'Chacrinha se adaptaria aos novos tempos', diz escritor Eduardo Nassife

Biografia revela detalhes da vida do Velho Guerreiro Chacrinha e desvenda o homem por trás do mito

O escritor e colaborador Eduardo Nassife comenta sobre seu Livro “Chacrinha – A Biografia”, com colaboração de Denilson Monteiro: “esperto e sensível ao público como era, tenho certeza de que o Chacrinha se adaptaria aos novos tempos, mas à maneira dele: inconfundível e anárquica”.

Roda, roda e avisa – Chacrinha a Biografia (Foto: Divulgação)

Almanaque da Cultura: Como surgiu seu envolvimento com biografias? A vontade de contar a história da vida dos outros?
Eduardo Nassife: Eu sempre fui fascinado por personagens, desde criança. o trabalho com biografias surgiu a partir de uma homenagem que eu quis prestar à querida Gloria Pires, de quem sou fã e amigo há dezoito anos. Quando ela iria comemorar 30 anos de carreira, propus lançarmos um livro que contasse sua vida, principalmente sua trajetória profissional. Eu digo que ela é a Rainha de Midas, onde tudo toca, vira ouro. (risos) Chacrinha surgiu em 2012, assim que terminou a novela “Fina Estampa”, onde fui pesquisador de texto. A editora Casa da Palavra e o Ricardo Amaral, que estavam juntos neste projeto, procuravam um autor jovem, mas com experiência. E chegaram em mim através de um amigo em comum. Eu lembro, sim, do seu programa na TV Globo, nas tardes de sábado, que eu assistia e adorava. Lembrava do jeito irreverente e único dele, mas não tinha noção da incrível e sofrida trajetória dele. É enriquecedor conhecer a história de quem também fez história.

Almanaque da Cultura: Qual o maior desafio em uma reconstituição de época? Pois além do resgate da história de Chacrinha, seu livro ainda conta a história do Rádio e da TV.
Eduardo Nassife: Demorei dois anos entre pesquisas, coleta de materiais e entrevistas para a biografia do Chacrinha. Para mim, o maior desafio quando se retrata algo histórico é, sem dúvida, atestar a veracidade e a data correta do fato. Particularmente, gosto de falar de alguém tendo como pano de fundo os fatos históricos. Situar o leitor no tempo e no espaço, acho que o aproxima mais da história.

Almanaque da Cultura: O livro mostra que Chacrinha era amado por muitos, mas odiado por outros tantos, até mesmo o Boni, diretor de Programação da Rede Globo à época teve problemas pessoais com ele. Após tantas entrevistas e coleta de informações como você avalia o homem por trás do personagem?
Eduardo Nassife: O Chacrinha era muito generoso, mas também muito difícil de lidar. A palavra final tinha de ser sempre a dele e não tinha muita flexibilidade para aceitar sugestões. E por muitas vezes, em nome da forte concorrência com o Flavio Cavalcanti, Chacrinha protagonizou o verdadeiro “circo do horror” na TV. E aí entrava o confronto com o Boni, que até aceitava ser um programa popular, desde que não baixasse o nível; Agora, havia uma diferença abissal entre o homem Abelardo e o personagem Chacrinha. Eram água e óleo. Chacrinha era despudorado, debochado, anárquico, divertido. Abelardo era tímido, introspectivo, muito voltado para sua família. Essa diferença é essencial. Eles não se suplantam, se completam.

Almanaque da Cultura: Você espera que seu livro seja usado em faculdades de comunicação como leitura obrigatória, devido ao resgate histórico?
Eduardo Nassife: Não tenho a pretensão de ‘obrigatoriedade’ no que tange à leitura do livro por universitários. Eu acredito que haja, sim, um interesse por estudantes de Comunicação, Marketing, Publicidade, no modo como o Chacrinha conseguia falar com o povo e para o povo. Curiosamente, ele foi muito rechaçado pela imprensa brasileira até o final dos anos 1960, quando o filósofo francês Edgar Morin, em visita ao Brasil, reconheceu Chacrinha como “o maior apresentador de massas do país”.

Almanaque da Cultura: Você acha que o Chacrinha hoje seria um grande sucesso? Eduardo Nassife: Chacrinha é o tipo de personagem que é insubstituível, maior do que a vida, prova disso é que até hoje é lembrado, homenageado, estudado, reverenciado. Sílvio Santos, que tem um estilo completamente oposto ao de Chacrinha, também é um gênio e tão popular quanto o Chacrinha. Mas não visualizo o Chacrinha engravatado jogando dinheiro para a plateia, como não vejo Silvio Santos vestido de noiva jogando bacalhau e farinha no público. Mas esperto e sensível ao público como era, tenho certeza de que o Chacrinha se adaptaria aos novos tempos, mas à maneira dele: inconfundível e anárquica.