O dublador Leonardo Martins e o ator Aidan Gillen (Fotos: Instagram / Helen Slonan/HBO)

No Dia do Dublador, celebrado em 29 de junho, o Almanaque da Cultura conversou com Leonardo “Léo” Martins. O rosto e o nome podem não ser tão conhecidos, porém, sua voz é inconfundível quando dá vida ao personagem Petyr Baelish (Aidan Gillen), de “Game of Thrones“, mais conhecido como Littlefinger, ou Mindinho, na versão brasileira.

Filho do também dublador Alfredo Martins, que empresta a voz a Donald Sutherland, entre outros atores, Léo,  costuma dizer que herdou a dublagem da família e foi criado dentro dos estúdios a partir dos oito anos. O pai o levava na sede da Herberts Richards, na Zona Sul do Rio no início dos anos 80, quando a empresa chegou ao seu ápice.

Dos 12 aos 22 anos parou de dublar para se dedicar e formar-se em música. Em paralelo, fazia apenas participações no seriado “Duro na Queda”. Só quando voltou para a profissão em 1998, quando teve papéis mais importantes.

Além da dublagem em “Game of Thrones”, Martins é atualmente diretor musical do longa “The Hero of Color City”, que será exibido pela Discovery Kids. Hoje ele se considera realizado, porque conseguiu unir a dublagem à formação em música, sendo professor musical em uma escola Municipal do Rio e percussionista do Bangalafumenga.

Almanaque da Cultura: Como é integrar a equipe de dublagem de “Game of Thrones”, uma séria tão assistida como essa?
Léo Martins: Não tinha ideia de como essa série iria ser. Sabia que era uma produção muito bacana da HBO, mas ainda não consegui acompanhar! Assisti só um pouco do segundo ano da série por conta do excesso de trabalho. O diretor é que tem que ter uma noção de quem ele vai chamar para fazer cada papel. Consegui emplacar o Littlefinger por conta de outras dublagens com caras muito maus, perversos, manipuladores, irônicos e psicopatas. Ou seja, por conta da interpretação que eu dou.

Almanaque da Cultura: Você acompanha a série? Torce pelo personagem? Você leu os livros?
Léo Martins: Eu não estou envolvido com a série! Muitas vezes o ator não tem tempo, ainda mais na dublagem. A gente não tem esse trabalho de dublar texto. A gente decora o texto na hora, é rápido. Como a gente não trabalha com a imagem, o texto está sempre na nossa frente e você ensaia uma ou duas vezes e grava. Eu já peguei a interpretação do Littlefinger: é um homem que fala baixo e já uso o meu tom de voz mais grave. É um homem muito calculista, frio, perverso. Isso tudo quem me passa é o diretor. Como é uma série, eu vou melhorando ao longo disso e conforme esse personagem vai crescendo. Eu posso e devo criar em cima do personagem. Muitas vezes a gente tem que melhorar a interpretação do ator – o que não é o caso do “Game of Thrones”. Muitas vezes temos que trazer para a nossa realidade. Nessa série não dá para fazer isso, porque é uma história épica, num tempo medieval, e temos que falar um português mais erudito.

Almanaque da Cultura: Dublagem de filme e seriado é diferente de dublar um desenho?
Léo Martins: Não tem diferença. Aliás, adoro dublar desenho, porque a gente cria mais, a gente faz mais timbres diferentes. A técnica é a mesma, você tem que interpretar bem e sincronizar bem aquele texto com uma boa adaptação. Tem que tirar a tradução ao pé da letra, porque fica feio. O mercado de São Paulo ainda tem que melhorar nesse sentido, porque eles são muito ‘duros’. O Rio mandou nesse mercado até os anos 80, mas depois São Paulo tomou conta desse espaço.

Almanaque da Cultura: Você tem algum cuidado especial com a voz? Quais são as técnicas que você utiliza?
Léo Martins: O que faço com mais regularidade são exercícios de vocalise para canto. Ando em um momento difícil, porque dou aulas, sou professor do Município do Rio, então desenvolvi técnicas para chamar a atenção dos alunos, como “Psiiiu”, para não gritar. Falo mais baixo, com mais grave, para que eles prestem atenção. Tenho um CD de vocalises no carro, e, sempre que posso, no caminho dos estúdios, da escola, vou treinando. Pareço um maluco dentro do carro fazendo barulhos!

Almanaque da Cultura: Como é o mercado da dublagem? Como se chega até ele? O que tem que fazer para entrar?
Léo Martins: Esse mercado já foi muito restrito, já foi difícil de entrar. Na época que meu pai entrou eram pouquíssimas pessoas que faziam, inclusive, por conta da ditadura. Como só aparecia a voz do meu pai, ele não teve problema. Hoje tem muita gente nova, porque houve um boom no mercado da dublagem. Triplicou a assinatura de canais fechados. E a nova classe C contribuiu para isso, porque preferem os filmes dublados. Hoje são atores que se especializam em dublagem. O canto na dublagem é mais difícil, porque é uma especialização da especialização! O profissional tem que ser ator e cantor e sincronizar o texto.

Almanaque da Cultura: Como você vem de uma família de dubladores, já dublou com seu pai e irmãs? Como foi?
Léo Martins: Já dublamos muita coisa em família. A Fabíola e meu pai fizeram o “Toy Story”. No primeiro e no último meu pai fez o Cabeça de Batata e a Fabíola fez a voz da Barbie no último. Já fizemos vozerio (falatório) em multidões, em bar, em festa. Faço muitos papeis na dublagem quando o filme volta ao tempo, por exemplo: 40 anos antes. Então meu pai faz o personagem mais velho e eu o mesmo personagem, só que mais novo. Ou faço o filho dele.

Filmes:

Brian Mahoney em American Pie: O Reencontro
Brian Tee em Velozes e Furiosos (Globo)
Clifton Powell em Os Reis da Rua
Peter Spears em O Pai da Noiva 2
Ray Randall em Corrida Mortal 2
Vince Pisani em American Pie: O Reencontro

Seriados:

Aidan Gillen (Littlefinger) em Game of Thrones
Anthony Palermo (Paolo) em Chuck
Bradley Stryker (Tio Ted) em Sobrenatural
Jamie Bamber (Lee “Apollo” Adama) em Galactica: A Astronave de Combate
Max Greenfield (Leo D’Amato) em Veronica Mars
Shawn Roberts (Austin) em Sobrenatural

Desenhos:

Clint Barton / Gavião Arqueiro (2a. voz) em Os Vingadores: Os Super-Heróis Mais Poderosos da Terra
Wyatt Williams (1a. voz) em Seis Dezesseis

Leonardo “Léo” Martins canta o tema de abertura do desenho “Os Vingadores: Os Super-Heróis Mais Poderosos da Terra”: