Bloco Bangalafumenga se prepara para transformar o Carnaval do Rio em 2026
Bloco Bangalafumenga se prepara para transformar o Carnaval do Rio em 2026

O Bloco Bangalafumenga, um dos maiores ícones do Carnaval carioca, acaba de anunciar uma grande mudança para o seu cortejo no Carnaval de 2026. Em uma decisão tomada no último dia 24 de fevereiro, os integrantes do bloco decidiram romper com o modelo tradicional de desfile público e adotar uma nova abordagem para a festa, que terá como marco o Carnaval de 2025.

Segundo o comunicado divulgado pela assessoria do bloco, o Bangalafumenga não pretende simplesmente seguir o fluxo do Carnaval de Rua como tem acontecido nos últimos anos. O bloco se distanciará do que considera um modelo “asfixiante” para os blocos e artistas que são os reais responsáveis pela festa, mas que, muitas vezes, não recebem de volta os recursos que geram para a cidade. O grupo optou por um “Carnaval silencioso” em 2025, sem a tradicional aglomeração de público, mas com as batucadas que marcam a sua essência.

Crítica ao modelo de Carnaval de Rua do Rio

O Bloco Bangalafumenga, que tem suas raízes fincadas na poesia e na arte, foi fundado em 1998 e é conhecido por ser pioneiro e corajoso em suas escolhas. O anúncio reflete a insatisfação do grupo com o modelo atual de Carnaval, especialmente em relação à administração pública e à forma como a festa é gerida. O bloco acredita que o Carnaval de Rua, que movimenta bilhões de reais todos os anos, está cada vez mais sendo dominado por empresas privadas e pela especulação de mercado, em detrimento dos próprios artistas e blocos que originam a festa.

“Não estamos pedindo recurso público para o Carnaval. O problema é que o Carnaval de Rua não recebe de volta o recurso que ele mesmo gera”, afirma o comunicado. Segundo dados da prefeitura, o Carnaval do Rio de Janeiro movimentou mais de 5 bilhões de reais em 2024, com uma arrecadação de impostos de 200 milhões de reais. Por outro lado, o custo para a cidade com a infraestrutura necessária para os blocos de rua gira em torno de 30 a 40 milhões de reais. Para o Bangalafumenga, esse dinheiro não é suficiente para cobrir as necessidades dos blocos e artistas.

A venda de direitos e a perda de autonomia dos blocos

Outro ponto criticado pelo bloco é o modelo de negociação entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e empresas privadas. A festa, que originalmente era de responsabilidade do poder público, acaba sendo revendida para grandes marcas, que pagam pelos direitos de exploração e depois repassam esses direitos para outras empresas. Isso, segundo o Bloco Bangalafumenga, limita a participação das marcas que realmente apoiam o bloco e o trabalho dos artistas, criando um sistema insustentável e desigual.

“A empresa que adquire os direitos negociados pela cidade trabalha para amortizar o investimento feito e pago à prefeitura”, explica o comunicado, revelando a visão do bloco sobre o processo de comercialização do Carnaval. O resultado desse modelo, de acordo com o Bangalafumenga, é um Carnaval cada vez mais afastado da cultura popular e das suas origens, com marcas se afastando do bloco devido à burocracia e ao medo de sofrer penalidades.

A arte e a luta pela renovação do Carnaval

O Bloco Bangalafumenga nasceu como uma expressão artística, com o objetivo de reunir as pessoas por meio da música e da alegria do Carnaval. Contudo, os integrantes do bloco acreditam que o modelo atual do Carnaval carioca não mais reflete as suas necessidades nem as da comunidade artística. “Não temos vocação para ficar reféns de um modelo de carnaval arcaico, que ainda aceita e normaliza a escassez que ronda o artista e a cultura. Basta”, afirmam os organizadores do bloco.

Para o grupo, a arte deve ocupar um papel mais relevante e central no Carnaval, e o modelo atual de ativação de marcas e patrocínios não contribui para isso. “O futuro do Carnaval genuíno passa longe de sistemas e modelos que só pensam em metas”, ressaltam os responsáveis pelo Bangalafumenga.

A mudança para 2026 será, portanto, um marco para o bloco, que, ao contrário de outros anos, não buscará a tradicional aglomeração de público nas ruas. O grupo afirmou que trabalhará de maneira organizada e pragmática para reverter o atual cenário do Carnaval de Rua do Rio de Janeiro, defendendo uma abordagem mais justa para os artistas e para os blocos.

O futuro do Carnaval e o convite à reflexão

O Bloco Bangalafumenga não está sozinho em sua luta. O grupo convidou outros blocos do Rio de Janeiro e as ligas carnavalescas para refletirem juntos sobre o futuro do Carnaval na cidade. A proposta é promover um diálogo após o Carnaval de 2025 para buscar soluções que tragam mais autonomia aos blocos e artistas. “Estão jogando dominó. Nós vamos jogar xadrez”, declarou o bloco, que se vê como protagonista de um movimento que visa transformar o Carnaval carioca, tornando-o mais inclusivo e justo.

A decisão do Bloco Bangalafumenga representa uma ruptura com a tradição e um chamado para uma reinvenção do Carnaval de Rua, alinhado com os interesses dos artistas, blocos e demais envolvidos na produção cultural da cidade. Para o grupo, a festa deve ser pensada de maneira mais profunda, sem se render ao capital e à especulação.

Com o anúncio do novo modelo de cortejo para 2026, o Bloco Bangalafumenga reafirma sua posição como defensor da arte e da cultura genuína, destacando que o futuro do Carnaval depende de uma mudança estruturante e urgente no sistema atual. O convite é para todos os envolvidos repensarem o que é, de fato, a verdadeira festa popular.