Depois de três anos sem lançar nada inédito, Leoni apresenta seu novo disco e de forma especial: a pedido dos fãs. “Notícias de mim”, sétimo álbum da carreira solo do artista, foi coproduzido com a ajuda de 853 pessoas em um projeto de financiamento coletivo. O disco traz diversas parcerias e o cantor super antenado com as facilidades e multifuncionalidades do mundo virtual.
Por colaborar com a empreitada e acreditarem em seu valor, as pessoas receberão uma edição exclusiva do trabalho autografada em suas casas, além de várias outras recompensas bem originais. Durante esta entrevista, Leoni disse que passaria o dia seguinte assinando os discos para enviá-los. Aliás, ele comenta que este não é o único presente para os fãs cariocas, em especial.
“Tenho um show marcado na Miranda no dia 21 de agosto e um grande show que quero fazer no Circo Voador no dia 17 de outubro. Quero chamar convidados, fazer uma coisa grandiosa em agradecimento às pessoas que colaboraram. Acho que o Rio de Janeiro foi a cidade que mais colaborou. Quero fazer um show bem produzido para os cariocas”, avisa.
Sobre o CD, 13 músicas com Andrea Spada no baixo, Gustavo Corsi na guitarra e Lourenço Monteiro na bateria e Eduardo Chermont como coprodutor, Sergio Britto, dos Titãs, Frejat, Zélia Duncan, Frejat, Humberto Effe, dos Picassos Falsos. Músicas sobre relacionamentos, pessoas com histórias legais, questionamentos pessoais e até momento político.
Leoni bateu um papo com o Almanaque da Cultura sobre seu novo projeto, o processo de criação, música (é claro) e como ele aproveita as facilidades de transmissão de pensamentos e informações oferecida pela Internet. Detalhe: “Notícias de mim” tem um diário de bordo que o cantor fez em seu site. Para fã, admirador e curioso em geral nenhum colocar defeito.
Ouça abaixo o novo single do artista, “Amar Um Pouco Mais”.
Almanaque da Cultura: Qual o conceito desse novo projeto?
Leoni: Ele é um projeto que só nasceu porque foi patrocinado pelos fãs. Um CD que começou com um sistema de financiamento coletivo pelo Catarse. Eu mesmo não pensava mais em lançar discos, só músicas avulsas na Internet, mas meu público pedia muito para eu fazer um disco novo. E o Catarse foi um teste para ver se a galera estava querendo disco novo. Em 34 dias, eu consegui bater a meta e no final tive até 10% a mais. Foi um disco colaborativo, tanto na forma de captar o dinheiro, quanto na forma de fazer.
Almanaque da Cultura: Do que fala o disco?
Leoni: Eu o fiz com minha banda (a Furacão de Bolso). Os arranjos foram todos feitos com eles. Eu fazia um demo, mandava para eles, mas deixei muito espaço para os músicos criarem, levarem a música para outro lugar. É um disco mais rock (em relação aos seus últimos trabalhos). É um disco de banda. Tem algumas experiências sonoras africanas e caribenhas. E o “Notícias de mim” é porque tem uma música no CD com esse nome. E acho que todo artista quando cria uma obra de arte, está falando dele. Pode não ser autobiográfico, mas está falando seu ponto de vista sobre o mundo. Eu achei que tinha a ver, pois, apesar de ser um disco coletivo, eu estou dando o conteúdo da história.
Almanaque da Cultura: Por que decidiu fazer um álbum com parcerias?
Leoni: Eu já tinha feito músicas com parceiros, como Ivan Lins, Paulinho Moska. E algumas acabavam ficando sem serem lançadas. Vi que tinha um repertório muito bacana, já com alguns parceiros, que foi o caso do Sérgio Britto, dos Titãs, com quem tinha feito “Amor Real” e com a Zélia Duncan, com quem tinha escrito três músicas, sem gravar nenhuma. Eu gosto muito de parcerias e muito mais das novas parcerias. Eu fui atrás do Chuck Hipolitho, dos Vespas Mandarinas. Acabei musicando também um poema do Paulo Henriques Britto. Venho me enfronhando cada vez mais no mundo da poesia. Eu também já tinha seis inéditas com Frejat, eu lancei uma. Eu vou compondo e vai ficando no meu HD, uma hora eu tenho de colocar para fora. Foi legal ter colocado tanto parceiro novo e alguns antigos nesse disco.
