Alexandre Nero dará vida ao protagonista Romero Rômulo em “A Regra do Jogo“, conversou com o Almanaque da Cultura e contou que emagreceu 10 quilos para compor o personagem e, que está adorando emendar um trabalho no outro – ele saiu de “Império” direto para “A Regra do Jogo”. “E isso me proporcionou quebrar esse paradigma. Eu acho que é mais uma provocação também. Gosto do proibido. Ninguém faz isso, não pode? Então eu vou fazer. Depois do comendador tem que ficar longe? Então não vou ficar”, relata o artista.
Almanaque da Cultura: Romero Rômulo é um cara enigmático. O que você pode adiantar sobre esse personagem tão difuso?
Alexandre Nero: Ele foi criado na porrada, em um ambiente hostil. Ele precisou conviver com pessoas que se odeiam. A mãe o expulsou de casa e ele foi morar com um pai adotivo, o Ascânio, personagem do Tonico Pereira, que é um bandido. O amor é uma coisa que não está muito relacionado a ele. Mas ele vai se apaixonar pela Atena (Giovanna Antonelli). Vai ser algo forte, uma paixão fulgaz. Os dois não valem muito. Eles mentem um para o outro.
Almanaque da Cultura: E o envolvimento com a mocinha?
Alexandre Nero: Então, nesse meio tempo, ele se apaixona de verdade pela Tóia (Vanessa Giácomo). Aí vai surgir a vontade de querer ser bom. Ele vai se apaixonar por essa ideia de ser um cara do bem. Quando a gente ajuda alguém é bom, não é? É isso o que vai despertar nele. Até então, ele só fingia que ajudava todo mundo.
Almanaque da Cultura: O público vai descobrir de cara que ele não é tão mocinho assim?
Alexandre Nero: Em relação ao texto, não existe isso de seguir ao pé da letra. O papel é uma coisa e o que está em cena é diferente. As interpretações quem criam são atores com a direção. Nós optamos por não dar essa dualidade nele. O público vai saber que ele está mentindo algumas vezes, já em outras, não. Até porque ele poderá estar dizendo a verdade. Como ele mente sobre muitas coisas, acredito que vão pensar que tudo o que ele fala é mentira, mas não é isso. Em alguns momentos, ele estará falando a verdade e o telespectador ficará na dúvida. É uma trama muito legal. A ideia é não entregar a história de cara, deixar vários questionamentos. Verdade e mentira estão misturados.
Almanaque da Cultura: Romero Rômulo é um cara dissimulado. Você sabe lidar com bem pessoas assim?
Alexandre Nero: Eu não sei ser mentiroso, isso não significa que eu não minta. Todo mundo mente. Se disse o contrário, isso seria papo furado. É algo que me faz mal a mentira, a falsidade. Eu evito ser sociável com pessoas assim. Não sou político com gente que é assim.
Almanaque da Cultura: O Romero Rômulo tem algum traço do Zé Alfredo?
Alexandre Nero: Acho legal as pessoas verem o que é o trabalho de um ator. O trabalho é isso. O público verá ali outra pessoa. É completamente diferente. Claro que vão me chamar de comendador como brincadeira, mas não tem traço nenhum dele. É um personagem distinto. É claro que se fosse parecido, talvez eu não aceitasse. Mas o Romero não tem nada a ver com o comendador. E para o ator voltar logo em seguida com algo novo é um exercício maravilhoso.
Almanaque da Cultura: A imagem do comendador ficou muito presente na memória do público. Como foi se transformar em Romero Rômulo?
