Pedro Paulo Rangel comemora 50 anos de carreira com o monólogo ‘O Ator e o Lobo’

Temporada no Teatro Poeira, em Botafogo, começa no dia 12 de abril

Pedro Paulo Rangel em "O Ator e o Lobo" (Foto: Divulgação/Gisela Schlogel)
Pedro Paulo Rangel em "O Ator e o Lobo" (Foto: Divulgação/Gisela Schlogel)

Um dos maiores atores do Brasil celebra, em 2018-19, bodas de ouro com a profissão. Pedro Paulo Rangel, nascido no Rio de Janeiro, 70 anos redondos, escolheu comemorar as cinco décadas de carreira levando ao palco um projeto longamente acarinhado. A peça “O Ator e o Lobo” estreia em 12 de abril, no Teatro Poeira, com direção de Fernando Philbert. O espetáculo fez sua primeira temporada em março, no SESC Pinheiros, em São Paulo.

O monólogo com título fabulesco foi construído por Rangel e Philbert tendo por base os textos do português António Lobo Antunes, extraordinário escritor, ganhador do Prêmio Camões, cujo primeiro romance foi publicado há exatos 40 anos. Lobo Antunes verte uma prosa cálida, envolvente; uma narrativa que, sem que o leitor perceba, faz-se ouvir com clareza, por assim dizer. E esses textos agora ganham vida na voz e no corpo do ator.

“Parece que os textos de Lobo Antunes foram feitos para serem ditos. Ele cria situações, personagens, diálogos consigo mesmo… é instigante, um desafio. Difícil de fazer, mas muito gostoso”, explica Pedro Paulo.

Mas não apenas os escritos de Lobo Antunes compõem o espetáculo. Pedro Paulo Rangel, ele próprio um delicioso contador de histórias, um cronista, mescla alguns textos seus aos do escritor, costurando Brasil e Portugal, palco e livro, narrador e personagens. Atravessa também gerações: Lobo Antunes, família, seus antepassados e Pedro Paulo com sua ascendência portuguesa, os avós de coincidente sobrenome Antunes.

Foi de Fernando Philbert a ideia de inserir também alguns textos do próprio ator que resgata memórias pessoais e eventualmente envereda pela ficção.

“As histórias de Pepê, maravilhosamente contadas, se articulam com a voz de Antunes num conjunto de olhares sobre a memória, a família, a solidão. Fomos elegendo os textos. E é bom que, em certos momentos, a gente não saiba exatamente de quem é aquele trecho. É toda uma delicadeza, uma poesia”.

A relação de Pedro Paulo com a escrita é antiga; ele ressalta que, como o autor português, escreve e rasga muita coisa:

“Lemos mais de 300 crônicas. Fiquei paralisado com a ideia de colocar meus textos, mimetizar o Lobo Antunes. Mas acaba funcionando”, diz Pepê.

“Na abertura do espetáculo, a frase “Sou um homem que pensa noutra coisa” serve à perfeição, define esse jogo de espelhos peculiar aos homens de arte – conta Philbert, que apresentou Pedro Paulo Rangel aos textos de Lobo Antunes cinco anos atrás. – Aderbal Freire-Filho, meu mestre, foi quem trouxe esse escritor aos meus olhos. E quando vi Pepê em cena, ouvi aquela voz,… não deu outra: ele também se apaixonou pelo texto”.

Os 50 anos de carreira evocam, para Pepê, “muitas cicatrizes reais e imaginárias”. E uma nostalgia temperada com alguma amargura:

“Essa profissão [de ator] já foi viável, hoje não é mais. Sucessivos desgovernos, desimportância da educação e da cultura… mas repito sempre o que alguém, não sei quem, disse: somos condenamos à esperança”.

Num cenário frugal, de bancos e cadeiras, vestido com calça de garrafeiro, camisa e colete (“roupa de português”, diz), Pedro Paulo ainda contracena com projeções de fotos sobre o fundo acortinado. Mas é na interpretação do ator que ganham vida as dezenas de personagens. Desfilam a comunhão silenciosa de irmãos que fazem xixi lado a lado no jardim; o encontro amargo, dolorido, com um velho amigo no hospital; a histérica amante do Senhor Biscaia; o homem que espera uma mulher na chuva; os mortos que evidentemente não vão embora; o menino que foge de casa porque não queria comer abóbora; a mãe, seu amante de 20 anos e o filho estupefato; a surdez do avô Antunes, a surdez provocada por milhares de tiros de festim. “O Ator e o Lobo” entregam à plateia uma desconcertante humanidade.

“O Ator e o Lobo” no Teatro Poeira

Temporada: de 12 de abril a 2 de junho de 2019
Dias e horários: sexta e sábado, às 21h; e domingo, às 19h
Local: Teatro Poeira – Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro
Ingressos: R$ 70 (inteira) | R$ 35 (meia)
Vendas: site Tudus e bilheteria do teatro (de terça a sábado, das 15h às 21h; e domingo, 15h às 19h)
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (21) 2537-8053 | teatropoeira.com.br