Paulo Rocha conta as novidades sobre seu personagem em ‘Totalmente Demais’

"Você acaba exorcizando uma série de coisas que você convencionalmente não pode ou não deve fazer", comenta o ator que vai viver um tema bem delicado

O ator Paulo Rocha irá interpretar um homem cheio de nuances em “Totalmente Demais“, a nova novela das sete da TV Globo. Em uma conversa com o Almanaque da Cultura, o artista português falou do processo de criação do personagem, da indicação de “Império” ao Emmy Internacional e outros assuntos.

Almanaque da Cultura: Paulo, você saiu de “Império” onde dava vida a um cara mau-caráter e em “Totalmente Demais” você interpreta outro cara com uma personalidade parecida. Como está sendo isso?
Paulo Rocha: “Está sendo bem legal interpretar o Dino. Fui convidado pela produção da novela para encarar esse cara cheio de nuances. Eles acreditaram que eu tinha esse cara guardado dentro de mim. Na verdade, todos temos esse lado b. Você que escolhe cultivar ou esconder esse lado de alguma maneira. Estou muito feliz em interpretar um personagem forte. Ele é um personagem que me tira da zona de conforto. É bacana. Você acaba exorcizando uma série de coisas que você convencionalmente não pode ou não deve fazer. Não que eu tenha vontade de fazer as mesmas coisas que ele faz, mas tem muita coisa que ele faz que muita gente tem vontade de fazer. Acho que o que acontece com o Dino é que ele está em um estágio mais primário nesse aspecto. Ele não tem abertura para a perspectiva do outro. Ele não está aberto. Ele foi ensinado assim, misturado com essa essência dele. Ele acabou sendo influenciado por tudo em volta. A gente é muito fruto da língua e do ambiente que nos atravessa. Contra isso a gente não tem poder.

Almanaque da Cultura: O Dino é um personagem bem polêmico e enigmático. Para você, é fácil deixar o personagem no estúdio ou demora um pouco para se livrar dele?
Paulo Rocha: Não, não. A gente fez um trabalho muito intenso de preparo. Com várias formas. Bem intensas, inclusive. Esse personagem é bem pesado. Se você ficar saindo e entrando no personagem não dá. Eu tento ficar bem concentrado nele. O máximo possível. E, claro, que quando eu termino de gravar, ainda fico com ele dentro de mim. Gravei na última quinta-feira. No fim de semana, estava com um amigo, batemos bola e trocamos ideias. E ele relatou: “cara, no final da tarde de sábado, que você voltou a ser o Paulo que eu conheço”. O personagem é muito pesado e tento mergulhar o máximo possível. Eu acredito que eu preciso ficar muito concentrado, pois o papel pede isso. Creio que o resultado final será melhor. Ás vezes demora um pouquinho para sair.

Gilda (Leona Cavalli) e Dino (Paulo Rocha)

Almanaque da Cultura: Seu personagem vai mexer com assuntos delicados. Como você está tratando isso? Como foi a composição?
Paulo Rocha: Não sei se vai chegar perto de pedofilia, mas, ele vai tentar olhar a enteada com outros olhos. O personagem já estava muito amarrado. Na minha infância, não cruzei com nenhum ser que pudesse me ajudar a compor esse personagem. Entretanto, na minha infância eu fui criado em um sitio, que tinha um contato com a natureza e um certo isolamento. Ao mesmo tempo, tive contato com pessoas com uma certa rudeza social. Não o caráter social dele. Eu consegui criar uma relação com esse lado rústico que o personagem tem. A singularidade dele está muito bem dada no texto, que é primoroso. Além disso tudo, eu faço aulas de sinuca e visito sempre oficinas para ver como um mecânico trabalha.

Almanaque da Cultura: Você deu uma neutralizada no seu sotaque, né?
Paulo Rocha: Pois é! A gente está trabalhando isso desde o final de “Guerra dos Sexos”. Estamos tendo um bom resultado com essa neutralização do sotaque. É um processo que está funcionando muito bem. Em “Império”, eu tinha muito mais essa preocupação. Aqui, não. Pois, o personagem tem raiz portuguesa. Para não desfocar um pouco de assuntos mais interessantes que o personagem irá levantar.

Almanaque da Cultura: Você está quase um carioca, né?
Paulo Rocha: Pois, é! Eu estou morando aqui direto há quatro anos. Eu chequei para “Fina Estampa” e fiquei. No final de “Fina Estampa” eu já me policiava. Já estava falando bem o português daqui. Quando eu ligava para Portugal, acabava falando o português do Brasil (risos). Tenho me policiado bastante.

Dino ( Paulo Rocha )

Almanaque da Cultura: O Aguinaldo Silva foi o cara que acreditou em você desde o inicio. Como você recebeu a noticia que “Império” foi indica para o Emmy Internacional?
Paulo Rocha: Eu fiquei muito feliz! Acho que é totalmente merecido. Acho a novela maravilhosa. Não é à toa que foi o sucesso dos últimos anos. É sempre muito gratificante. A gente só tem uma vida. E foi um ano da minha vida que eu me dediquei a ela. A gente fez uma coisa legal. Tenho consciência disso. É bom para a Rede Globo. É a globalização dos conteúdos, né? Eu fico muito feliz.

Almanaque da Cultura: Quando as novelas daqui passam em Portugal, a repercussão também é grande?
Paulo Rocha: As pessoas adoram. As pessoas gostam das tramas do Brasil. Eu quase não escuto critica negativa. As pessoas ficam felizes pelo meu sucesso. Poderia ser diferente, mas não é.

Almanaque da Cultura: O personagem vai ficar até o final?
Paulo Rocha: Eu não sei. A pessoa indicada para responder essa pergunta é o autor da novela (risos). Eu estou fazendo o meu trabalho e tenho me divertido muito. Estou curtindo muito e estou muito feliz de estar aqui. É muito legal para mim estar vivendo isso.