Por Elas (Foto: Divulgação/Marcelo Carnaval)
Por Elas (Foto: Divulgação/Marcelo Carnaval)

Uma mulher é lançada do quarto andar pelo namorado que não aceitava o fim do relacionamento. Outra leva um tiro do marido por não largar o emprego. Uma terceira, que jurava ter se casado com príncipe encantado, é espancada por ele. A namorada do dono do morro é mantida por ele em cárcere privado. Histórias reais e impactantes, dores sem cor e classe social, compõem o texto do espetáculo “Por Elas”, que encerra, no dia 20 de dezembro, quinta-feira, às 19h, a temporada no Teatro de Arena da Caixa Cultural do Rio de Janeiro.

Em três semanas em cartaz, a peça levou ao teatro mulheres vitimadas pela violência doméstica. Luiza Brunet, modelo e atriz, que denunciou o ex-marido por agressões, conta suas impressões:

“O espetáculo é incrível, super bem ilustrado, atores são muito bons e as histórias são reais, que a gente está acostumado a ver. Eu fiquei muito mexida, constrangida, o final que as penas são tão pequenas para esses tipos de casos. A peça desmistifica essa impressão de que é só a mulher negra, pobre, favelada que se depara com a violência doméstica. Eu mesma sou um exemplo disso, sou mulher independente, bem-sucedida, que tenho um certo conhecimento, mas também fui atingida por uma agressão física que me fez muito mal, mas eu tive coragem de sair desse ciclo vicioso depois da sexta agressão física, é difícil sair. E estou inteira, comecei a fazer parte do grupo do enfrentamento, e acho que a gente precisa encorajar outras pessoas a sair disso. Eu fui muito julgada por outras mulheres. Acho que essa é a pior parte de toda a minha história desde que fiz a minha denúncia. Ele foi condenado, pediu habeas corpus, mas o tempo todo ouvia “O que foi que ela fez?”, “Ela deve ter se machucado para tirar o dinheiro dele”, “Eu duvido que ele tenha feito algo, ela era um homem maravilhoso”, a pior coisa de você fazer a denúncia é enfrentar o julgamento, porque isso é o que mata você. Não senti sororidade nenhuma. Procuro fazer o oposto do que fizeram comigo quando encontro uma mulher que foi agredida, você abraçar, dar amor e confiar no que ela fala. Hoje, minhas redes sociais funcionam como se fosse um consultório. É inacreditável , comecei a participar de palestras, dentro e fora do Brasil, para falar sobre essa questão, sobre os diferentes tipo de agressão. Tive na ONU há duas semanas atrás, foi fazer um trabalho em Genebra e no Brasil, são vídeos para as mulheres terem um pouco mais de informação, para chegarmos onde a informação não chega. Vou falar da minha experiência para tocar outras mulheres, para que elas prestem atenção da forma de vida que elas levam, para que as que estão dentro de um relacionamento abusivo percebam que serão mortas. Estou fazendo minha parte como mulher e cidadã, acho que todas as mulheres deviam se dar as mãos se unir para fazer um movimento gigantesco porque é uma epidemia mundial”.

Cristiane Machado, atriz, que filmou e denunciou as agressões do ex-marido, também ficou impressionada com o que viu em cena.

“Eu quero dividir com vocês um espetáculo maravilhoso sobre um tema que eu vivi na minha vida que foi a violência doméstica, no meu caso, foi uma tentativa de feminicídio. Eles relatam com muita sutileza, com depoimentos reais sobre diversos casos, desde a menina rica a menina mais pobre. Narra a história de sete mulheres de diferentes classes sociais. Vale como um alerta para a sociedade, para as mulheres, para os homens, o quanto é difícil você detectar um relacionamento abusivo e que sirva de lição para que as mulheres não cheguem a ser mortas. Para que elas entendam que aquilo que estão vivendo é abusivo e que têm que ir embora. Eu, como atriz, mulher, que viveu uma tentativa de homicídio, uma violência doméstica, me sinto com o dever de conscientizar e educar cada vez mais as mulheres. Vale muito como educação, como cultura, como conscientizar a população para ajudar os sistema judiciário e policial a se preparar para receber essas mulheres. Fiquei encantada, quem assistir vai sair do teatro com a cabeça transformada. Eu, que vivi um caso como esse, me tocou bastante para continuar a conscientizar mulheres que estão sendo vítimas. Vão assistir esse espetáculo incrível, com atrizes incríveis. Eu me senti extremamente tocada, especialmente porque eu vivi essa tristeza na minha vida, que foi ser vítima de uma tentativa de feminicídio do meu próprio marido”.

