Foi na cenografia de “I Love Paraisópolis”, no Projac, na Zona Oeste do Rio, que encontramos com Caio Castro. Mais precisamente no famoso Bar do Totonho, ponto de encontro dos personagens da trama de Alcides Nogueira e Mario Teixeira. Sem cerimônia, o artista sentou em uma mesa do boteco para falar um pouco do Grego, o malandro mais fofo da trama.
Sem dúvidas, Caio está em casa. Conversa com os figurantes, cumprimenta a equipe e fala de igual para igual. Parece que a palavra celebridade não existe em seu vocabulário. Ele é gente da gente. Em uma conversa intimista com o Almanaque da Cultura, o rapaz falou um pouco de sua carreira e declarou estar surpreso com a repercussão de seu personagem, Grego.
Almanaque da Cultura: O que você está achando dessa repercussão positiva em torno de “I Love Paraisópolis”?
Caio Castro: Estou me sentindo muito bem e muito feliz com essa repercussão. Não poderia ser diferente de estar em um projeto de sucesso e de repercussão boa. Ainda não tem muito o que dizer, não chegamos nem na metade do processo e ainda tem muito trabalho a ser feito. Ainda não é a hora de pensar como a gente se sente e de fazer por onde melhorar cada vez mais, mas é óbvio que estamos muito felizes de ter sido da forma que foi e está sendo. Eu fico bastante feliz com a repercussão da novela.
Almanaque da Cultura: E como está sendo a resposta do público nas ruas e nas redes sociais?
Caio Castro: Eu quase não estou saindo por causa das gravações da trama. A rotina está intensa. Eu estou praticamente cinco dias na semana gravando aqui. Tenho pouco contato com as pessoas de fora, mas pela internet dá para ter uma ideia de que as pessoas estão gostando bastante da novela. Acho que o sucesso de “I Love Paraisópolis” é por causa de seu tema, que é bastante peculiar. Não é todo dia que as pessoas têm contato com a rotina de uma comunidade. Só quem vive ali e frequenta, sabe como é, e a novela está proporcionando isso ao público. Eles estão curtindo bastante e descobrindo um pouco de como é a rotina desses moradores que vivem em uma comunidade.
Almanaque da Cultura: Como você montou esse personagem que conquistou o público de uma forma geral. Você saiu de sua zona de conforto, né?
Caio Castro: É engraçado né, zona de conforto? Isso não existe em um trabalho televisionado para milhares de pessoas. Zona de conforto acho que ninguém fica muito. E, por incrível que pareça, fazer mocinho é uma coisa muito difícil, quase chato, porque é engessado. Já existe uma fórmula estabelecida para os mocinhos e são papeis muito perigosos. Se não for conduzido bem, esses personagens podem cair em uma coisa tosca e ser rejeitado pelo público. O Mauricio (Destri) e a Bruna (Marquezine) estão quebrando isso, estão fazendo uma coisa mais interessante do que é esperado de um mocinho e de uma mocinha.
Almanaque da Cultura: Então, como surgiu o Grego?
Caio Castro: Para criar o Grego eu fiz um grande trabalho de observação. O laboratório que eu optei foi visitar as comunidades, mas não fui a Paraisópolis, porque o ambiente ali já estava um pouco acostumado com a nossa equipe. Eles estavam sendo anfitriões com a equipe da novela e eu não queria isso. Eu queria ser mais um ali, queria ver como funcionava o dia a dia. Procurei amigos meus que moram nas comunidades de São Paulo, que a gente chama de “quebrada” e de “favela”. Fui com meus amigos e vivi um pouco da vida daquelas pessoas, fiquei observando o dia a dia daqueles moradores, reparando nos mínimos detalhes das pessoas. Acabei achando algumas inspirações e criei o Grego. Filtrei muita coisa. O que era bom acabei absorvendo e o que não era, deletei. Entretanto, costumo dizer que a cada dia é uma coisa nova que aparece e é uma reciclagem. Sempre estou conectado com meus amigos de lá e eles sempre me mandam frases e gírias novas. É um trabalho contínuo de muita tensão. A troca é essencial com o meu elenco.
Almanaque da Cultura: A cidade cenográfica é espetacular. Como é para você interpretar nesse ambiente “quase” real?
Caio Castro: Não saio daqui. O Grego não grava em estúdio. Eu acho muito gozado que quando alguém vem gravar aqui, olham para mim e falam: “Opa, estamos entrando no ambiente do Grego”. Sabe, é a nossa cidade! A equipe técnica reproduziu a cidade de Paraisópolis com muita realidade. Essa cidade é uma das maiores que a emissora já produziu. Esse ambiente ajuda muito na composição das cenas e faz com que o personagem se torne real. A cidade também é um personagem à parte. Isso aqui é um evento. Eu acompanhei com a direção a construção daqui e fico impressionado com o que eles fizeram. Fizeram um milagre. Pois, não era nada. Ficou bom, né? (risos).
Almanaque da Cultura: No inicio da trama, você ficou com medo do personagem cair no caricato?
Caio Castro: Bastante pertinente a pergunta. Antes de ler o roteiro fui me informar a respeito do personagem. O vilão também, assim como os mocinhos, é muito fácil de cair no caricato. Ainda mais o vilão que é mau. Eu assisti a bastante coisa, mas não quis me inspirar em nenhuma. Eu vi tudo para não fazer igual, sabe? Distanciei-me ao máximo de tudo. Preocupei-me bastante de não cair no caricato.
Almanaque da Cultura: Você acha que o Grego é um mau caráter?
Caio Castro: Eu acho que ele é um coitado. Nada justifica nada. Não acredito que exista algo errado. Às vezes eu leio o texto, e, fico até com o coração apertado. Tenho vontade de chorar. Ele é um ser muito frágil.
Almanaque da Cultura: Você imaginava esse sucesso do Grego com o público infantil?
Caio Castro: Pois é! Eu nunca imaginei. Eu passo na rua e vem a criança gritando: “Grego, Grego, Grego!”, e agarra igual a um carrapato na minha perna. Elas são apaixonadíssimas por ele. Elas olham para mim e falam: “Na moral!”. Eu imaginava tudo, menos que os pequenininhos fossem amar esse personagem. Aí é que a gente fica feliz! Criança não mente, né? Eles gostam de verdade. É um amor muito puro.
Almanaque da Cultura: Você acredita no final feliz do Grego com a Mari? Na redenção dele?
Caio Castro: As novelas estão cheias de finais felizes. Poderia ser um final diferente. Eu acho que o Grego deveria morrer. Não sei. Eu não acredito nessa concepção de mudar. Na real, ninguém muda. Ninguém muda por ninguém e ninguém faz ninguém mudar. É obvio que a Mari é o grande amor vida dele. Ela pode ser a grande ferramenta da tal mudança dele, mas acredito que ele não vai mudar por ela. Ele precisa se entender e mudar por conta própria. Não existe mudança pelo outro. Só temporária. É a minha opinião.
Almanaque da Cultura: Como é ser dirigido pelo Wolf Maya?
Caio Castro: Ele quase não me dirige em “I Love Paraisópolis”, mas já trabalhei com ele em outras oportunidades e todo mundo me pergunta isso. Costumo dizer que ele dá uma segurança para o ator que quase ninguém dá. Ele coloca você em um lugar que você tem que estar. Ele é psiquiatra. Ele entende muito além do seu personagem. Ele entende você como pessoa. Ele vai te dar o caminho. Isso faz a grande diferença.