O documentário da GloboNews, “Nas mãos da Al-Qaeda”, foi exibido na segunda-feira, 5 de outubro, dentro do Festival do Rio, em uma série de documentários e casos especiais no RioMarket, uma área de negócios do evento especializado em cinema.
Em “Nas mãos da Al-Qaeda”, o premiado repórter iraquiano Ghaith Abdul Ahad se põe literalmente em meio aos conflitos do Oriente Médio para ilustrar a real situação de quem vive em uma Guerra Santa. Em sua pesquisa documental, o jornalista percorreu o estado do Iêmen por meses acompanhando o grupo radical islâmico da Al-Quaeda – entrando em seus campos de treinamento para descobrir quem luta pela organização e traçando um perfil destes guerrilheiros.
No documentário, vê-se expressamente que, mesmo com a morte de Osama Bin Laden, a milícia que deveria cair contundentemente se mantém ativa. E é este o cenário que Ahad encontra no estado Islâmico do Iêmen. Ao chegar em Jaar, somadas à insegurança e ao medo, o repórter encontra um país dividido: de um lado, o estado, e de outro, a Al-Quaeda, com muitos adeptos e opiniões, dispostos a guerrear até a morte.
O que chama atenção é o recorte de um país assolado por guerras e onde a população chega mesmo a apoiar aqueles que lutam contra o governo. “O governo é corrupto”, dispara um entrevistado, que com ressalvas comenta: “em se tratando de Guerra Santa, tudo é valido, a lei de Deus manda espada (sic) mas não a crucificação”, conclui. Esta é uma forma de punição usada pela Al-Quaeda para infligir dominação ao povo.
Cena de crucificação, método de punição usado pela Al Qaeda para disciplinar a população (Foto: Reprodução/ Globo News)O que intriga o jornalista é a existência de uma imprensa forte que apregoa os valores da Al- Qaeda, e ainda uma “patrulha religiosa” contundente, uma vez que todos devem rezar e ir até a mesquita obrigados pela organização. “É uma cena surreal”, comenta Ahad.
O Almanaque da Cultura entrou em contato com o repórter Ali Farhat, correspondente no Brasil e Argentina para a Tv internacional Almayadeen, que afirmou “geralmente quem consegue fazer isso somente são aqueles que têm contatos com os líderes da Al-Qaeda, ou intermediários próximos. Porque ao fazer as imagens sabe que elas serão manipuladas e censuradas pela organização. Geralmente, quando eles aceitam isso, fazem para exibir uma certa mensagem que beneficie o trabalho deles” e complementou: “tem outro fator que é o dinheiro. Onde o intermediário cobra uma fortuna utilizando a amizade dele com autoridades para facilitar o trabalho. Mesmo assim , este trabalho será manipulado pela Al-Qaeda”.
Mesmo com as incertezas e o medo de ser tomado como um espião nas mãos da Al- Qaeda, o jornalista Ahad vai através da negociação com líderes religiosos de tribos da região, até a cidade de Adén, considerada a mais perigosa, onde se coloca nas mãos dos guerrilheiros para entrevistar prisioneiros: 73 soldados do governo mantidos reféns pela Al- Qaeda. Encontra pessoas estáveis, que afirmam não sofrerem torturas. Mas não obtém grandes respostas.
A cidade de Jaar no Yemen tomada pelos membros da Al Qaeda (Foto: Reprodução/ GloboNeews)O que se pôde mapear foi a incerteza e a insegurança. O documentarista não chega a afirmar qualquer coisa a não ser que “o futuro é incerto”, dispara Ghaith Abdul Ahad, ao final do documentário. Não consegue achar as respostas, nem afirmar de onde vem o dinheiro e as armas, mas faz um mapeamento da real situação “existem somálios e afegãos guerreando pelo grupo”, afirma. E conclui: “se as tribos se unirem, a Al Quaeda desparece”.
O correspondente da Tv Almayadeen, Ali Farhat também abriu um parenteses para se pensar sobre este tipo de cobertura: “A grande pergunta nossa é: qual é a garantia de um jornalista que decide pisar nesta área, onde não há respeito às leis internacionais, nem medo de matar por qualquer motivo, a não ser uma garantia de benefícios aos dois lados” e concluiu ” sem dúvida é uma matéria forte para a empresa jornalística, e propaganda que beneficia a organização terrorista”.