A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a sexta escola a se apresentar na Avenida na noite de domingo, 7 de fevereiro, pelo Grupo Especial. A verde e branco trouxe para sua apresentação Dom Quixote, que “passeou” pela História do Brasil.
O cavaleiro, retratado numa escultura de 18 metros crente que vai encontrar apenas belezas, se deparou com um grande abacaxi a ser descascado. São manchas que vêm da escravidão aos escândalos políticos atuais. A ditadura foi representada em um carro alegórico em forma de tanque de guerra. Personagens marcantes da obra de Miguel de Cervantes, Sancho Pança e Dulcineia também foram destaque da agremiação do presidente Wandyr Trindade. A estrela-símbolo da Mocidade Independente de Padre miguel surgiu como uma luz no fim desse túnel.
O nacionalismo e a ideia de uma nação soberana com a possibilidade de um futuro promissor, mesmo com a corrupção latente exposta no carro abre alas, em que Dom Quixote dominava seres obscuros e sem cabeça mostraram uma escola engajada que até agora foi a única que optou por um enredo sobre o Brasil atual. De forma intelectualizada, a agremiação expôs as mazelas do Brasil como se fossem oferecidas ao crivo de Dom Quixote e com a visão de que o personagem de Cervantes fosse o responsável por dar fim a situação atual de nosso país.
Os destaques do desfile da agremiação de Padre Miguel ficaram por conta do carro lava-jato, onde os foliões entravam sujos e saíam limpos e as fantasias das baianas, que desfilaram na frente do abre-alas, com roupas de abacaxi, simbolizando os problemas diários que a população tem que lidar. Ainda, Claudia Leitte deu conta do recado como Rainha e Anitta que, anteriormente, já havia saído na escola como destaque de carro, surpreendeu ao desfilar no asfalto em fantasia que abriu o bloco “Inflação Bombástica”.
Ao final, e ao apostar em um tema político, a agremiação não trouxe grandes figurinos, nem adereços que contribuíssem a mensagem de combate a corrupção. A Mocidade misturou os temas e pode ter deixado o espectador um pouco confuso ao optar por um repertório intelectualizado, misturar Cervantes às possibilidades de Dom Quixote salvar o Brasil, e uma crítica política a um mundo lúdico de possibilidades. O refrão de que “Verás que um filho teu não foge a luta”, soou como mero adereço para o samba enredo, sem que a agremiação realmente optasse por ilustrar um caminho real para o Brasil atual, ou que ao menos, fixasse a mensagem na cabeça do espectador.
Confira o Samba-enredo da Mocidade
“O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel.
Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”
Autores: Jefinho Rodrigues, Wander Pires, Marquinho Índio, J. Medeiros, Domingos Pressão, Jonas Marques, Paulo Ferraz, Lauro Silva e Lero Pires
Louco, apaixonado…
Voar, sem limites sonhar…
Desperta Cervantes do sono infinito
Que a luz da estrela vai guiar
Quixote cavaleiro delirante
Avante! Moinhos vamos vencer
Errante acerta o rumo da história
Pras manchas desse quadro remover
Pintar nessa tela a nova aquarela
E hoje enfim devolver
A honra do negro, a tal liberdade
Que sempre haveria de ter
Ainda é tempo eu vou contra o vento
Não há de faltar bravura
De Ramos à Rosa, Machado encontrei
Nos braços da literatura!
Vai na fé… Meu bom cangaceiro
“Ser tão” Conselheiro regando as veredas
Caminhando e cantando, seguindo a canção
Nas mãos uma flor pra calar os canhões
Faz clarear as tenebrosas transações
Lavando a alma da “Mocidade”
Lançando jatos de felicidade
Vencer mais um gigante nessa história surreal
Numa ofegante epidemia a qual chamamos Carnaval
Vem ser mais um guerreiro
Eu sou Miguel escudeiro
Dessa estrela que sempre vai brilhar!
Eu hei de cantar por toda vida
Minha Mocidade, escola querida
Nessa disputa…
Verás que um filho teu não foge à luta! (não)