Mateus Solano foi o convidado de Bianca Ramoneda no programa “Ofício em Cena”, da GloboNews. O ator coleciona personagens de sucesso na televisão, no cinema e no teatro. O mais recente, o Félix de “Amor à Vida”, o consagrou como um dos grandes atores da sua geração. Mateus Solano garantiu que este foi o personagem mais complexo “porque eram vários personagens dentro de uma pessoa só”, definiu. Ele também revelou durante a entrevista como é o seu processo de criação, desde o momento em que recebe o texto pela primeira vez.
De acordo com o ator, o processo é bastante subjetivo e pode variar a cada novo trabalho. O que não muda é a importância da primeira leitura do texto. “Nunca saiu da minha cabeça o que li em um dos livros do Stanislavski, que o primeiro encontro com o texto é como o primeiro encontro amoroso. Tem coisas desse primeiro contato com o personagem, dessa primeira impressão, que nunca vão sair da sua cabeça”.
Mateus declarou algumas dificuldades inerentes à profissão, como a de ter que imprimir a mesma intensidade e emoção na continuação de uma cena que começou a ser gravada na semana anterior. Ele citou como exemplo as cenas em que Félix jogava a menina na caçamba e em seguida ia atrás da mãe implorando a sua atenção. Para garantir a credibilidade na continuidade da cena, era preciso manter a mesma emoção, o cabelo desgrenhado, o suor, o fogo nos olhos com que havia atuado na semana anterior.
“Para isso, o Maurinho Mendonça (diretor) deixou o cenário intacto, do mesmo jeito que eu tinha deixado, com cadeira jogada, quebrada e colocou uma tarja dizendo: palco do Mateus”, lembrou, emocionado. E a cena seguinte nem foi gravada no mesmo lugar. A estratégia foi apenas para que o ator pudesse reviver a emoção. “E eu fiquei que nem um maluco, sozinho, andando de um lado pro outro, lembrando o texto, para chegar no outro cenário e falar: ‘Mãe, pelo amor de Deus, fala comigo’. É muito emocionante lembrar disso”.
Mateus ainda revelou uma curiosidade pouco conhecida pelo grande público. Assim como Félix, ele também tem um pai distante. A última cena da novela, em que o pai, interpretado por Antonio Fagundes, o chama pela primeira vez de filho foi um dos maiores presentes que recebeu da novela. “Além de coroar meu trabalho com o Fagundes, de alguma forma o trabalho permitiu que eu resolvesse várias coisas com o meu pai, o que é muito precioso”.
Além do Félix, Mateus falou sobre as dificuldades de interpretar os gêmeos Jorge e Miguel da novela “Viver a Vida”. Não apenas pela quantidade enorme de texto, mas pelas cenas em que os dois atuavam juntos. “Já tinham sido feitas outras novelas com gêmeos, mas nunca com tanto toque, com tantas brigas, com tantas cenas juntas”, orgulhou-se. Ele demonstra ser estudioso, aplicado, mas mostra-se aberto também para que o diretor contribua para o sucesso da cena. “Meu objetivo é 30-70. Trinta por cento é tudo que decorei, minhas opiniões sobre aquele personagem, o que está escrito. E 70% deixo solto”, explicou.