Os antigos mitos gregos oferecem várias versões do célebre embate entre Teseu e o Minotauro, consolidando um enredo que desde a sua origem vem sendo sucessivamente transmitido e reinventado e, mais recentemente, inspirou obras de autores como Nietzsche, André Gide, Gilles Deleuze, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e Sarah Kane. Com dramaturgia inédita de Alexandre Costa e Patrick Pessoa, o espetáculo Labirinto subverte inteiramente o enredo original do mito, dando voz aos personagens anônimos dessa história. Com direção de Daniela Amorim e codireção de Patrick Pessoa, a peça estreia no dia 27 de novembro, no Oi Futuro no Flamengo. A temporada seguirá até 20 de dezembro de 2015 e retornará em 2016, de 7 a 31 de janeiro, sempre de quinta a domingo.
Em 2013, a atriz Paula Calaes e o dramaturgo Pedro Kosovski deram início à ideia de realizar no teatro uma leitura contemporânea do mito do Labirinto. “Meu interesse pelo universo grego antigo vem de longe, do entusiasmo que os textos de Nietzsche e de tantos outros que foram inspirados por ele me despertam”, conta a atriz. Um primeiro esboço do projeto foi apresentado à diretora Daniela Amorim, que também se interessou pela ideia e convidou para integrar o grupo os atores Alcemar Vieira e Otto Jr., além dos filósofos Patrick Pessoa e Alexandre Costa, que assumiram a dramaturgia.
Dotado de corpo humano e cabeça de touro, o Minotauro é fruto indireto da desobediência de Minos, rei de Creta, perante o deus do mar, Poseidon: tendo-o favorecido na sua ascensão ao trono, o deus não vê Minos cumprir a retribuição exigida, o que desperta a sua ira. Com o auxílio de Afrodite, deusa do amor, Poseidon faz com que Pasífae, esposa de Minos, se apaixone irremediavelmente por um touro, com quem ela concebe o Minotauro. Filho da traição, a criatura torna pública a vergonha de Minos, que ordena, sob comando de Dédalo, a criação de um inextrincável labirinto para abrigá-la. A vitória obtida na guerra contra Atenas dá a Minos a oportunidade de sustentar o Minotauro: derrotados, os atenienses deveriam enviar anualmente 14 jovens como alimento para o monstro, símbolo da dominação política. Em uma dessas oportunidades, Teseu, filho do rei de Atenas, decide fazer parte da expedição com a intenção de matar o Minotauro e libertar sua cidade do jugo de Creta.
O espetáculo entrecruza as vozes jamais ouvidas dos 13 jovens que acompanharam Teseu ao labirinto de Creta com a do próprio herói (Teseu), de seu pai (Egeu), de sua namorada (Ariadne) e de seu algoz (o Minotauro). “A peça brota da necessidade de dar voz àqueles que nunca tiveram. Ela problematiza a ideia de heroísmo e joga luz sobre a importância dos coletivos na construção da história”, destaca Patrick. “A questão da legitimidade das dívidas públicas (o caso grego não poderia ser mais atual) e da irracionalidade de juros que sacrificam toda uma juventude se articula, em nosso texto, com uma reflexão sobre as múltiplas possíveis reações humanas diante de uma situação da qual aparentemente não há saída”, complementa Alexandre Costa.
A peça não tem a intenção de transpor integralmente para o palco o enredo do mito original, mas sim a de construir um ensaio teatral sobre a atualidade de suas questões. Assumindo o labirinto como uma grande metáfora da vida, a concepção da peça articula o viés político do mito com o existencial e apresenta diversos comportamentos possíveis – medo, dor, erotismo, lucidez – diante de uma situação extrema como aquela vivida por esses anônimos. O que pensamos, o que sentimos, como agimos quando convictos da iminência da morte?
O figurino do espetáculo é assinado por Paula Ströher. Para a ambientação cênica, Daniela Amorim convidou a artista Brígida Baltar, parceira criativa há muitos anos e responsável pela cenografia dos últimos espetáculos da diretora. Com iluminação de Renato Machado, o espaço cênico é indeterminado e claustrofóbico, servindo como suporte para os labirintos criados pela cena: “A palavra, a luz e a música formam uma teia de leituras e vozes, onde cada espectador precisará encontrar seus próprios caminhos”, explica Daniela. Rômulo Fróes, que assina a direção musical junto com Cadu Tenório, compôs canções inéditas para a montagem e para uma obra audiovisual que Brígida criou especialmente para o projeto, que estará em exposição no Oi Futuro no Flamengo durante a temporada.
Espetáculo Labirinto
Temporada: 27 de novembro a 20 de dezembro de 2015 e 7 a 31 de janeiro de 2016
Dias: quinta a domingo
Horário: às 20h
Local: Oi Futuro – Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Informações: (21) 3131-3060
Capacidade: 63 lugares
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Gênero: Drama