O primeiro EP que sai da coleção do Skank “Os Três Primeiros” quase esbarra em uma gravação de inéditas. Por alguns motivos. No registro dos três primeiros álbuns do grupo mineiro ao vivo no carioca Circo Voador, as faixas do disco de estreia, homônimo, trazem um frescor que soam como se tivessem sido compostas ontem, e amansam de certo modo o que o vocalista Samuel Rosa chama de “urgência e filosofia quase rock’n’roll do trabalho”.
Estão lá os elementos que viriam a marcar o sucesso de quase três décadas do grupo: da influência do dancehall jamaicano à mescla com sonoridade brasileira e textos sempre inteligentes, sejam focados em cunho social, romantismo ou simplesmente em diversão.
Dá para dividir o primeiro dos três EPs de “Os Três Primeiros” em três vieses.
Há as músicas que poderiam ter virado single de tão boas, mas que de certa forma foram encobertas pelos hits arrasa-quarteirão dos anos seguintes, como “O Réu e o Rei” e “O Homem que Sabia Demais” (se bem que esta foi, digamos, um “semi-hit”).
Há as canções igualmente fortes e que possuíam cunho social, como “Baixada News” (de Zilda e seus cinco filhos na Baixada Fluminense) e “Indignação” – esta virou até canção adotada pelos caras-pintadas nas manifestações pelo impeachment do então presidente Collor.
E há uma terceira vertente que é o que divertia o quarteto mineiro, que são as versões do dancehall para standarts de soul music, mas no caso do Skank eram de Bob Dylan, “Tanto” (de “I Want You”), e “Let me Try Again”, de Paul Anka, eternizada por Frank Sinatra. Na época, o Skank até tocava versões de “Partido Alto”, de Chico Buarque, e “Raça”, de Milton Nascimento.
Tudo é como se a cena de Shabba Ranks, Pato Banton, Yellowman e cia. passasse a falar português e compor no Brasil, com a bagagem original de um nativo.
“O primeiro disco foi quase uma empreitada de guerrilha, pouco tempo para gravar, pouca grana, não tem overdub, é tudo muito cru, seco, na intuição”, diz Samuel Rosa. Mas era tão bom que a Sony comprou o passe e perguntou se eles queriam mudar algo para (re)lançá-lo pela gravadora. “Só remixamos para colocar mais grave, pois estava muito médio e agudo”.
O responsável pela remixagem foi Paulo Junqueiro, que é presidente da major hoje. Um disco tão bom que, mesmo sem um hit single que o catapultasse, escalou até virar disco de ouro. Um disco tão bom que conseguiu ficar ainda melhor nesta revisita.