O enredo da Mangueira é a biografia de Jesus Cristo traduzida para o formato das artes carnavalescas. É uma ópera popular dividida em cinco atos, nos quais descrevo a mais recorrente história da Humanidade, assim dividido:
1 – Nascimento;
2 – Vida Adulta;
3 – Julgamento;
4 – Condenação;
5 – Morte e Ressurreição.
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É o roteiro mais clássico possível, quase que de domínio público. A partir de um contorno estético que foi dado para a figura de Jesus Cristo, inventado na Antiguidade, reforçado pelos pintores e escultores da Renascença, ganhando grande expressão com a arte espanhola, este perfil artístico desprezou o fato de o homem retratado ser um galileu do Oriente Médio. Biologicamente, ele não poderia ter semelhanças com a imagem – caucasiana, branca, olhos azuis, cabelos alourados – que se eternizou no imaginário coletivo.
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Tentaremos desconstruir essa imagem eurocêntrica que, de alguma forma, reforça dados racistas, elitistas, que colocam a imagem de Jesus mais ao lado do opressor do que do oprimido. É importante falar disso para o Brasil de agora porque vivemos um momento extremamente conservador. Muitas vezes os valores morais pregados por Cristo são distorcidos para atender uma lógica. E é essa lógica que questionamos.
– O que é a Estação Primeira de Nazaré? “Jesus passou boa parte de sua vida em Nazaré, embora tenha nascido em Belém. Passou, inclusive, a ser chamado de “Nazareno”. Recorremos a uma liberdade poética que une o território de Nazaré, de dois mil anos atrás, com o território ocupado pela comunidade mangueirense.
A figura de Jesus será apresentada em faces distintas, algumas encontram pontos de contato com grupos minoritários e pessoas da comunidade passam a personificar Jesus. Ele pode ser representado, por exemplo, por um negro de 33 anos.