Deborah Evelyn, a misteriosa Kiki em “A Regra do Jogo“, novela das nove da TV Globo, falou ao Almanaque da Cultura um pouco do futuro da personagem na trama de João Emanuel Carneiro e relatou como foi perder a Inês, de “Babilônia“, para a atriz Adriana Esteves.

“Não foi tranquilo. Estava realmente envolvida em ‘Babilônia’. Gilberto tinha me ligado, já tinha me contatado da personagem, da Inês, já tinha lido o capítulo. Então, foi um certo choque para mim. A gente trabalha em uma empresa, não sou dona desse processo. Tem uma hora que você tem que fazer o que a empresa quer. Quando falaram isso, já era uma troca. Eles comentaram que eu iria fazer a do João, e não a do Gilberto. Senti muito a dor da perda, mas fiquei feliz no papel que eu recebi nessa trama”, confessou a atriz.

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Almanaque da Cultura: Na apresentação da novela, você não revelou quase nada da Kiki. E agora, o que você pode falar?
Deborah Evelyn: A minha entrada foi muito interessante. Durante muito tempo as pessoas achavam que a Kiki era o pai. Seria realmente uma alternativa. A alternativa real está bem melhor! A gente está falando com a Kiki uma coisa muito interessante, que nunca foi falada em telenovela, que é a síndrome de Estocolmo. E faz da Kiki um personagem muito mais complexo, né? A relação dela com o Zé Maria (Tony Ramos), com o pai, Gibson (José de Abreu), e, pai da facção. Eu acho fortíssima essa história. É uma das personagens mais complexas que eu já fiz e as pessoas na rua têm muita pena da minha personagem, mas querem dar muita força para ela fugir. As pessoas sabem pouco sobre essa síndrome. As pessoas com esse problema não conseguem fugir. Eu li alguns livros, e, constatei isso. As pessoas ficam “cegas” de amor pelo algoz. É muito impressionante. Eu estou gravando uma parte que ela foge. É assustador. São 15 anos que ela está presa, não anda de ônibus, não vê os parentes. É assustador!

Almanaque da Cultura: Você conheceu alguém real que passou por isso?
Deborah Evelyn: Não conheci, mas li muita coisa que retratava bem a vida dessas pessoas e fiquei muito impressionada. Li também vários estudos sobre essa síndrome. Começou em um assalto ao Banco em Estocolmo, que as vitimas defenderam os seus sequestradores. Por isso deram esse nome de síndrome de Estocolmo. Não é uma doença, mas é uma síndrome. É um estado psicológico que as pessoas não conseguem se separar daquilo. Do algoz, que ao mesmo tempo é a única pessoa que dar comida para elas. É um processo inconsciente, que você pensa que é melhor ser boazinha com esse “cara”, que ele será mais bonzinho comigo. É muito interessante.

Deborah Evelyn é Kiki em “A Regra do Jogo” (Foto: TV Globo)

Almanaque da Cultura: Você mencionou um pouquinho dessa fuga da personagem. Como vai ser essa virada?
Deborah Evelyn: Quando o autor me chamou, me falou algumas coisas da Kiki, mas não falou tudo. É bom que eu terei surpresas do decorrer da trama. Ele comentou que eu iria entrar no meio da novela e vai ser responsável por conduzir a história depois. Falou quem era o pai, para me mostrar o quão era interessante a Kiki. Realmente, várias coisas são reveladas com o aparecimento dela e, a sensação que eu tenho, é que a novela entrou em outro ritmo. Não só obviamente por causa da minha personagem, e, sim, pela rapidez que essa história foi tomando. Quando foi o revelado o pai. Se o Gibson foi somente o chefe da facção, já seria uma bomba. Um vilão horrível. Mas o que ele faz com a filha, é de uma crueldade tremenda. É monstruoso!

Almanaque da Cultura: Por que o pai da facção mandou sequestrar a própria filha?
Deborah Evelyn: Porque ela descobriu que ele era o bandido. O chefe da facção. Descobriu tudo e ele não ia mandar matar a filha. Ele não é tão cruel assim. Então, ele manda sequestrar.

