“Pulp Fiction” completa nesta terça-feira, 14 de outubro, 20 anos. O filme americano de 1994 foi escrito e dirigido por Quentin Tarantino.
Dirigido de uma forma altamente estilizada, “Pulp Fiction” narra três histórias diferentes, todavia entrelaçadas, sobre dois assassinos profissionais, o gângster que os chefia e sua esposa, um pugilista pago para perder uma luta e um casal assaltando um restaurante, na Los Angeles dos anos 90. Um tempo considerável do filme é destinado a conversas e monólogos que revelam as perspectivas de vida e o senso de humor das personagens. O roteiro, assim como na maioria dos demais trabalhos de Quentin Tarantino, é apresentado fora da ordem cronológica.
O filme, cujo título é uma referência às revistas Pulp, populares durante a metade do século XX e caracterizadas pela sua violência gráfica, é conhecido por seus diálogos ricos e ecléticos, mistura irônica de humor e violência, narrativa não-linear, uma série de alusões a outras produções cinematográficas e referências à cultura pop.
“Pulp Fiction” foi indicado a sete Óscares, incluindo Melhor Filme; Tarantino e Avary ganharam o prêmio de Melhor Roteiro Original. Também venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1994. Um sucesso comercial e de críticas, Pulp Fiction revitalizou a carreira de seu protagonista, John Travolta (o qual recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator), assim como as das co-estrelas Samuel L. Jackson (indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante) e Uma Thurman (indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante).
Elenco
John Travolta interpreta Vincent Vega: assassino profissional, Vincent trabalha para Marsellus Wallace. Tarantino escolheu Travolta apenas porque Michael Madsen, que havia tido um papel principal em Cães de Aluguel (como Vic Vega), preferiu fazer Wyatt Earp, de Kevin Costner — uma década depois, Madsen ainda estaria lamentando sua escolha. Com a recusa de Madsen, Harvey Weinstein sugeriu Daniel Day-Lewis para o papel.16 Ainda que Day-Lewis quisesse o papel, Tarantino rejeitou-o, em favor de Travolta, que aceitou uma barganha por seus serviços — algo em torno de 100 ou 140 mil dólares.28 O sucesso do filme e a indicação ao Oscar de melhor ator revitalizaram a sua carreira. Em 2004, Tarantino discutiu a ideia de fazer um filme com Travolta e Madsen como “Os Irmãos Vega”; a ideia, entretanto, continua irrealizada.
Samuel L. Jackson interpreta Jules Winnfield: parceiro de Vincent Vega, também subordinado à Marsellus. Tarantino escreveu o papel com Jackson em mente, mas o ator quase o perdeu após, na primeira audição, sua atuação ter sido ofuscada pela de Paul Calderón — Jackson assumira o teste como uma mera leitura. Weinstein o convenceu a fazer uma segunda audição, e sua performance do Epílogo convenceu Tarantino.30 Jules fora inicialmente idealizado com um grande Cabelo black power, mas Tarantino e Jackson concordaram em um penteado mais discreto, como visto no filme.31 Jackson recebeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, enquanto Calderón aparece no filme como Paul, barman do clube de Marsellus.
Uma Thurman interpreta Mia Wallace: a “jovem e bela esposa de Marsellus”. A produtora Miramax queria Holly Hunter ou Meg Ryan para o papel, mas Tarantino quis Uma desde seu primeiro encontro com a atriz. Ainda assim, Thurman, inicialmente, rejeitou o papel. Tarantino estava tão desesperado para contar com a atriz que leu o roteiro inteiro pelo telefone, convencendo-a a aceitar a personagem. Thurman dominou a maioria do material publicitário do filme, fotografada numa cama com um cigarro em mãos. Ela foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, o que alavancou sua carreira; todavia, ela preferiu não estrelar nenhum filme de grande orçamento durante três anos.
Bruce Willis interpreta Butch Coolidge: “um pugilista branco de 26 anos.” Willis era uma grande estrela hollywoodiana, mas a maioria de suas recentes bilheterias tinham sido desapontantes. Como Peter Brat descreveu, assumir um papel em um filme de orçamento moderado “significava diminuir seu salário e arriscar o seu status de estrela, mas a estratégia valeu a pena: Pulp Fiction não apenas trouxe à Willis um novo respeito enquanto ator, mas também lhe rendeu alguns milhões de dólares como resultado de sua participação nos lucros.” A aparência de Willis e sua presença física foram cruciais para o interesse de Tarantino nele: “Bruce parece um ator dos anos 50. Eu não consigo pensar em mais ninguém com esse aspecto.”
