Beatriz Breves participou do "Programa do Jô" (Foto: TV Globo/Programa do Jô)
Beatriz Breves participou do "Programa do Jô" (Foto: TV Globo/Programa do Jô)

Beatriz Breves foi vítima de agressão virtual por meio de um post no Facebook em 2012, o que lhe causou muitos problemas. Porém, em vez de se calar ou bater de frente, a mestre em psicologia e psicanalista resolveu escrever o livro “A Maldade Humana – Como Detonar Alguém no Facebook“, em fase de lançamento nacional pela Editora Mauad X. A obra foi escrita em parceria com a psicanalista Virginia Sampaio. Em conversa com o Almanaque da Cultura, a autora fala de como essas situações podem afetar as pessoas e de que forma agir se for vítima de algo, além de relacionar temas virtuais com sua área de conhecimento.

Na ocasião da publicação na rede social, dizia que Beatriz foi acusada de maus tratos a uma gata cega e idosa, escrito por alguém a quem ela chama de Benedito. Segunda a psicanalista, ele ainda dizia que o animal “quase convulsionou e sua mãe (que estava cuidando da gata) passou mal a ponto de precisar ser medicada”. “Um detalhe importante é que eu sempre tive animais e possuo 16 gatos e um cachorro em meu apartamento. O resultado foi mais de mil postagens/compartilhamentos, a presença de uma comissão da OAB que investiga maus tratos a animais e jornal de grande circulação querendo saber sobre o acontecido”, relata a escritora, também bacharel e licenciada em Física.

Apesar do título “A Maldade Humana – Como Detonar Alguém no Facebook”, o exemplar tem como objetivo chamar a atenção para a falta de leis específicas em crimes na Internet e alertar a respeito dos perigos que o cyberbullying e a difamação podem causar na vida das pessoas. O registro traz, por exemplo, casos de jovens que se suicidaram após sofrerem com situações destas. Beatriz faz uma observação que resume sua frustração perante o ocorrido. “Infelizmente pude verificar que o dano moral e o sofrimento que ele causa não é muito valorizado neste país”.

Apesar de ter entrado com um processo contra o autor do post, Beatriz explica que, devido à lentidão e pouca efetividade da justiça, não quis levar o caso adiante, pois não queria estender diálogo com quem lhe causou este mal. No livro, ela e Virgínia Sampaio sugerem uma saída não totalmente efetiva, mas pelo menos urgente, para casos deste tipo. “A criação de um ‘Disque SOS Violência Internet’ que poderia apoiar a quem estivesse sofrendo este tipo de crueldade e, ainda, quem sabe, criar condições de agilizar, junto aos órgãos competentes, a decisão da justiça”.

Capa do livro "A Maldade Humana - Como Detonar Alguém no Facebook", uma história real vivida por Beatriz Breves (Foto: Divulgação)
Capa do livro “A Maldade Humana – Como Detonar Alguém no Facebook”, uma história real vivida por Beatriz Breves (Foto: Divulgação)

Almanaque da Cultura: Até onde a maldade de um ser humano pode acabar com a reputação de outro? Há algum limite?
Beatriz Breves: O limite é a morte, pois muitos se suicidam e outros são mortos. Lembrando o caso de Hanna, acontecido em agosto de 2013, citado em nosso livro, uma adolescente de 13 anos que solicitou ajuda por problemas de pele em uma rede social e obteve como retorno pessoas dizendo que ela era feia e que deveria se matar; e ela se matou. Assim como o caso que aconteceu no Guarujá, em maio de 2014, divulgado amplamente nos jornais, onde uma moça foi linchada e morta em consequência de uma postagem na Internet. E diria que o mesmo não ocorreu comigo por eu ser psicóloga psicanalista, classe média, enfim, ter uma estrutura tanto em nível pessoal, quanto social e também financeiro, capaz de suportar uma história como esta.

Almanaque da Cultura: A inclusão digital permitiu acesso à Internet para quem antes não tinha. Hoje, muito mais gente tem perfil em diversas redes sociais e, com o passar do tempo, notam-se que os casos de cyberbullying vêm aumentando. Toda esta onda de intolerância e opinião radical é consequência desta ascensão de usuários ou o ser humano tem a crítica negativa como parte de seu ser?
Beatriz Breves: A Internet funciona, com suas redes sociais, como sendo apenas mais um instrumento de proliferação da maldade no que diz respeito ao ato de crueldade. Entendemos que a diferença do bullying para o cyberbullying é basicamente o alcance. Enquanto o bullying tem como limite os muros escolares, o cyberbullying tem como limite os “muros” da Internet. Mas, nunca é demais repetir que não só a maldade encontra uma via de proliferação na Internet, a virtude também encontra o seu espaço neste veículo.

Beatriz Breves participou do "Programa do Jô" (Foto: TV Globo/Programa do Jô)
Beatriz Breves participou do “Programa do Jô” (Foto: TV Globo/Programa do Jô)

Almanaque da Cultura: O ator Stênio Garcia e sua mulher passaram por uma situação complicada há pouco tempo, com fotos íntimas do casal sendo divulgadas na Internet. Como você acha que, em relação a esta ocasião e tantas outras, a Lei Carolina Dieckmann mudou este cenário?

Beatriz Breves: A lei foi apenas o primeiro passo e, ainda muito pequeno, que está longe de realizar algum tipo de justiça, do ponto de vista moral, para quem sofre uma violência deste nível. Você seria capaz de se colocar no lugar do Stênio Garcia e de sua mulher, e imaginar que sentimentos emergiram ao saber que aquela foto foi passada através de milhares e milhares de celulares? Sim, porque agora a maldade não só se prolifera pela Internet, mas também pelo WhatsApp. Pois eu digo a você que esses sentimentos deixam marcas profundas que levam tempo para serem elaboradas e, ainda, que não é todo mundo que tem estrutura para tal, levando-se em conta que muitas das vítimas são adolescentes que estão em fase de formação e, portanto, começando suas vidas.

Almanaque da Cultura: Como reagir a trolls e haters no ambiente virtual? E de que forma a legislação pode agir nestes casos?
Beatriz Breves: Diria que a regra número um é jamais contracenar. O jogo da trollagem e os ataques de haters só são “divertidos” se houver plateia e vítima reagindo. Sendo assim, o silêncio, a não-reação, além de não permitir o prazer das pessoas que investindo em sua maldade praticam tamanha crueldade, também não alimenta a plateia. Quanto à legislação, posso dizer que, no meu caso, após aproximadamente um ano desde a queixa na delegacia dos crimes de difamação, calúnia e injúria, foi oferecida uma transação penal no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) a uma instituição animal e somente isto. Ele pagou, mas nem mesmo foi obrigado pela justiça a retirar a postagem da Internet. A nossa justiça é muito lerda frente à rapidez da Internet. Pela lentidão da justiça, hoje, três anos depois do acontecido, talvez a história ainda não tivesse sido concluída.

Livro “A Maldade Humana – como detonar alguém no Facebook”

Editora: Mauad X
Formato: 14 x 21
Número de páginas: 104
Preço para venda: R$ 24,90
Preço do e-book (versão digital em português e inglês): R$ 17,90 no site da Livraria Saraiva