Dono de três troféus Prêmio Profissionais do Ano e com várias indicações ao MTV Video Music Brasil com os clipes que dirigiu para grandes nomes da música brasileira, como Charlie Brown Jr. e ainda quatro prêmios por seu primeiro curta-metragem “Eu te darei o céu”, no Festival de Gramado e no Festival do Rio, o diretor Afonso Poyart está com o nome em alta Hollywood.
Após ganhar rápida projeção no cinema com o filme “2 Coelhos“, que escreveu, coeditou e produziu, Poyart foi contratado para dirigir o thriller paranormal “Presságios de Um Crime” (“Solace“), uma produção Hollywoodiana de 30 milhões de dólares com os astros Anthony Hopkins e Colin Farrell. O longa já foi lançado mundialmente e tem estreia prevista no Brasil para o dia 28 janeiro de 2016.
O diretor, que também está a frente do filme “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, sobre a vida do lutador brasileiro de MMA, declara em conversa com o Almanaque da Cultura que “cinema é uma coisa cara” e emenda que por ter muito dinheiro envolvido “é melhor você adquirir uma habilidade de explicar suas ideias e loucuras”.
Afonso Poyart foi diretor do longa-metragem brasileiro “2 Coelhos” (Foto: Divulgação)Almanaque da Cultura: Como surgiu “Solace” em sua trajetória? Foi por conta do “2 Coelhos”?
Afonso Poyart: Acho que sim. Logo após o filme estrear, eu já estava conversando com agentes em Los Angeles. A indústria lá gosta muito do “2 Coelhos”. Quando eu menos esperava estava na sala de muita gente importante, produtores, executivos de grandes estúdios. Foram oferecidos alguns filmes, li muitos roteiros, mas acabei fechando o “Solace”.
Almanaque da Cultura: Como busca essa assinatura autoral? Digo, uma cara própria, que faça a pessoa assistir e saber que a direção é sua? Busca dar enfoque em luz e cenários? Como você busca essa assinatura?
Afonso Poyart: Acho que um conjunto de tudo é uma assinatura. Acho que a edição, roteiro, textos, câmera, música são os elementos que mais utilizo na confecção dessa assinatura. Fico feliz em ter ela.
Almanaque da Cultura: Você interfere na preparação de seus atores, ou deixa isso a cargo de um preparador de elenco?
Afonso Poyart: Eu participo muito, mas gosto de trabalhar com a Fátima Toledo. Gosto de improviso, de autenticidade. Eu costumo deixar de lado os textos do roteiro que eu mesmo escrevi. Quero que os atores incorporem a emoção de cada cena. E estejam munidos para se movimentar com liberdade. Pra mim isso é naturalidade.
Almanaque da Cultura: Como você enxerga a figura do preparador de elenco no cinema hoje em dia?
Afonso Poyart: Importante, claro. Uma etapa essencial em alguns projetos. Funciona mais em alguns atores do que em outros. Mas no geral, se a coisa é explorar emoção visceral, não tem como fugir. Um processo de preparação ajuda o ator a encontrar esses sentimentos dentro deles.
Almanaque da Cultura: Já existem outros filmes que você deva dirigir em Hoolywood? Quais são as expectativas?
Afonso Poyart: Sim. Estou lendo alguns roteiros. Algumas coisas boas de estúdios e independentes também, mas ainda não me comprometi. Estou acabando meu próximo filme e então devo ir para os Estados Unidos fazer algumas reuniões. Quero escolher algo que me instigue verdadeiramente e que eu possa fazer a diferença.
Almanaque da Cultura: Existe uma cobrança maior por ser uma produção Hollywoodiana?
Afonso Poyart: Sim, porque existe mais dinheiro em jogo. Isso é sempre uma questão delicada. Tive bastante liberdade, mas não total. Isso pra mim é um problema, pois, como o David Fincher, o diretor é responsabilizado pelo resultado. Se ficar muito ruim, você é creditado por isso. Então, nada mais justo que você poder tomar as decisões sobre tudo. Mas cinema é uma coisa cara, se você está “jogando” com muito dinheiro de outras pessoas, é melhor você adquirir uma habilidade de explicar suas ideias e loucuras. No set propriamente dito, a liderança é do diretor, mas muito se decide antes, no desenvolvimento e pré-produção e também na edição. Nestes dois últimos itens eu me senti mais limitado, engessado, mas nada exagerado que pudesse me fazer desistir.
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Almanaque da Cultura: Como é para você fazer cinema hoje no Brasil?
Afonso Poyart: Acho ótimo. Amo fazer filmes aqui. Acho que temos diversos mecanismos que tornam possível o financiamento de projetos. Isso é incrível. Mas é cada vez mais difícil financiar via incentivo fiscal vindo das empresas, acho que isso se dá um pouco por conta da recessão que vivemos.
Almanaque da Cultura: Você acredita no cinema nacional?
Afonso Poyart: Muito. Mas pra isso precisamos produzir cada vez mais conteúdo de qualidade e deixar de lado um pouco as fórmulas televisivas ou derivados cinematográficos de “Zorra Total”. Só esse cinema arrojado pode incentivar cineastas a ousar e criar material genuinamente bom. Mas não estou falando de cinema experimental ou arthouse. Acho que podemos fazer algo bom e que o público se interesse e pague ingresso. É uma questão de achar os temas certos e a linguagem certa. Acho que meu próximo filme “Mais Forte Que o Mundo – A História do Lutador José Aldo” é um exemplo disso.
Almanaque da Cultura: Seus videoclipes sempre tem uma pegada mais cinematográfica, esta é uma assinatura pessoal?
Afonso Poyart: Não sei. No geral, meus clipes tem muito motion design e computação. Foi assim que comecei a carreira.
Almanaque da Cultura: Ainda existe a possibilidade de você fazer um trabalho com Calypso?
Afonso Poyart: Não. Eu deixei a produção desse projeto há algum tempo.