Prodígio entre as telas e tintas, o artista plástico, designer, consultor de moda e mercado e cenógrafo pernambucano Leopoldo Nóbrega fez sua primeira obra de arte aos dez anos. De lá pra cá, já são 28 anos, dezenas de coleções autorais em desfiles e exposições no mercado nacional, inúmeros prêmios e projetos. Em 2019, o artista se lança em dois grandes desafios no Carnaval do Recife. Leopoldo Nóbrega foi convidado para fazer a maior alegoria da folia de momo pernambucana, a escultura gigante do Galo da Madrugada. Além disso, ele será o responsável por todo o figurino do espetáculo de abertura do palco Marco Zero, principal palco do Carnaval da cidade.
O convite para confeccionar a maior escultura iconográfica do Carnaval do Recife surgiu da própria Prefeitura da Cidade do Recife. Leopoldo Nóbrega apresentou um projeto que fortalece uma rede de artesãos, voluntários e técnicos provenientes da periferia da cidade. O título da escultura, Galo Artesão, vem para enaltecer a importância dos artesãos que fazem de Pernambuco um celeiro de talentos naturais.
Leopoldo comanda uma equipe de doze carnavalescos da Bomba do Hemetério e mais oito técnicos do Arte Plenna, empresa do artista com a irmã e sócia Germana Nóbrega, que abraçaram a missão de fazer o galo mais emblemático dos últimos tempos. Segundo Germana, fazer parte desse momento é consolidar um cenário de integração e fortalecimento cultural através da moda, das artes, das tecnologias, dos artesanatos e sobretudo fomentando um legado humanista.
“Dei asas a imaginação e fui buscar inspiração na moda do Polo de Confecção com sua produtividade em jeans; no artesanato de barro do Alto do Moura homenageando o Mestre Severino Vitalino; nos brinquedos populares de materiais reciclados; no visual imponente típico do nosso povo. O Galo vai cacarejar para o mundo todo o potencial cultural e artesanal que temos nas veias”, explica o artista Leopoldo Nóbrega.
Para o espetáculo de abertura do palco Marco Zero, Leopoldo tem a missão de, através dos figurinos, representar o “Carnaval de todo mundo”. Serão 100 bailarinos e músicos, divididos em seis cenas, para celebrar as periferias da cidade e os vários ritmos e tradições culturais que brotam delas. A direção do espetáculo é orquestrada pelo bailarino pernambucano Dielson Pessoa, a direção musical é de Cesar Michillis e Juanna Crisóstono Lyra é quem assina a assistência de figurino.
Leopoldo explica que cada um dos seis temas do espetáculo de abertura do Carnaval serviu de mote para inspiração dos figurinos. Mas, segundo ele, três momentos serão mais marcantes para o figurino. “O ‘Caldeirão Afro Brasileiro”, que abre o espetáculo, terá tecidos elásticos e prints digitais que remetem às pinturas corporais tribais com textura artística autoral. Já no ‘Delírios Tecnológicos’ vamos usar figurinos elaborados com fitas de LED e objetos luminotécnicos que interagem com os movimentos. Outro momento que merece vai ser o ‘Batalha de Rua’, onde utilizaremos resíduos de Jeans do Polo Agreste”, conta o artista.
Para além da beleza e da moda, este ano, o foco da confecção do Galo da Madrugada é na sustentabilidade. “Não adianta só desenvolver. Quem cria o insumo também é responsável por ele até o momento do descarte, por isso a responsabilidade ambiental vai estar muito presente no “Galo Artesão”, dispara Nóbrega. Cerca de 50% dos materiais para confecção do gigante serão de reutilização de resíduos do Polo de Confecção de Pernambuco.
De forma histórica o Polo que é considerado o segundo maior do pais, teve início com a “Sulanca”, famosa feira de artigos de vestuário que inicialmente eram produzidos com os resíduos de tecido das fábricas do Sul, más nas ultimas cinco décadas, o crescimento produtivo em Pernambuco e os novos tempos mudaram essa realidade, potencializando os descartes ao invés de reutiliza-los.
Ao reaproveitar as sobras de jeans das indústrias de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe para vestir o Galo da Madrugada, Leopoldo Nóbrega projeta um caminho visionário na intenção de restaurar a identidade do Polo da moda de Pernambuco, trazendo luz para a problemática ambiental na moda.
A jornada de empreendedorismos do “Galo Artesão” foi startada através de uma rede de economia criativa que aproxima a comunidade da Bomba do Hemetério com a Ilha de Deus, a RECRIA.
Outras ações em desenvolvimento que derivam do “Galo Artesão” incluem um programa de capacitação no atelier escola de Leopoldo, o (Espaço Arte Plenna), uma exposição de moda e arte itinerante, assinada pelo fotógrafo Renato Filho e time fashion e um documentário que apresentará todo o processo de criação do garimpo de resíduos, transformação e realização do Carnaval de Todo Mundo.
Toda equipe que irá trabalhar na construção do Galo Artesão 2019 será treinada pela Professora e Artista Plástica Maria do Carmo da Silveira Xavier, Coordenadora do Laboratório de Arte do CODAI / UFRPE. Maria irá capacitar o grupo utilizando a metodologia “Interativa Construtiva”, que usa de experiências transdisciplinares na educação, para aproximar conhecimentos científicos através das artes.