A Editora Cobogó anuncia para dezembro o lançamento da coleção “O Livro do Disco”. A série reúne publicações que abordam álbuns considerados clássicos da música brasileira e internacional. São seis livros que compõem a primeira leva da coleção, dedicada à análise aprofundada de discos de artistas como Jorge Ben, Tom Zé, O Rappa, The Velvet Underground, Sonic Youth e DJ Shadow.

Iniciativa busca preencher lacuna editorial

Segundo os organizadores, a série busca suprir uma ausência no mercado editorial brasileiro: a de livros que tratem exclusivamente sobre discos. A proposta é abordar os álbuns de forma aprofundada, com liberdade para que os autores explorem temas como contexto histórico, bastidores das gravações, impacto cultural e análise de letras.

Os textos são compostos por entrevistas, ensaios, pesquisas e reportagens. Cada livro é escrito por um autor diferente, respeitando uma estrutura própria. As obras combinam relatos pessoais com rigor analítico.

Álbuns nacionais ganham destaque com autores brasileiros

Três dos títulos são dedicados a discos brasileiros lançados nas décadas de 1970 e 1990. O primeiro deles é ‘A tábua de esmeralda’ (1974), de Jorge Ben, abordado pelo pesquisador Paulo da Costa e Silva. O segundo é ‘Estudando o samba’ (1976), de Tom Zé, analisado pelo crítico Bernardo Oliveira. O terceiro é ‘LadoB LadoA’ (1999), do grupo O Rappa, que teve seu livro escrito pelo ensaísta e professor de literatura Frederico Coelho.

Frederico Coelho também atua como um dos organizadores da coleção ao lado do editor Mauro Gaspar. Para ele, a liberdade criativa dos autores é central para a proposta da série. Os organizadores afirmam que os livros não têm como critério a popularidade dos discos. A escolha é feita com base em sua relevância histórica e impacto cultural.

Títulos internacionais são traduções de obras consagradas

Os livros que tratam de discos internacionais são traduções de títulos publicados pela editora americana Bloomsbury, dentro da série “33 e 1/3”. Essa coleção, lançada em 2003, já publicou mais de cem volumes sobre discos de diversos estilos musicais.

No lançamento da Cobogó, três títulos dessa série foram traduzidos para o português. São eles: “The Velvet Underground and Nico” (1967), da banda The Velvet Underground, escrito por Joe Harvard; “Daydream Nation” (1988), do Sonic Youth, com texto de Matthew Stearns; e ‘Endtroducing’ (1996), do DJ Shadow, analisado por Eliot Wilder.

As traduções mantêm os textos originais publicados entre 2004 e 2007. A editora brasileira optou por traduzir apenas obras que considera fundamentais para entender a música contemporânea e seus desdobramentos.

Escolha dos discos não segue critérios comerciais

Os organizadores da coleção esclarecem que os discos escolhidos não foram necessariamente os mais vendidos ou populares de seus tempos. A seleção considerou álbuns que tiveram papel significativo na transformação de estilos musicais, na experimentação de linguagens sonoras e na renovação estética de suas épocas.

“Decidimos traduzir títulos que são referência para nós e que de alguma maneira quebraram barreiras e definiram paradigmas”, dizem os responsáveis pela curadoria dos livros.

A ideia é ampliar o repertório do leitor brasileiro e oferecer textos que permitam mergulhar nas múltiplas camadas que envolvem cada álbum.

Diversidade de estilos musicais compõe a coleção

A seleção dos álbuns reflete uma diversidade de gêneros musicais. Os discos analisados transitam entre o rock, o hip-hop, a música eletrônica, o samba e a MPB. A proposta da coleção é justamente mostrar como diferentes estilos dialogam com seu tempo e influenciam outras áreas da cultura.

No caso brasileiro, ‘Estudando o samba’, de Tom Zé, é um exemplo de reinvenção do samba em meio à ditadura militar. Já ‘A tábua de esmeralda’, de Jorge Ben, combina elementos esotéricos, filosofia e referências sonoras da década de 1970. O disco ‘LadoB LadoA’, lançado por O Rappa em 1999, reflete o contexto urbano e social do Brasil no final do século.

No cenário internacional, ‘The Velvet Underground and Nico’ é um marco do rock experimental dos anos 1960. ‘Daydream Nation’ é um dos discos mais relevantes do rock alternativo norte-americano. ‘Endtroducing’ é reconhecido por ter sido o primeiro álbum inteiramente feito com samples.

Autores são especialistas em música e cultura

Os autores brasileiros convidados para a coleção possuem experiência em crítica musical, pesquisa acadêmica e ensaísmo. Bernardo Oliveira é crítico e pesquisador com atuação na área da música experimental e contemporânea. Paulo da Costa e Silva é doutor em Letras e pesquisador das relações entre música, literatura e cultura popular. Frederico Coelho é ensaísta, professor da PUC-Rio e autor de livros sobre contracultura e música brasileira.

Já os autores internacionais fazem parte da tradição crítica da série “33 e 1/3”. Joe Harvard era músico, produtor e historiador musical. Eliot Wilder é jornalista e crítico cultural. Matthew Stearns é escritor e analista de música contemporânea.

Cada autor parte de uma abordagem própria, sem uma estrutura fixa. Isso permite que os livros tratem dos discos sob diversas perspectivas, desde a técnica de gravação até o impacto sociocultural de cada obra.

Lançamento será em dezembro com distribuição nacional

A Editora Cobogó confirma que os livros estarão disponíveis a partir de dezembro. As publicações serão vendidas nas principais livrarias físicas e online. A série deve ganhar novos títulos em edições futuras, segundo os organizadores.

A proposta da coleção é contínua. A editora pretende lançar novos volumes regularmente, ampliando o escopo de artistas e estilos contemplados. A meta é formar um acervo relevante sobre música para o público brasileiro, a partir de análises que aprofundem o entendimento da cultura musical.

A “Coleção Livro do Disco” também pode interessar a leitores que se dedicam à pesquisa, ao jornalismo musical e à produção cultural. Os livros se propõem a ser tanto uma porta de entrada quanto um aprofundamento nos universos criativos de cada artista.

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