Humberto Martins, de 54 anos, fala em entrevista à revista QUEM que não aceitaria interpretar um personagem gay na televisão. “Não tem nada a ver. No cinema ou no teatro, o público até aceitaria. Na TV, não. É uma questão comercial”, explicou.
O ator foi símbolo sexual da TV Globo nos anos 90. “Sabe essa gritaria com o Justin Bieber? Era mais ou menos por aí”, relembra. A partir da primeira metade dos anos 2000, Humberto decidiu mudar o rumo da carreira. “Eu estava de saco cheio daquilo”, desabafa. Enfrentou resistência de autores, até que tomou uma difícil decisão: a de se autossabotar fisicamente. Parou de malhar e, consequentemente, ganhou uns quilinhos. A virada em sua carreira aconteceu em 2005, em “América”. Desde então vem recebendo elogios por sua atuação. No ar como o empresário Germano, de “Totalmente Demais“, ele comemora a bem-sucedida carreira.
Humberto Martins é Germano em “Totalmente Demais” (Foto: Globo/João Miguel Júnior)Houve uma mudança no perfil de seus personagens a partir da novela América (2005). Você deixou, por exemplo, de aparecer sem camisa. Foi decisão sua?
Humberto Martins: Foi, mas a TV Globo já sabia. Eu estava trabalhando com
Carlos Lombardi (autor) há 13 anos. Ele sempre escreveu papéis muito bons para mim. Aliás, muito da minha fama é por causa do Lombardi e dos personagens que me foram passados por ele. Mas nunca dei conta dessa história de ser galã. Estudei para ser um artista. Sabia que tinha potencial para outro tipo de papel.
Como ocorreu a mudança?
HM: Eu estava de saco cheio de exibir os músculos. Então, em América, quis abotoar a camisa até o último botão (risos)! Deixei até de ir à academia. Pensei: “Que se dane se eu perder os músculos e murchar tudo”. Não tem que precisar da academia para ser um ator.
Foi difícil convencer autores a escalá-lo para outros tipos de papéis?
HM: Isso incomodava bastante. Como vou enfiar aquilo na cabeça deles? As pessoas não acreditam até que você mostre que é capaz. A TV é um meio de sedução. Fiquei aliviado quando consegui mostrar que eu não era só aquilo.
Você já interpretou homens rudes, másculos e, muitas vezes, broncos. Falta um gay?
HM: Eu não aceitaria um papel de gay na TV. Não tem nada a ver. No cinema ou no teatro, o público até aceitaria. Na TV, não. É uma questão comercial. A TV aberta não comporta esse tipo de escalação. Vai ficar falso, é novela. E novela é retratação da realidade. Você não consegue fazer sal virar açúcar. O gosto vai ser sempre sal. Já fiz uns dez policiais: PM, civil, bombeiro, agente, sargento, capitão, guerrilheiro, ditador de Cuba… Como pegar um cara assim e fazer dele uma bicha?
Seu colega Marcos Pasquim interpretaria um gay em Babilônia. Após pesquisas de opinião, percebeu-se uma rejeição do público e o papel mudou. É disso que você está falando?
HM: Claro! É problema de escalação errada. Novela é produto popular. O público manda na história, acolhe e decide o que quer assistir. Ele não gosta de ver uma pessoa que já idolatrou em sua mente como galã interpretando gay. Há outros atores para isso! Se tivessem colocado outro rapaz desde o início, talvez a coisa andasse. Eu sabia que daria nisso. Não sou Deus, mas isso é fácil de se entender. Marcos sempre foi visto como pegador!
Em Totalmente Demais, seu personagem trai a mulher o tempo todo. o que acha de traição?
HM: O homem tem natureza traidora na cultura latina. A gente é criado assim: se ele trai, é pegador; se ela trai, é piranha. Traí quando mais novo, tinha seis namoradas (risos), mas há muito tempo tenho a consciência de não fazer mais isso.