Almanaque da Cultura: Antes de começar a trama, muita gente comentava que ela era a cabeça de tudo. Aconteceu alguma mudança durante o processo?
Deborah Evelyn: Não teve mudança nenhuma. Foi sempre isso. No início da novela, eu sabia que o Gibson era o pai, mas não podia falar. Não mudou nada! O João realmente muda muito pouco do que eu sei.

Almanaque da Cultura: Você é boa de guardar segredo? Contou para ninguém quem era o pai?
Deborah Evelyn: É muito difícil guardar segredo. Todo mundo me perguntava. Eu falei que eu não sabia. Teve uma pessoa que eu falei e não mora no Brasil. Ela também é atriz e guardou segredo. Mas pedi para não falar para a manicure dela de lá, que assiste à novela via Rede Globo Internacional. Falei só para uma pessoa fora do Brasil.

Deborah Evelyn posa durante intervalo das gravações de “A Regra do Jogo” (Foto: Ellen Soares/Gshow)

Almanaque da Cultura: É uma grande expectativa do reencontro dela com o filho, Dante. Você está preparada para as próximas emoções envolvendo a Kiki?
Deborah Evelyn: A Kiki é muita emoção! Cada dia eu chego um trapo em casa. Vai ser o reencontro com o filho, com a mãe, com a irmã. Imagina só, como será esse reencontro? Isso é uma loucura. É o tipo de coisa que você não passou, não consegue imaginar. Eu estou fazendo encima das pesquisas. Mas, não estou fazendo o que é realmente. É muito forte!

Almanaque da Cultura: Você fez algum trabalho que teve que se esconder um pouco do mundo?
Não, porque o nível que é não tem o que fazer. A não ser você ser presa, entende? De verdade e ficar lá, no caso da Kiki, durante 15 anos. É outro grau. Eu me aproximei o máximo da história. E, principalmente, das emoções. Eu tento chegar a isso. As cenas envolvendo ela são fortes. Tem coisas na vida só quando é. Quem não é mãe, não sabe o que é ser mãe.

Almanaque da Cultura: Você falou que chega um trapo humano em casa. Você não consegue deixar ela aqui no estúdio?
Deborah Evelyn: Eu consigo! Mas, é cansativo emocionalmente. Porque não é fisicamente. É emocionalmente. Interpretar a Kiki é principalmente emocionalmente cansativo. Porque cansa, né? Emoção, emoção, emoção. Cansa! Mas, desligo! Vou para casa ótima.

Zé Maria volta a encarcerar Kiki (Foto: TV Globo/Paulo Belote)

Almanaque da Cultura: É uma trama bem pesada. E, tem uma menina que grava com você. Como vocês orientam essa criança?
Deborah Evelyn: É uma criança! Apesar dela ser ótima, ela é criança. Ela parece bastante comigo. Eu fico um pouco com medo de certas cenas. Teve uma cena que a gente fez, que não foi ao ar. Ficou pesada. Onde minha personagem brigava com ela. Na sequência que a Kiki chega e vê que ela abriu o quarto para o Romero. O capitulo acabou ali. Tinha uma continuação e não passou. Ficou pesado. Eu fico muito preocupada. Eu tive isso com o Bruno Gagliasso, em “Celebridade”, onde minha personagem era agressiva com ele. Depois da cena, eu abracei a atriz mirim, e, pedi desculpa. Ela ficou arrasada que a cena não passou (risos).

Almanaque da Cultura: Você consegue classificar o sentimento dela pelo Zé Maria?
Deborah Evelyn: Quando ele pensa em sequestrar a Aninha, ela fica com uma raiva verdadeira dele. A menina é a razão dela de viver. Vai acontecer algumas reviravoltas. E, quando ela pensa que ele morreu. Ela fica desesperada. Então, isso que é muito interessante na Kiki. Os personagens do João, não são preto e branco. É uma coisa muito complexa. Você vê o personagem do Romero. Ele é incrível também. Quando ele entrega a Kiki, eu falei: “eu não acredito que ele fez isso”. O ser humano é isso. O ser humano é complexo. Não é contraditório.