A peça, que já tem previstas duas apresentações gratuitas no Centro Cultural do Poder Judiciário nos dias 24 e 25 de janeiro de 2019, manteve o objetivo primordial de provocar a reflexão e estimular o debate sobre os direitos humanos e a equidade de gênero, cooperando para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e do feminicídio na sociedade. Originada de retalhos de histórias reais, a dramaturgia de “Por Elas”, dirigida por Sílvia Monte, com texto de sua autoria em parceria com o advogado e dramaturgo Ricardo Leite Lopes, passeia pelo épico e pelo dramático, pelos tempos presente e passado. Cada uma das sete personagens femininas carrega histórias de outras tantas mulheres brasileiras. A figura masculina – evocada pelas lembranças das mulheres – provoca a reflexão do que o homem representa para elas dentro desse universo perverso de “amor e ódio”, “submissão e poder”, das relações entre mulheres e homens, numa sociedade patriarcal que estimula o machismo.

“A questão da violência contra a mulher é um tema que não pode deixar de ser pensado na arena da dramaturgia brasileira. O teatro, ao representar os conflitos e as ambiguidades do humano, acolhe e aproxima – de forma menos cruel – as pessoas da realidade. O espetáculo se propõe a ser um espaço de comunicação, sensibilização e visibilidade para o fenômeno da violência de gênero. Precisamos pensar sobre essa questão, e o teatro é um lugar ideal para atingir mentes e corações”, defende Sílvia Monte, diretora do espetáculo e idealizadora do projeto.

O elenco é formado por Adriana Seiffert, Ana Flávia, Deborah Rocha, Elisa Pinheiro, Gisela de Castro, Letícia Vianna, Renata Guida, Rosana Prazeres, João Lucas e Lucas Gouvêa. A ficha artística é composta por mulheres: Luci Vilanova assina o figurino que dialoga com a economia de elementos, equaliza o grupo de mulheres e ao mesmo tempo individualiza cada uma delas nos pequenos detalhes da indumentária; Ana Luzia de Simoni é responsável pela iluminação que uniformiza, completa e dramatiza a cena; Maíra Freitas cria a trilha com músicas originais inspiradas a partir de elementos sonoros das histórias dos personagens.

Sinopse de “Por Elas”

Um grupo de mulheres desconhecidas entre si que, em comum, têm a violência na sua vida amorosa, está reunido para falar sobre suas histórias. Conforme os relatos vão acontecendo, os conflitos, preconceitos, a dor e a própria violência surgem no grupo.

Teaser de “Por Elas”

“Por Elas” na Caixa Cultural Rio de Janeiro

Data: até 20 de dezembro de 2018
Horário:
19h
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena, Av. Almirante Barroso, 25 – Centro
Ingressos: R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira)
Vendas: bilheteria (de terça-feira a domingo, das 13h às 20h)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 80 minutos
Lotação: 226 lugares (mais 4 cadeirantes)

“Por Elas” no Centro Cultural do Poder Judiciário

Datas: 24 e 25 de janeiro de 2019
Horário: 19h
Local: Museu da Justiça – Centro Cultural do Poder Judiciário – Rua Dom Manuel, 29 – Térreo – Centro
Ingresso: entrada grátis, com retirada de senha a partir das 18h30
Informações: (21) 3133-3768 | (21) 3133-3548