Caio Blat sofre com personagem gay assumido em ‘Liberdade, Liberdade’

Depois de dar vida ao vilão José Pedro em “Império“, Caio Blat interpreta agora na novela das onze da Globo, “Liberdade, Liberdade”, André Coelho, um homossexual não assumido que, ao chegar ao Brasil, desperta o interesse das mães das moças de sua idade. Caio Blat conversou com o Almanaque da Cultura e falou um pouco de seu personagem polêmico em “Liberdade, Liberdade”.

Almanaque da Cultura: Como foi construir esse personagem? Ele já é um gay assumido? Você teve medo na construção do personagem para não cair no caricato?
Caio Blat: Eu tive certo cuidado sim, para construir o personagem. Ele é bem reprimido. Ele só vai descobrir o desejo dele ao longo da novela. Então, esse processo de descoberta vai ser mostrado. Além de ser muito bonito e muito sofrido também. Ele vai sentir atração por outros homens. O pai o coloca para sair com mulheres. Ele fica fascinado por elas. Mas ele não sente atração. Depois ele começa a perceber que ele fica observando os escravos. Que ele observa homens fortes trabalhando. Ai, ele começa a perceber esse lado dele. Ele vai descobrir ao longo da novela.

Almanaque da Cultura: Ele vai ter um rolo com a personagem da Yanna Lavigne?
Caio Blat: É isso. Ele vai ter um pacto com a Mimi (Yanna Lavigne). Ela finge que tem relação amorosa com ele. Eles criam um laço de amizade. Vale ressaltar que ele é um nobre. Dificílimo ter nobre na cidade. Pra ela é legal ter um nobre, que ela fica protegida. Eles formam uma parceria. Ele começa ensinar ela a ler, ensina matemática, para os clientes não enganarem mais ela.

Caio Blat é André em “Liberdade, Liberdade” (Foto: Fabiano Battaglin/Gshow)

Almanaque da Cultura: Ele vai se encantar pelo Tolentino, personagem de Ricardo Pereira. Como você acha que será retratado o romance dos dois na trama das onze?
Claio Blat: A gente tem liberdade total. E tem o compromisso de fazer com bom gosto. Eu acho que o autor está escrevendo de uma forma brilhante o personagem. Com todas as suas contradições, com toda a sua diferença. Isso tudo será tratado com o máximo de delicadeza. Eu não sei como irá explodir esse caso entre os personagens. Mas sei que esse romance irá explodir mais pra frente. Vai ser um romance meio brutal, meio Brokeback – se referindo ao filme que retrata o complexo relacionamento romântico de um casal do mesmo sexo na Região Oeste dos Estados Unidos entre 1963 e 1981. Esse filme é a referência.

Almanaque da Cultura: Como foi a preparação para voltar ao século 18?
Caio Blat: Tivemos muitas aulas de história, comportamento. Lemos muitos textos de histórias. Tivemos um trabalho longo. Vários meses trabalhando dentro de sala. Com o elenco, figurinos da época, objetos da época, talheres da época. Agente fez uma emersão grande. Tudo aconteceu nos Estúdios Globo.

Almanaque da Cultura: É um personagem a frente de seu tempo. É isso mesmo?
Caio Blat: Ele foi criado na Europa. Ele foi obrigado a fugir para o Brasil, quando ainda era uma sociedade rural. Ele tem horror do país. Ele não queria vir para cá. Ele é um cara errado, no lugar errado. Totalmente errado. Uma sociedade brutal. Que as pessoas eram selvagens, mal educadas, onde as pessoas eram analfabetas, ele sai de um país onde está vivendo a Revolução Francesa, o Iluminismo, e ele chega no país em que 99% das pessoas são analfabetas. Um país selvagem. O meu personagem detesta o Brasil. É o último lugar que ele queria ir.

Almanaque da Cultura: O personagem irá levantar algum tipo de bandeira?
Caio Blat: Eu acho que paralelo a essa história da busca da liberdade do país, na luta contra a exploração da coroa, todos os personagens estão em busca de liberdade. Todos! Todas as histórias trazem esse motivo principal.

Almanaque da Cultura: Ele vai se envolver com o personagem que é braço direito de Rubião. Vai ter um embate de seu personagem com a Joaquina, por causa disso?
Caio Blat: O André sempre se preocupa com a Joaquina. Porque ela é sempre muito impulsiva. Ele se preocupa muito por ela. Ao mesmo tempo ele sabe que não tem como mudar ela. É o jeito dela. E, ela vai ser sempre assim. Ele sempre concorda com ela. Mas ele pede para ela ser cuidadosa. Para não se expor. É uma época muito violenta.

Almanaque da Cultura: E o figurino do personagem? Ele é cheio de frescura?
Caio Blat: Ele é o personagem mais bem vestido da novela (risos). Tem mais seda, rendas. Ele tem leques, etc. Ele é um gay enrustido. Vai se descobrir ao longo da novela. Ele é muito delicado, inadequado. Ele é muito sensível. Muito sofisticado. Ele é culto. Muito intelectualizado. Ele veio para um país que acha tudo horrível. Tudo suja ele. Ele tem horror de se sujar. A roupa dele é toda de lã. Que veio de Londres. Ele acha o país muito quente. Um calor absurdo. Isso tudo vai chegar ao desejo dele que é inadequado e tal. Ele é muito afeminado. Ele não sabe lutar espada. Não sabe montar. Ele acaba tendo uma atração muito forte pelo Tolentino (Ricardo Pereira), que é um torturador, um homem violento. Ricardo está lindo na novela (risos). Eu acho que eu me dei mundo bem (brinca). Eles ficam bêbados. Eles se sujam. Vão tomar banho no rio. Vai ser uma coisa bem violenta, brutal, masculina.

Em ‘Liberdade, Liberdade’, André será irmão e confidente de Joaquina, papel de Andreia Horta (ao centro) (Foto: Fabiano Battaglin/Gshow)

Almanaque da Cultura: Você sempre se interessou por essa parte histórica do país?
Caio Blat: Eu sempre gostei muito da história do Brasil. Eu sempre gostei muito de estudar a Revolução Francesa, Industrial, Burguesa. Isso tudo acaba desembocando aqui no Brasil. Eu gosto muito.

Almanaque da Cultura: Quais foram as suas referências para compor o André?
Caio Blat: Não tive muita referencia não. Eu lembrei muito do personagem (José Maria – Zé Mulher) do Guilherme Piva em “Chica da Silva”. Na mesma época, um personagem gay, ele fez brilhantemente. Apesar de meu personagem ser bem mais enrustido. Me inspirei em um filme também de um cozinheiro, que o dono do restaurante se apaixona pelo funcionário. Ele não dá nenhuma pinta o filme inteiro. Estou tentando ter essa delicadeza na interpretação. Não lembro o nome do filme.