Alexandre Nero: Foi um trabalho meu. Já que era para descansar a imagem… Não era a minha que estava cansada e, sim, a do comendador. O meu bigode virou o bigode dele. O meu cabelo também. Criou-se uma imagem dele muito forte, mas, ao mesmo tempo, fácil de quebrar. Ela foi bem construída, toda aquela caracterização, um papel quase épico, teatral, distante da minha realidade… Era um nordestino, eu engordei… Era difícil fazer o pai do Caio (Blat) e da Leandra (Leal). E as pessoas acreditavam. Eu duvidei no início. E acho isso lindo. Isso é o trabalho de ator, de todos nós. Sabendo que ia emendar uma na outra, e as pessoas poderiam falar: “Ah, o Nero de novo!”, busquei um novo visual. É uma nova pessoa. Perdi 10 quilos porque eu quis. Achei importante. Tirei a barba, o cabelo, os trejeitos são outros. Poderia fazer o Romero com a mesma cara do comendador, mas o mundo de hoje é muito rápido, tentei ajudar o público nisso. A primeira leitura é: esse cara não é o comendador.
Almanaque da Cultura: Como está sendo atuar em uma novela que está estreando uma nova técnica, a famosa caixa cênica? Uma espécie de reality show dentro da trama?
Alexandre Nero: A caixa cênica é um detalhe técnico que mais vale para os técnicos. Para nós, atores, ela existindo ou não, acredito que não influencia tanto. Ela tem mais a ver com a estética da Amora (Mautner, diretora de núcleo). A novela poderia ser feita fora da caixa cênica, mas essa técnica facilita porque ela pode gravar as cenas pela casa inteira sem precisar cortar. Mas a estética é o diferencial dessa caixa. Existe uma continuidade dos movimentos. Tem uma dinâmica. Agimos como se estivéssemos em casa. E isso deixa ainda mais real.
Almanaque da Cultura: Como foi ser convidado para ser protagonista de uma novela de João Emanuel Carneiro?
Alexandre Nero: Na verdade me sinto muito orgulhoso. Não tenho uma relação em si com o João, o conheço muito pouco. A gente deve ter conversado duas vezes até hoje. Tenho orgulho de mim, de ter chego na Globo com um papel que era uma participação, de ter crescido na novela e outras oportunidade terem surgido e estou voltando para um protagonista. Mas só estou aqui por causa do comendador. Talvez, sem ele, o João nunca tivesse me visto como um protagonista. Talvez ninguém. O grande mérito é do Aguinaldo. Ele apostou em um cara que ninguém apostou. Como ator, as pessoas já tinham apostado, até para bons papéis, mas não para protagonista. O Aguinaldo bancou. Ofereceram vários atores para o papel, mais conhecidos, mas ele não quis.
Almanaque da Cultura: Como foi substituir o Murilo Benício? A principio, o Romero seria interpretado por ele?
Alexandre Nero: Tinha um problema de datas inicialmente quando me chamaram. Não é segredo para ninguém que o Murilo ia fazer, mas não sei o porquê ele não fez. Só o Murilo pode responder. Não me sinto substituto de ninguém porque o Murilo não tinha gravado nada. Esse personagem não existia. É diferente de quando você pega algo no meio do caminho. É a mesma coisa com o comendador. Ele só existe graças a mim. Qualquer ator que fizesse poderia até fazer melhor, mas não seria aquele que o público viu. Aquilo foi eu que fiz. E esse Romero vai existir por minha causa. Se fosse qualquer outro ator, seria algo diferente. Até melhor.
Almanaque da Cultura: Saíram muitas notícias falando de que você emendou um trabalha no outro e que isso prejudicaria a sua carreira. Como você lidou com isso?
Alexandre Nero: Muita coisa saiu falando a respeito disso. Existe um folclore em cima do ator, da Rede Globo, que depois de um sucesso você precisa dar um tempo na imagem, sabe?! Eu sou um trabalhador. Não vejo dessa forma. Eu trabalho e ponto. Eu estaria trabalhando de qualquer forma, seja aqui ou fora. Tive uma conversa boa com a Amora e com o João (Emanuel Carneiro). E isso me proporcionou quebrar esse paradigma. Eu acho que é mais uma provocação também. Gosto do proibido. Ninguém faz isso, não pode? Então eu vou fazer. Depois do comendador tem que ficar longe? Então não vou ficar.