Fã de ficção científica, a escritora Mel Cavichini acaba de lançar seu primeiro livro. Formada em administração, com mestrado em finanças e economia empresarial, a carioca surpreende ao misturar ficção científica aliada a uma crítica politica em seu livro “O Caso XXI“,
No enredo, a história de um alienígena que desembarca na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na praia de Botafogo. Vinte-E-Um, é um ser extraterreno com propósitos de cooperação. Para salvar a estrela do planeta Eñe em que vive, ele vem ao Brasil com o propósito de ensinar aos brasileiros um processo de enriquecimento de urânio. Em troca, ele precisa de uma certa quantidade de ferro para salvar seu planeta. Mal visto, é considerado o culpado por uma sequência de sérios crimes que ocorrem na trama. Como sempre, o diferente é mal visto. Nesse livro, que mistura ficção científica e crítica política, os leitores vão se surpreender com uma trama cheia de mensagens e sutilezas.
Em conversa com o Almanaque da Cultura a autora faz questão de enfatizar: “Vivemos um período incerto, em que ninguém acredita nas promessas do governo” portanto, segundo ela, torna-se importante pensar politicamente sobre a situação política do Brasil atual “quando escrevi, em 2013, eram tantas as histórias de corrupção dentro da Petrobras e outros órgãos governamentais” desabafa “que temos de lembrar. Não podemos esquecer”, declara.
Almanaque da Cultura: De onde tirou a inspiração para o livro?
Mel Cavichini: A inspiração para o livro veio da curiosidade de saber como lidaríamos com o desconhecido. Como reagiríamos a um ser de outro planeta com propósitos de cooperação, se ele viesse para nosso país.
Almanaque da Cultura: Porque estabelecer uma relação entre alienígenas e política?
Mel Cavichini: A ficção científica é um gênero literário conhecido por estabelecer relações entre o desconhecido e o conhecido. É como a capa de um livro, que estabelece a sua relação com a história. Nela há mil possibilidades. Colocando um elemento ficcional podemos falar com mais facilidade sobre temas controversos e às vezes de pouco interesse para alguns.
Almanaque da Cultura: Você se baseou em outros autores de ficção para finalizar “O Caso XXI”?
Mel Cavichini: Tanto autores de ficção científica quanto de ficção em geral e não-ficção me inspiram. Quando adolescente li os clássicos, tanto da literatura mundial quanto da ficção científica. Muitos me marcaram, tanto os clássicos brasileiros e latino-americanos como Machado de Assis e García Márquez, quanto os de língua inglesa como Hawthorne, Shakespeare – tivemos de recitar um discurso do livro Julio César para a turma toda de cabeça na aula de inglês – e, claro, os livros de ficção científica, com seus enredos envolventes. Assim que terminei Admirável Mundo Novo, li 1984, e então segui no autor com Revolução dos Bichos, assim foi durante toda a adolescência. Já no início da fase adulta entrei numa época de interesse por biografias e livros de eventos específicos. Cada um deles me influenciou de alguma forma.
Almanaque da Cultura: Como foi a escolha dos cenários? Uma vez que sua obra vai do Rio à Washington.
Mel Cavichini: O Rio de Janeiro é a cidade onde eu nasci e fui criada. É uma cidade que encanta por sua beleza e sua diversidade cultural. Washington tem sua própria beleza, avenidas largas, museus e monumentos que contam a história de um país fundado por indivíduos que desejavam estabelecer um governo de iguais e isso por si só já é belo. O discurso do Lincoln após a batalha de Gettysburg é de arrepiar e ver a estátua dele ao vivo provocou a mesma reação em mim.
Almanaque da Cultura: Existe um paralelo de seu livro com a política atual do Brasil?
Mel Cavichini: Sim, existe. Vivemos um período incerto, em que ninguém acredita nas promessas do governo, e O Caso XXI aborda bastante este assunto. Tivemos manifestações de peso, mas de pouco impacto visível. Isso não significa que não abalaram a estrutura, apesar do mesmo partido permanecer no poder. Temos agora a Lava-Jato. Quando escrevi, em 2013, eram tantas as histórias de corrupção dentro da Petrobras e outros órgãos governamentais, que escutava de pessoas que tiveram de lidar com eles através de contratos e licitações, isso me chocava e aborrecia. Choca e aborrece. Temos de lembrar. Não podemos esquecer.
Almanaque da Cultura: Você acredita em Ovnis, extraterrestres e vida fora da terra?
Mel Cavichini: Como diria o astrofísico Neil deGrasse Tyson, olhe para o tamanho da nossa galáxia! É improvável que sejamos o único planeta com algum tipo de vida.
Almanaque da Cultura: O que o leitor pode esperar de seu livro?
Mel Cavichini: O leitor deve esperar uma leitura com muitas curiosidades, uma boa dose de mistério e questões de cunho social e político para reflexão.
Almanaque da Cultura: Que debates espera abrir com seu livro?
Mel Cavichini: Debates sobre liberdade individual, sobre cooperação e sobre manipulação.