Crítica: ‘Chatô, O Rei do Brasil’

Filme estreia depois de 20 anos de espera nesta quinta-feira, 19 de novembro, em 38 salas no país

Sabe aquela velha história de que quando se morre a vida passa diante de nossos olhos? O magnata das comunicações Assis Chateaubriand (Marco Ricca) se encontra nesta situação em “Chatô, o Rei do Brasil”, projeto dirigido por Guilherme Fontes, baseado no best-seller de Fernando Morais, lançado em 1994. A concepção usada pelo diretor para abordar a vida de um dos brasileiros mais questionados da história é bastante interessante e contemporânea, em se tratando do tempo que o projeto demorou a ficar pronto.

Depois de 20 anos de espera, entre controvérsias, rumores, medos, receios, entre outras situações, o filme chega aos cinemas nesta quinta-feira, 19 de novembro, com a participação do protagonista em um programa de TV chamado “O Julgamento do Século”, realizado justamente no dia de sua morte, em 4 de abril de 1968. E ele revê diversos momentos conturbados de sua vida, muitos deles que se misturam com a história do Brasil. Marcos Ricca dá humor, ironia, raiva, precisão, com sotaque e jeitão paraibano, ao personagem principal, com domínio de propriedade.

Marcos Ricca diverte no papel de Chatô. Filme é mais do que atual (Foto: Reprodução)

As três principais mulheres da vida de Chatô – Maria Eudóxia, Lola e Vivi Sampaio – interpretadas nesta ordem por Letícia Sabatella, Leandra Leal e Andréa Beltrão – ajudam a mostrar diferentes lados da vida do comunicador. O trio de atrizes se posiciona muito bem, em cenas bem colocadas, misturando diversos sentimentos. Destaque para Andréa Beltrão, que, literalmente, rouba a cena com sua Vivi Sampaio, quase sádica e calculista.

Marcos Ricca e Andréa Beltrão e a conturbada relação entre Chatô e Vivi Sampaio (Foto: Reprodução)

O longa mostra Chatô em uma ligação de parceria e ódio com o presidente Getúlio Vargas. Os dois garantem momentos impagáveis de humor, revolta e chantagem. Paulo Betti está na medida como o ex-presidente. Outra análise baseada em grandes rumores é mostrada no decorrer deste personagem. Se o espectador olhar com a atenção, será capaz de identificar as referências. E se notar também, é possível ver as mudanças físicas nos atores, já que as gravações se alongaram.

Paulo Betti como Getúlio Vargas, parte importante do entendimento do filme (Foto: Reprodução)

O filme tem um humor diferente do encontrado no cinema nacional, pelo menos nos últimos anos. É caricato em certas partes, mas mesmo assim, é altamente crítico. Critica o governo, a imprensa, as pessoas, as relação entre elas naquela época, a história da TV e da rádio, a entrada de capital estrangeiro no país e, acima de tudo, o mal da manipulação midiática (muitas vezes a favor de interesses pessoais) que se assola no país, desde aquela época. Mostra que Chatô não é apenas “o homem que trouxe a TV para o Brasil” e que, por trás de seus planos, havia muita difamação e porque não dizer, inteligência, já que ele quase sempre conseguia o que queria.

É preciso atenção para assistir “Chatô, O Rei do Brasil” e entender todas as propostas, metáforas, simbolismos e mensagens que se querem fazer transmitidas ali. Com uma narrativa nada linear e rápida, há passagens de tempo que se apresentam em cortes de cenas, o que deixa o filme bem dinâmico. Em falar em tempo, o roteiro é bem aproveitado, revisitando importantes eras da história nacional, o texto bem escrito, com diálogos fortes e diretos. Boa fotografia, boa trilha sonora (destaque para Letícia Sabatella interpretando “Fim de Caso”, de Dolores Duran, gravada em 1958).

A festa de lançamento da TV Tupi , a primeira emissora do Brasil (Foto: Reprodução)

Apesar de ter sido concebido há 20 anos, o roteiro e o texto expõem mais do que trechos que se encaixam na realidade atual. “Chatô, O Rei do Brasil” soa como um tapa na cara da sociedade, por mostrar que muito do que se reclama hoje em dia, teve início pelos anos de 1910. Parece que ao final, pode se notar a risada de Guilherme Fontes àqueles que criticaram seu projeto, que mesmo controverso, é analítico na medida exata e se faz necessário em tempos nos quais a imprensa, tão trabalhada por Chatô, se mostra perdida e extremamente moderna.

“Chatô, O Rei do Brasil”
Gênero: Drama – Biografia
Diretor: Guilherme Fontes
País: Brasil
Ano: 2015
Duração: 102min
Distribuidor: Milocos Entrenimento