A CIA está preparando uma audaciosa operação para deter o grande líder de um cartel de drogas mexicano. Kate Macy (Emily Blunt), policial do FBI, decide participar da ação, sendo exposta ao cenário brutal e sem escrúpulos do tráfico internacional de drogas e logo percebe que terá de testar todos os seus limites morais e éticos nesta missão. O nome do filme vem de um termo usado na América Latina para designar matadores de aluguel.

“Sicário: Terra de Ninguém” aborda o mundo dos grandes cartéis de entorpecentes, suas corrupções, torturas, terrores no México, mais precisamente em Juárez, uma das maiores cidades do país. O longa, exibido em Cannes este ano e dirigido por Denis Villeneuve (já indicado ao Oscar por “Incêndios”, de 2010) é forte, traz cenas fortes e pretende ir fundo nas relações profissionais dentro da polícia, por meio da ótica de uma agente do FBI, vivida por Emily Blunt. Ao notar que está em um campo no qual ela mal sabe em que pode confiar, a personagem procura respostas éticas e pessoais, passando isso ao espectador.

A narrativa de “Sicário” começa de forma rápida, com ação logo no início, porém, ganha lentidão ao começar a mostrar visões pessoais e um pouco mais dos personagens. Arrasta-se por quase todo o filme, até o momento em que tanto Kate Macer quanto seu parceiro Reggie, vivido por Daniel Kaluuya, descobrem informações que buscam entender desde o início das operações. O roteiro de Taylor Sheridan tem certas complicações, mas abraça a história de Denis Villeneuve de modo abrangente.

Boas tomadas terrestres e aéreas ajudam a expressar a ideia de imensidão que é a Ciudad Juárez, que na vida real tem cerca de 2,6 milhões de habitantes e é considerada uma das mais violentas cidades do mundo. A trilha sonora, composta por Jóhann Jóhannsson, em alguns momentos, sai do suspense, de tão sombria e beira a um filme de terror. É um dos pontos altos do projeto, junto ao silêncio de algumas cenas, quase que exigido pela densidade do enredo.

A luz e a falta dela compõem muito neste filme. A busca pela naturalidade mostra uma proposta do diretor em mostrar o enredo de forma simples, sem muitos efeitos. Mesclar tomadas com imagens de câmera de segurança, fotos de arquivo da polícia e imagens de visão noturna também foram interessantes formas de perspectiva usadas para dar mais realismo à obra.

Emily Blunt dá à agente Kate Macy um ar assustado, agoniante e quase perdido em boa parte do filme. Poucos são os momentos em que a personagem se mostra segura do que está fazendo. Isto vai contra a imagem mostrada por Katy no começo do filme e dá a sensação de que talvez ela não estivesse preparada como achou que estava. Blunt conduz de forma transparente as expressões e dá conta do recado.

O Alejandro de Benicio Del Toro é misterioso e vai se abrindo com o desenrolar do filme. O ator consegue trabalhar muito bem o ar sofrido e calado do personagem. É quem mais se destaca na trama e já se fala em uma continuação de “Sicário’ focando em seu agente. O Josh Brolin de Matt Graver traz sarcasmo e humor sombrio à história como o líder da operação cheio de passos estranhos. O intérprete mostra versatilidade e bom entrosamento com o personagem.

Corrupção, ilegalidade, revoltas e impulsos em um filme denso com narrativa longa. Um final vingativo, um tanto inesperado que mostra o quanto o ser humano pode mudar levado por sentimentos de ira acumulados com o tempo. É preciso ir ao cinema despido de pudores e com estômago forte. “Sicário” é um tanto pesado e difícil de ser engolido por trazer ares pessoais a um assunto complicado como tráfico de drogas.

“Sicario: Terra de Ninguém”

Diretor: Denis Villeneuve
Gênero: Policial – Suspense – Ação
País: Estados Unidos
Ano: 2015
Duração: 122 min
Roteiro: Taylor Sheridan
Distribuidor: Paris Filmes

REVER GERAL
Bom
critica-sicario-terra-de-ninguemApesar da longa narrativa, o longa mostra de forma radical a operação sem esforços - e por que não dizer sem escrúpulos? - para desmantelar um cartel. Perspectivas pessoais dão à trama um ar doído e impulsivo.