A prêmio Nobel de Literatura de 2015 Svetlana Aleksiévich é a primeira autora da confirmada da Flip 2016, que acontece de 29 de junho a 3 de julho, em Paraty. Ela é considerada a autora de uma “obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo”, segundo a Academia Sueca, na qual retrata o desmonte da União Soviética a partir da história oral de seus protagonistas, célebres ou anônimos.

A autora

Filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, Svetlana nasceu em 1948, na cidade soviética de Stanislav, atual Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia. Com a desmobilização do Exército Vermelho, que havia enfrentado as tropas alemãs na região, seu pai teve baixa e a família mudou-se para um vilarejo ucraniano onde os pais da autora voltaram a dar aulas. A família passava por grandes dificuldades materiais e havia perdido diversos de seus integrantes no front. Começou a trabalhar no jornal local de Narovl, na atual Belarus, depois de terminar a escola.

Autora de uma “obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo”, na definição da Academia Sueca, seus livros são extensas reportagens, que basicamente transcrevem longos depoimentos em primeira pessoa. Seus vastos recursos literários, que pela primeira vez garantiram o Nobel de Literatura a uma obra jornalística, dão acesso a um universo distante e fechado, que só conhecíamos de maneira mais fria, pelos livros de história: a vida das pessoas comuns na União Soviética, as conversas sobre política nas cozinhas de Moscou, as consequências de uma catástrofe ambiental, o destino trágico de um povo que perdeu o país em que nasceu. Em entrevista, afirmou que busca por um método literário que a aproxime o máximo da vida real: “A realidade sempre me atraiu como um ímã, me torturava e hipnotizava, e eu queria botar isso no papel”.

Nisso, seus livros lembram muito a leitura de Tolstói: são os mesmos tipos populares, os mesmos mujiques e as mesmas mulheres fortes, mas convertidos em operários, soldados, prisioneiros e burocratas, que dão seus testemunhos pessoais sobre episódios marcantes da história. É o caso de Vozes de Tchernóbil, emocionante relato sobre o acidente nuclear ocorrido em 1986, cujo lançamento a editora Companhia das Letras prepara para o mês de abril.

Para Paulo Werneck, curador da Flip, “é um enorme orgulho receber Svetlana Aleksiévich no ano seguinte à sua premiação com o Nobel” – trata-se da primeira vez que a Flip confirma a presença de um autor recém-premiado com a mais importante distinção literária mundial. Durante a festa literária, a autora lançará ainda A guerra não tem rosto de mulher, sobre a participação de mais de 500 mil soviéticas na Segunda Guerra Mundial (1939-45). A pesquisa para o livro levou-a a mais de cem cidades e vilarejos.

Flip 2016

Com curadoria de Paulo Werneck, a 14ª edição da Flip homenageia a poeta Ana Cristina César (1952-83), expoente da geração da Poesia Marginal, que nos anos 1970 se firmou distribuindo edições caseiras no Rio de Janeiro, ao largo do mercado editorial e sob o peso da ditadura militar, fundando uma vertente marcante na poesia brasileira contemporânea.