Almanaque da Cultura: Há músicas para mais um projeto de parcerias? Como foi feita a seleção de músicas para o “Notícias de mim”?
Leoni: Tenho mais duas músicas com a Zélia, mais cinco com o Frejat, uma em andamento com o Paulinho Moska. E outras coisas guardadas aqui. O legal de gravar um disco é que de uma vez só foram 13 músicas, que estavam aqui na minha fila de espera. As músicas escolhidas tinham a ver com algo mais rock. Eu venho com essa banda desde 2008. Achei que era a hora de disco ter a cara de como a gente soa ao vivo. Quase tudo foi gravado praticamente ao vivo, com alguns overdubs depois.
Almanaque da Cultura: Por que você não pensava em lançar mais CDs?
Leoni: Porque não vende. Ninguém mais compra CD. Vende-se no show como uma recordação do artista, às vezes pela Internet, quando se faz um lançamento. As pessoas baixam, as músicas estão aí disponíveis em tudo que é lugar: Youtube, Spotify, Itunes. Então, eu não vi mais uma necessidade de lançar CD. Eu achava que não era mais do interesse das pessoas, mas me enganei, pois o público queria, patrocinou. Mas apesar de tudo, de ter conseguido o dinheiro, não foi tanta gente que comprou. As recompensas especiais é que possibilitaram o disco de sair. Só a compra não o pagaria. No fundo, o CD não é tão importante, mas para algumas pessoas é.
Almanaque da Cultura: Acredita que o financiamento coletivo seja uma boa saída para o mercado fonográfico?
Leoni: É uma boa saída para quem tem público. Aí você trabalha com um orçamento bacana, sem ter de tirar do bolso ou sem ter de se endividar. De boa qualidade, sem ter de economizar no estúdio. Para o artista que não tem, serve para bancar uma parte dos custos. Você só tem uma carreira se tem público, né? Ou se não você só tem um hobbie. Todo mundo que quer construir uma carreira tem de uma hora poder pedir para seus fãs bancarem esses projetos.
Almanaque da Cultura: É preciso engolir o orgulho e pedir ajuda aos fãs em projetos como esse? Como é esse processo?
Leoni: Foram eles quem pediram. E não há vergonha nisso. Sabe o que as gravadoras faziam antigamente? Ela bancava os discos e depois ia vender para se ganhar em cima disto com o público do artista. Entre o artista e o público tinha uma gravadora, que pegava uma fatia enorme. Agora você pode chegar para o seu público direto e fazer o trabalho da gravadora. “Tem aqui produto novo, você quer?”. Se não quiser, aí não rola. Não vejo nenhuma vergonha, é só outro tipo de mercado, em que você elimina o intermediário.
Almanaque da Cultura: Como você vê o atual cenário musical nacional?
Leoni: Eu acho que não existe um cenário, porque, com a coisa da Internet, cada pessoa tem seu próprio cenário. A quantidade de banda, artista e compositor que se tem é enorme. O problema é que a maior parte deles não chega no grande público. Quem acompanha a cena só pelo rádio e TV, fica achando que é repetitivo, que só determinado estilo de música que toca. Ao contrário, nunca se criou tanto, nunca se colocou tanto na Internet, se compartilhou tanto. É um cenário riquíssimo. Se não sairmos dos meios tradicionais, a impressão que dá é estamos em uma fase pobre. O que fica para a grande mídia é o que pode virar um hit, é imaginado, hoje em dia, seja aquela música que desagrada o menor número de pessoas, não aquela que agrada muito um determinado grupo. Não que ela seja maravilhosa, mas ela não desagrada, ela não tem arestas, não é uma música que faça você pensar. O que chega no rádio e na TV acaba sendo um pouco profundo.