Nova no mercado literário, Hoo Editora tem foco em livros LGBT

Criada há poucos meses, empresa tem como proposta publicação de obras ficcionais voltadas para a temática LGBT

De acordo com a última pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população LGBT no Brasil chega a 18 milhões de pessoas. Eles têm sua própria cultura, sua moda, seu mercado e agora podem contar com uma editora de livros exclusiva. Visando exatamente este público, a publisher Juliana Albuquerque fundou em 2015 a Hoo Editora, especializada em divulgar obras de ficção com temática LGBT.

A ideia da criação da Hoo surgiu quando os sócios Juliana Albuquerque e Marcio Coelho, marido e mulher, sentiram vontade de abrir seu próprio empreendimento após muitos anos trabalhando em editoras. Sobre ser uma empresa com a temática LGBT, Juliana conta que, ao conviverem com injustiças relacionadas a gênero, como machismo e homofobia, os dois ficaram motivados a fazer algo a respeito, a dar uma contribuição para conscientizar as pessoas da diversidade, ao notarem também que poucas editoras publicavam material específico assim.

Juliana Albuquerque, publisher da Hoo Editora

“Nada melhor do que uma editora que publicasse romances LGBT”, afirma a empresária. O nome “Hoo” (a pronúncia é RU) surgiu depois de os sócios brincarem com algumas palavras. Ambos chegaram ao nome Hoo porque “é forte, curto, impactante e fácil de memorizar”. Em 10 de junho deste ano, Juliana publicou em sua página do Facebook um post no qual anunciava uma editora que buscava escritores de ficção LGBT. Após quatro dias, ela já havia recebido oito obras. Em uma semana eram 15.

“Nicotina Zero”, romance de Alexandre Rabelo, um dos primeiros livros que a Hoo Editora lançará ainda este mês (Foto: Reprodução)

E os dois primeiros livros da Hoo já estarão no mercado na segunda quinzena de outubro, quatro meses depois do início da empreitada. São eles: o romance, “Nicotina Zero”, de Alexandre Rabelo, sobre um DJ que resolve parar de fumar em uma noite de folga e enfrenta diversas situações; e o livro de tirinhas “Torta de Climão“, de Kris Barz, que narra situações do dia a dia e como elas levam sempre a uma situação estranha, com conteúdo divertido e antenado. Para se ter uma noção do alcance deste tipo de literatura, a página do Facebook do “Torta de Climão” tem quase 19.500 fãs.

A paulista Juliana atribui a grande procura de autores pela sua proposta à falta de espaço para a literatura LGBT. “Muitos autores contaram já terem feito contato com outras editoras, que não manifestaram interesse em publicá-los”. O foco da Hoo é literatura de ficção, com publicações impressas e digitais, direcionados para a questão LGBT. “Para nós, a orientação sexual dos autores é indiferente. Todos são bem-vindos, todos são convidados a desfrutar do nosso conteúdo”, afirma a editora.

“Torta de Climão” é o livro de tirinhas de Kris Barz. que a Hoo Editora também lançará ainda este mês (Foto: Reprodução)

“Minha orientação sexual não me impede de abraçar esse projeto”, explica publisher

Ao ser perguntada por qual motivo ela, hétero, cisgênera, casada com um homem, resolveu se dedicar a este mercado, Juliana comenta que sempre passa por essa indagação, respondida com outra. “Por que não? Porque minha orientação sexual não me impede de abraçar esse projeto e publicar obras pouco conhecidas, reconhecidas e divulgadas. Convivo com a diversidade desde muito tempo e sei como o preconceito é grande”, enfatiza a profissional.

Sobre a recente declaração do novo estatuto da família, que apenas compreende arranjos familiares formados por homens e mulheres, ela tem opinião bem estruturada e clara. “É uma decisão que vai totalmente contra o que enxergo como família. Meu marido é divorciado e o filho dele mora com a mãe, mas eu, ele e o filho formamos uma família. A ideia de família, para mim, passa pelo amor que sentimos e compartilhamos com aqueles que nos são próximos. Minha expectativa é que a presidenta vete essa decisão”, defende Juliana.