Para fazer sucesso hoje no Brasil, um artista precisa, entre outras coisas, animar, entreter e colocar o público para dançar. E fazer tudo isso muito bem para continuar no topo. Pois Anitta captou bem esta mensagem desde o início de sua carreira, há três anos e mostra em “Bang”, seu terceiro CD – lançado na última terça-feira, 13 de outubro – que tem trabalhado muito para acertar e agradar e que sua mistura/transição de funk com o pop vai bem, obrigado.
O álbum é o primeiro após a cantora assumir o comando da própria carreira e a mudança pôde ser notada. Nele, Anitta experimentou novos estilos, como rap, eletrônico, black music, samba (estilizado), charme, além do funk (claro); mudou sua identidade visual (assinada por Giovanni Bianco); arriscou-se, acertou, errou e absorveu vários elementos do pop internacional, oferecendo mais opções de roupagem a este estilo em solo nacional e prosseguindo com o que ela e outros artistas vêm trabalhando: um novo estilo de funk. Um pop funk, um melody pop. Ou algo que nem tenha nome ainda. Talvez um funkpop.
Tiros altos e baixos de “Bang”
Os bons momentos do álbum são os que mais predominam, em relação aos não tão legais. “Bang” e “Deixa Ele Sofrer”, os dois primeiros singles do álbum, abrem os trabalhos com pop com pitadinhas (bem poucas) de funk. A onomatopeia que nomeia o CD pode até ser considerada mesmo como um tiro certo dela. Como já comentado antes, as escolhas da cantora em relação a este disco têm se mostrado boas, comercial e artisticamente falando.
Para “Bang”, a jovem cantora de 22 anos convocou cinco participações masculinas, que fazem parte dos momentos interessantes do projeto. “Cravo e Canela”, balada cantada em parceria com Vitin, do grupo Onze:20 exalta uma cinderela moderna, com um rap cheio de rimas interessantes, como “…você tão doce sobremesa feita de Nutella”. Se você estranhar isso, é porque ainda não viu boa parte das letras das músicas internacionais. Como estamos no Brasil, brinquemos com o idioma da forma que se pode.
“Essa Mina é Louca”, com Jhama (ex-Trio Ternura), é um samba estilizado com charme (tem até cuíca) é outra faixa com letra que aproveita bem várias frases, clichês e brincadeiras em português para montar algo interessante. Em “Gosto Assim”, ela propõe um duelo entre o funk do Rio e de São Paulo com o rapper Dubeat. “Sim”, cantada com o ConeCrew Diretoria, é um rap descompromissado com letra sensual e ao ouvi-lo, nem parece fazer parte do elenco de músicas já mostradas até aqui pela artista. Ponto positivo.
Possíveis hits e singles
As parcerias se fecham com “Pode Chegar”, gravada com Nego do Borel, com quem Anitta tem um show montado. Facilmente vai virar single, apesar de ser a letra mais fraca dentre as participações. Sobre as outras canções de “Bang”, seguem outros destaques: “Show Completo” tem jeitão de hit, refrão forte e paradinhas estratégicas e o melhor: é funk, por mais efeitos de som que tenha. Uma boa coreografia, daquelas que a cantora já lançou, jogarão a música para o sucesso fácil com o público.
“Parei” e “Atenção” são bem produzidas, com bases animadas que trazem muito de funk e letras que colocam Anitta no comando da situação em seus discursos. Lembram muito o estilo de composições do primeiro CD dela. “Me Leva a Sério” parece “Cobertor”, música que Anitta cantava com Projota em seu segundo disco, mas marca uma presença legal em “Bang”. “Deixa a Onda me Levar” é leve e está no elenco conceitual do CD.
Quanto aos momentos complicados do CD, um é nítido: em algumas faixas, devido à rapidez de como são cantadas, é um pouco difícil entender o que Anitta canta. As frases ficam enroladas e soam estranhas. Duas faixas poderiam ser facilmente descartadas: “Volta Amor” destoa totalmente do clima do álbum com um ritmo meio country animadinho demais. O CD passaria facilmente sem ela. Assim como “Eu Sou do Tipo”, com um discurso meio bobo, que não casa com o restante das músicas.
Em resumo, “Bang” tem faixas bem produzidas e mostram um lado mais maduro de Anitta, usando as fórmulas de letras que já faziam sucesso: empoderamento feminino, desilusões amorosas, homens sendo objeto e uma pitada de amor. Assim como todo CD, há erros, mas eles não tiram a qualidade do que é apresentado. Para quem gosta de pop, funk, enfim, de dançar, “Bang” tem boas opções. E uma coisa há de se admitir, Anitta tem se esforçado. Não é à toa que ela recebeu um elogio de Caetano Veloso recentemente, quando ele disse que ela é “tecnicamente (mas não só), a nova cantora brasileira mais dotada”.
Cantora de funk ou de pop? Ou os dois?
Muito embora ela seja criticada por “copiar estilo” ou determinada atitude de diversas artistas, vem buscando achar seu caminho. E, olhando para trás, dentro do cenário pop nacional, sempre tão confuso, nota-se que, atualmente, devido as suas influências, Anitta é o que há de mais próximo ao pop americano (com todas as suas influências de hip-hop, black music e outras vertentes musicais) que faz tanto sucesso no mundo todo, inclusive aqui. Além dos ritmos citados, ela usa o funk como um elemento musical.
Outros cantores e grupos, como KLB, Rouge, Br’oz, Kelly Key, Perlla, Naldo, Dominó e Polegar (lembram?) tentaram, mas o Brasil parece ter certa dificuldade de absorver o pop nacional e facilidade de assimilar o gringo. O pop nacional existe no Brasil, só não consegue se manter. E Anitta está conseguindo isso, justamente com o jeito internacional de produzir músicas, usar samples, cantar, usar raps, fazer parcerias. Anitta pode até abandonar totalmente o funk um dia, mas por enquanto, ela está sabendo usar suas raízes a seu favor.
Setlist do álbum:
- Bang
- Deixa Ele Sofrer
- Cravo e Canela (feat. Vitin)
- Parei
- Essa Mina é Louca (feat. Jhama)
- Atenção
- Gosto Assim (feat. Dubeat)
- Show Completo
- Volta Amor
- Sim (feat. ConeCrew)
- Pode Chegar (feat. Nego do Borel)
- Eu Sou do Tipo
- Deixa a Onda Te Levar
- Me Leva a Sério
- Deixa Ele Sofrer (Acústico)