Harvey Keitel interpreta Winston Wolf: também subordinado à Marsellus, “O Lobo” trabalha como “limpador”, escondendo evidências dos crimes praticados pelos empregados de Marsellus. O papel foi escrito exclusivamente para Keitel, que havia estrelado Cães de Aluguel. Nas palavras de Tarantino: “Harvey tem sido meu ator favorito desde os meus 16 anos.”
Ving Rhames interpreta Marsellus Wallace: o “chefe de todo mundo. […] Figura enorme. […] Ele soa como um cruzamento de um gângster com um rei.” Antes da escalação de Rhames, o papel foi oferecido à Sid Haig, que o rejeitou. De acordo com o produtor Lawrence Bender: “Rhames fez a melhor audição que eu já vi.”
Tim Roth interpreta Pumpkin ou Ringo: “homem jovem […] tem um sotaque inglês de classe trabalhadora. […] Parece profissional, sempre no controle.” Roth esteve junto de Keitel e Tarantino em Cães de Aluguel — e embora nessa produção ele tenha usado um sotaque americano, em Pulp Fiction ele usa o seu sotaque inglês natural (o que lhe rende o apelido de “Ringo”, em alusão ao baterista dos Beatles, Ringo Starr). Ainda que Tarantino tenha escrito o papel com Roth em mente, Mike Medavoy, um dos cabeças da TriStar Pictures, preferia Johnny Depp ou Christian Slater para a personagem.
Amanda Plummer interpreta Yolanda ou Honey Bunny: “impossível dizer de onde é ou quantos anos têm […] parece uma psicopata.” Tarantino escreveu o papel especificamente para Plummer ser parceira de Roth, uma vez que foi o ator quem a apresentou ao diretor, dizendo: “Eu quero trabalhar com Amanda em um de seus filmes, mas ela tem de ter uma arma realmente grande.”
Christopher Walken interpreta Capitão Koons: Walken aparece em somente uma cena, dedicada ao monólogo do veterano do Vietnã sobre o relógio de ouro de Butch Coolidge.
Eric Stoltz interpreta Lance: o traficante amigo de Vincent. Courtney Love disse que Tarantino oferecera o papel à Kurt Cobain — “Quer saber por que Kurt agradeceu Quentin na contracapa do álbum ‘In utero’? Porque o diretor o convidou para fazer o papel que foi de Eric Stoltz no filme”, disse a cantora.
Rosanna Arquette interpreta Jody: a esposa de Lance. Pam Grier foi considerada para o papel, mas Tarantino não acreditou que o público acharia plausível que Lance gritasse com ela. Ellen DeGeneres também foi considerada para o papel.
Música
Não foi composta uma trilha sonora para “Pulp Fiction” – ao invés disso, Quentin Tarantino usou uma eclética variedade de canções surf, rock & roll, soul e pop.
“Misirlou”, intrepretada por Dick Dale & the Del-Tones, toca durante os créditos iniciais e, embora Tarantino tenha escolhido surf music como o estilo musical primário para o filme, ele insiste que não foi por sua associação com a cultura do surf: “Para mim, simplesmente soa como rock and roll; até como Morricone. Soa como um ‘rock and roll Western spaghetti’.”
Algumas das canções foram sugeridas a Tarantino por seus amigos Chuck Kelley e Laura Lovelace, que foram creditados no filme como “consultores musicais”. Lovelace também aparece no filme como Laura, uma garçonete — papel que ela reprisou em Jackie Brown. O álbum com a trilha sonora foi lançado junto ao filme em 1994, atingindo a 21ª posição na Billboard 200.
Estella Ticknell descreve como a particular combinação de gravações conhecidas e obscuras ajuda a estabelecer o filme como “um texto cool auto-consciente. [O] uso de faixas mono, com um estilo forte de batida do pop underground do começo dos anos 60 misturado com baladas “clássicas”, como ‘Son of a Preacher Man’ de Dusty Springfield é crucial para o reconhecimento pós-moderno do filme.
“Ela contrasta a trilha sonora de Pulp Fiction com a de Forrest Gump, filme de maior bilheteria de 1994, que também se baseia em gravações pop: “[A] versão dos anos 60 oferecida por Pulp Fiction […] certamente não é nada da contracultura publicamente reconhecida em Forrest Gump, mas é, antes, uma forma mais genuína da sub-cultura marginal baseada em um estilo de vida — surfar, se exibir — que é resolutamente apolítico.” A trilha sonora é central, ela diz, com o compromisso do filme para com o “espectador mais jovem e cinematograficamente bem-informado”.