, dentro de cápsulas que se dissolveriam na ordem em que os elementos são processados no nosso sistema digestivo. A cápsula básica teria cerca de cinco milímetros de diâmetro e seria construída a partir de níveis de cada nutriente: carboidratos, proteínas, lipídios e micronutrientes.
Outra forma seria utilizar o carboidrato como um invólucro, e no interior, em tamanhos menores, os demais nutrientes protegidos por uma membrana para que sejam digeridos no local designado no corpo. Dessa forma, a comida teria um aspecto mais similar ao prato original que conhecemos.
“A proposta é facilitar essa possível fase de transição, oferecendo comida que pareça mais familiar ao paladar, como uma feijoada, por exemplo. Ou seja, embora os ingredientes possam parecer aos de uma feijoada, todos os componentes seriam fabricados digitalmente a partir de nutrientes de origem alternativa, explica Marcela. “A maioria das pessoas absorve apenas 75% dos nutrientes que consome. Uma das razões disso pode ser atribuída à recorrente presença de alimentos processados em nossas dietas. Foi pensando nisso que esse trabalho propõe um novo modelo que proporcione uma digestão 100% eficiente, com um custo reduzido e sustentável para o planeta.”
Criação de micronutrientes para cápsulas funcionais
“Futuro Comestível: Protótipos para uma nova alimentação” sugere dois métodos para a criação de micronutrientes: uma com a ajuda de microalgas e a outra usando fungos modificados, chamado de “carvão de milho”. Nesses sistemas, os nutrientes seriam colhidos, desidratados, triturados e guardados em pó para a produção das cápsulas alimentares funcionais.
Spirulina, chlorella e scenedesmus são exemplos de microalgas que produzem macronutrientes adequados ao consumo humano. Além de fornecer carboidratos, proteínas e lipídios, também contêm antioxidantes e micronutrientes (vitaminas e minerais).
O outro método não-convencional seria desenvolver o cultivo, em grande volume, de milho, batata ou trigo para servirem como hospedeiros para fungos que contêm nutrientes. A inspiração para esse método vem do “carvão do milho”, uma alteração causada pelo Ustilago maydis, um fungo parasita que se propaga pelas espigas do milho – e considerado uma iguaria no México, por exemplo. Para escalar essa produção, esses fungos poderiam ser modificados e cultivados em células climatizadas controladas, instaladas em edifícios abandonados.
“Em 2030, os agricultores vão cultivar proteínas e colher carboidratos em vez de cultivar gado e colher batatas”, prevê Chloé.
A nova mostra temporária introduz a temática de alimentação, que será explorada ao longo de 2019 no Museu do Amanhã. “Futuro Comestível: Protótipos para uma nova alimentação” amplia ainda as discussões sobre alimentação, mencionadas na exposição Ofiskua 2068: Imaginando um Futuro do Trabalho, em cartaz na instituição carioca, especificamente nas áreas: Geladeira com gel especial asséptico, Smart Horta, Apiário Indoor e Impressora de Comida 3D.
“Futuro Comestível: Protótipos para uma nova alimentação” no Museu do Amanhã
Período: de 9 de dezembro de 2018 a 31 de março de 2019
Dias e horários: de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu do Amanhã – Praça Mauá, 1, Centro – Porto Maravilha – Rio de Janeiro
Informações: site oficial | Facebook | Twitter | Instagram