Rodrigo Faour é jornalista, produtor e historiador de música brasileira. É um entusiasta cultural e apoiador de artistas que fizeram e fazem parte da cena cultural nacional. Também é autor das biografias de Dolores Duran, Cauby Peixoto, Claudette Soares e Ângela Maria, esta última lançada este mês em eventos no Rio e em São Paulo. E, como ele mesmo se classifica, tem de ser “um maluco como eu para colocar essa gente na roda de novo”. Em conversa com o Almanaque da Cultura, o escritor fala de seus trabalhos e da amizade entre o “Professor” (Cauby) e a “Sapoti” (Ângela).
Os dois artistas fazem um show neste sábado, 24 de outubro, em São Paulo, chamado “120 anos de Música – Cauby Peixoto e Angela Maria”, no Teatro Bradesco, às 21h (com sessão extra dia 18 de novembro, devido ao sucesso).
Rodrigo acrescenta uma observação sobre o tempo de contribuição musical da dupla e analisa a importância de suas parcerias. “Esse encontro não é uma novidade. É um selo desta amizade real e artística que já vem de muitos e muitos anos. Na verdade, são 130 anos, pois cada um vai fazer 65 anos de carreira na virada de 2015 para 2016. Os dois começaram a gravar em 1951. Então é um recorde brasileiro. Nenhum outro artista de nenhum tempo teve uma carreira tão atuante quanto Ângela e Cauby. Ninguém gravando com tanta constância e fazendo shows com tantas temporadas. É muita história”, analisa Faour. Sua biografia de Cauby foi lançada há 14 anos, com o título “Bastidores: Cauby Peixoto – 50 anos da voz e do mito”.
“Ângela Maria é um símbolo brasileiro”, diz biógrafo
Com 840 páginas de texto e 48 de fotos, a biografia “Ângela Maria – A eterna cantora do Brasil” chega às lojas em um trabalho de pesquisa e divulgação que contribui para o resgate da importância de cantores e cantoras como ela no Brasil, que, segundo Rodrigo, é um país de memória curta e não dá valor a “este tipo de coisa”, referindo-se aos trabalhos e histórias dos artistas.
“Essas pessoas são símbolos da nossa cultura. Ângela é uma figura que vai fazer 65 anos de carreira sem parar, nunca parou de gravar, fazer show ou se apresentar e é uma mulher que passou pela história do rádio, da TV, do cinema e da nossa indústria cultural. Ângela Maria é um símbolo brasileiro”, comenta Faour, dizendo que a cantora é uma das protagonistas deste contexto nacional.
Espectador especial de uma das mais representativas amizades da música brasileira
Por ter escrito a biografia tanto de Cauby quanto de Ângela, Rodrigo fala com convicção das semelhanças e diferenças entre os dois, que começaram suas parcerias quando o cantor a convidou para cantar em sua boate, a Drink, nos anos 60, após assisti-la cantar. “Cauby tem total distinção do que é brega e chique, do que é sofisticado, do que é popular. Ângela é uma mulher que teve uma dádiva de ter uma voz lindíssima e sempre quis cantar o que o povo quis ouvir. Nunca se preocupou com crítica”, ele explica.
Faour conta que Ângela queria cantar o que ela achava que era mais romântico, popular. E que Cauby sempre queria renovar, cantar algo diferente, sempre colocar uma música nova no repertório. O próprio cantor elogia sua amiga e companheira musical de muitos anos. “Nossa relação sempre foi e será de amizade, companheirismo e admiração mútua. Na parte profissional idem. Este show é a consagração de uma amizade eterna. Profissionalmente é sempre bom compartilhar o palco com Ângela Maria, a maior cantora do Brasil. Timbre de voz inigualável”, celebra Cauby Peixoto.
Além do livro de Ângela, Rodrigo também lançou no último mês de setembro “Duas noites para Dolores Duran – Ao vivo”, projeto que reúne cantores de diversas épocas, como João Donato, Leny Andrade, Elba Ramalho, Lana Bittencourt, Márcia Castro, Simone Mazzer e, claro, Cauby e Ângela, entre outros.
O pesquisador e jornalista carioca resume em poucas palavras por qual motivo faz tantos trabalhos voltados a estrelas que não têm mais tanta visibilidade atualmente. “Eu preciso resgatar esses grandes artistas. No nosso país, com tantos artistas espetaculares que já foram reis em outras épocas, há alguns que se a gente não resgatar é como se não existissem”, justifica.